O Bairro da Cadeia
Aspecto da Praça da Republica, em 1961 |
À medida que a população se foi
deslocando para o centro da vila e se construiu o “porto novo”, o “pequeno
rossio”, que era então a actual Praça da República, tornou-se, paulatinamente, no
centro de Aldegalega do Ribatejo.
No século XIX, a praça, além da
Igreja do Divino Espírito Santo, era ladeada, a poente, pela cadeia e um
conjunto de casas nobres e, a sul, pela Estalagem das Caleças (antiga Fábrica
TÓBOM). Ao conjunto edificado da cadeia e das casas nobres, que corresponde
hoje ao espaço ocupado pelo Banco Santander Totta até ao antigo Centro de
Convívio de Reformados, denominava-se Bairro da Cadeia. Entre o Bairro da
Cadeia e o actual Mercado Municipal, encontrava-se o açougue e a eira pública.
A Praça era o local privilegiado para
a realização de festas, de cunho sagrado ou profano, como as festas do Divino
Espírito Santo e de outras confrarias, e para a realização de mercados.
Em 1839, estabeleceu-se o mercado das
hortaliças e, prosperando também o mercado suinícola, a Câmara Municipal de
Aldegalega deliberou proibir que “os porcos fossem expostos ou demorados nos
sítios da Praça, Cadeia e Caleças”, isto é, os três sítios que constituem,
hoje, um todo denominado Praça da República.
Em 1850, a actual Praça da República
estava por empedrar, era percorrida por carroças, algumas caleças e assaltada
pela vozearia dos comerciantes. A dois passos dali, no então edifício da câmara
municipal (actual galeria municipal) funcionava, no rés-do-chão, o mercado de
peixe e, no primeiro andar, o Tribunal e a Câmara Municipal.
O adro da igreja e o seu interior
continuavam a servir de cemitério da vila.
Foi, em meados do século XIX, que se começou a
desenhar, de modo mais sólido, a fisionomia da Praça da República.
Em Abril de 1853, a Câmara Municipal
de Aldegalega deliberou proceder à plantação de árvores, realizou obras e
proibiu a passagem de «carros, carretas, cavalgaduras maiores ou menores ou
gado de qualquer espécie pelo terreno da praça de novo aterrado e terraplanado»
com o fim de dar à Praça «um aformoseamento tal que com comodidade e segurança
na mesma se pudesse transitar e passear, sem se incorrer no perigo iminente de
ser atropelado.» A questão do trânsito, da segurança e do “excesso” de velocidade
é um problema antigo…
Por essa altura, já estava construído
o imponente imóvel de António Pereira Duarte (Praça/R. Alm. Cândido dos Reis).
Na linha das obras que vinha
realizando, a câmara deliberou, em 1867, vender o edifico da cadeia e construir
uma nova. O edifício foi adquirido por António Máximo Ventura e, mais tarde, o
seu filho, Cândido José Ventura, ali construiu um admirável chalé, que foi
demolido em 1993. A cadeia situava-se na esquina da Praça da República/R.
Guerra Junqueiro.
Em 1869, foi construído o primeiro
coreto, todo em madeira, por iniciativa da Sociedade Filarmónica 1º de
Dezembro, que se degradou e foi substituído, trinta anos depois, por outro em
ferro, construído por subscrição pública e colocado “no pequeno largo
fronteiriço à R. Direita, largo que faz parte da Praça Serpa Pinto.” Por essa
altura, já a Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro tinha ali a sua sede, no
local que hoje se conhece.
O primitivo topónimo do lugar foi Praça
Serpa Pinto, em “homenagem e agradecimento ao explorador pela maneira briosa
porque sustentou a honra e o nome de Portugal nas longínquas paragens
africanas.”
A Praça da República foi a jóia da
Vila de Montijo. Mercado, centro cívico, local de convívio, centro nevrálgico
do pequeno mundo aldeano, transformou-se, nos últimos anos, em peça de
pechisbeque tão maltratada tem sido. Quem a conheceu chora, hoje, a saudade da
sua harmonia. Cada fachada da Praça da República guarda uma história, que será
contada mais tarde.
Ruky Luky
Mais uma bela achega para a construção da história de Aldeia Galega / Montijo, bem documentada e por isso precisa. Em relação ao Largo, hoje Praça da República e anteriormente Praça Serpa Pinto, podemos acrescentar que no edifício onde hoje é o BES, funcionou a Escola Secundária de Aldeia Galega (1882-1906) e também o Colégio Almeida Garrett nos primórdios do séc. XX, que era dirigido por um filho do Prof. Manuel Neves Nunes de Almeida. O Prof. Nunes de Almeida, que tem uma rua no Montijo com o seu nome, à data do fecho da Escola, era o proprietário do prédio e nela foi professor e director entre 1884 e 1904.
ResponderExcluir