SANTA
ANA, A VIRGEM E O MENINO
Montijo e Tanto Mar
sábado, 13 de dezembro de 2014
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
PORTUGAL PITORESCO E MONUMENTAL…EM MONTIJO
domingo, 7 de dezembro de 2014
PORTUGAL A DANÇAR…NO MONTIJO
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Portas de Montijo
Uma
pequena colecção para memória futura
terça-feira, 18 de novembro de 2014
A REABILITAÇÃO URBANA NA CIDADE DE MONTIJO
A REABILITAÇÃO URBANA NA CIDADE DE MONTIJO
COMEÇA MAL?
sábado, 15 de novembro de 2014
Eu sei, Regina, eu sei...
sábado, 6 de setembro de 2014
A Feira do Porco 2014
ACÁCIO
DORES, A MONTIAGRI
E A
FEIRA DO PORCO
A 22.ª Feira Nacional do Porco decorrerá, em Montijo, entre os dias 26 a 28 de Setembro, no recinto da Montiagri |
A 22.ª Feira Nacional do Porco
decorrerá, em Montijo, entre os dias 26 a 28 de Setembro, no recinto da
Montiagri, também denominado Centro de Exposições (Acácio Dores?). Ainda não
houve grandeza dos autarcas para isso.
Segundo a Federação Portuguesa
de Associações de Suinicultores (FPAS), entidade organizadora, «a edição deste evento reunirá no Montijo
toda a fileira da carne de porco, desde a produção de alimentos compostos para
animais até à indústria de abate e transformação, passando pela produção e
actividades afins (genética, consultoria, laboratórios de análise, fabricantes
e distribuidores de produtos médico-profiláticos, projetistas, fabricantes de
equipamentos, etc).»
A FPAS regista a rápida adesão
das mais importantes empresas sector o que permitiu que em quatro semanas se
tenha esgotado a capacidade do “Pavilhão Profissional”.
A Feira do Porco foi
instituída, em 1986, pela Câmara Municipal de Montijo em colaboração com a FPAS.
Com a realização da feira, o
executivo de coligação PS/PSD, liderado por aquele partido, punha termo à
Montiagri- Feira Industrial, Comercial e Agro-pecuária de Montijo, optando pela
especialização do evento.
Esclarecia a autarquia que «a feira, sob a liderança de Mendonça
Tavares, Presidente da Comissão Executiva, será específica do porco e abrange
todos os aspectos técnicos inerentes ao seu ciclo de produção, comercialização,
industrialização, consumo e, consequentemente, à sua manutenção higiénico-sanitária.»
A FPAS regista a rápida adesão das mais importantes empresas sector o que permitiu que em quatro semanas se tenha esgotado a capacidade do “Pavilhão Profissional”. |
Desde então, a Montiagri tem
hospedado regularmente a Feira Nacional do Porco, isto é, a Feira do Nacional
do Porco realiza-se, em Montijo, porque existe o recinto da Montiagri e devido
ao empenho inicial de Mendonça Tavares e Primo Jaleco, então Presidente da
Câmara Municipal.
O recinto da Montiagri patenteia,
hoje, uma pálida ideia do que foi.
Após 17 anos de gestão
socialista, o recinto foi transformado em local de armazenamento de sucata e de
oficina municipal, sem qualquer resguardo ou projecto para a sua adaptação às
novas funções. E tão degradado está o recinto, que a Feira do Porco já correu
sérios riscos de ali se não realizar.
O PS começou por ser um estrénuo
crítico da realização da Montiagri, mas acabou por revelar que, afinal, não
tinha qualquer projecto para aquele recinto – nem para o Concelho.
Foi na reunião
da Câmara Municipal de Montijo, de 17 de Setembro
de 1980, que Acácio Dores, então Presidente da
Câmara Municipal, apresentou a proposta da empresa ARTISOM para a realização de
uma grande mostra das actividades industriais, comerciais, agrícolas e
pecuárias do concelho, a concretizar-se, pela primeira, no ano seguinte.
A
proposta, que tinha por suporte «as
elevadas potencialidades económicas do concelho e a projeção que uma grande
feira poderá dar ao nome de Montijo, tanto a nível nacional como
internacional», foi aprovada com os votos favoráveis da APU e do PSD e a
abstenção do PS.
Na
mesma reunião, foi nomeada uma Comissão Executiva, constituída pelo vereador em
regime de permanência, Eng.º Rogério Cordeiro, pelo Chefe dos Serviços
Técnicos, Eng.º Maldonado Pires; pelo Tesoureiro Municipal, senhor Custódio
Moreira e pelo Chefe dos Serviços de Higiene e Limpeza, senhor Manuel Mourato.
Em
comunicado à população, a câmara municipal elucidava que «Para demonstração cabal e expressiva das verdadeiras potencialidades
do nosso concelho, da capacidade de iniciativa e espírito empreendedores dos
seus naturais, vai realizar-se, por iniciativa desta Câmara, de 17 a 28 de
Setembro do próximo ano, a MONTIAGRI/81 – 1.ª Feira Industrial, Comercial e
Agropecuária do Montijo, que constituirá uma verdadeira mostra das actividades
laborais da região.
Pretende-se assim demonstrar, pela projecção que se
pretende ar à MONTIAGRI/81, o Montijo de hoje – o Montijo moderno,
industrializado e já com um grande peso na economia nacional, em suma, o
verdadeiro Montijo.»
Para
a edificação da feira, previa-se, então, um investimento de 10 164 093$00 e uma
receita de 4 045 900$, sendo os investimentos recuperáveis no valor de 8 235
690$00, donde resultaria um saldo positivo de 1 977 403$00.
Inicialmente, a instalação da feira
esteve prevista para um terreno com cerca de 1,5ha localizado no topo norte da
Avenida Luís de Camões, mas a câmara municipal acabou por adquirir outro, junto
à Praça de Touros, com 4 ha, onde efectivamente se construiu a feira.
A aquisição daquele terreno consolidou a ideia da
realização da 1.ª Feira Industrial, Comercial e Agropecuária de Montijo, e, por
outro lado, dotou o local de infra-estruturas, que se revelaram úteis a realizações
futuras, mormente, à chamada «Feira da Ervilha.»
A MONTIAGRI/81, em si, acabou por ocupar uma área
total de exposição de cerca de 34.00 m2, que acolheu 140 stands cobertos, uma
área coberta com cerca de 1.800 m2, onde foram implantados 64 stands, um pavilhão
para exposição de animais e toda a gama de produtos de alimentação e apoio
médico-sanitário à pecuária e cerca de 5.000 m2 ao ar livre, para maquinaria
pesada (máquinas e alfaias agrícolas, camiões, empilhadores, etc.), cerâmica e
pré-fabricados. A área livre da feira, composta por arruamentos e zonas verdes
ocupava cerva de 16 576m2.
A feira dispunha de serviços de apoio, mormente, de
Secretariado, do Posto dos CTT, Sala de Colóquios, Restaurante e Bar.
Ultrapassando as melhores expectativas, a Montiagri –
1.ª Feira Industrial, Comercial e Agropecuária de Montijo, a única
no género no Distrito de Setúbal, como reconheceu o Governador Civil, recebeu 157 expositores, representando actividades tão
diversas como a agro-pecuária, a cortiça, serviços, material para a
agricultura, mobiliário e decoração, construção civil e indústrias diversas, e
60.000 visitantes.
O anúncio da realização da feira deu azo a um
acalorado debate, em Montijo.
Augusto
Barbosa, que o assinou com o pseudónimo Aldeano, defendeu, nas páginas da
Gazeta do Sul, que a MONTIAGRI vinha com um atraso de
20, de 30 ou
40 anos, e que «a
or-ganização de uma Feira-Exposição nos moldes em que se
anuncia a MONTIAGRI/81 devia ter-se processado
a partir do momento em que Montijo começou, efectivamente, a pesar na balança económica do País pelas suas
realizações em vários sectores, dos quais se destacam, como sabemos, as carnes, a cortiça, a cerâmica, etc.»
Por outro lado, reconhecia que «as
exposições, do género da Montiagri não se costumam fazer apenas para mostrar que as
coisas existem, que os industriais estão
cá, que as empresas atingiram já, algumas,um desenvolvimento notável, mesmo de
nível CEE — caso Isidoro
— etc., mas devem traduzir uma finalidade
útil que se desdobra, pelo menos, em duas direcções: a
de permitir uma «informação» viva e actuante sobre os sectores em exposição, e a de conseguir, pelo
conhecimento mútuo, a abertura de novos
horizontes a uma colaboração que, por um lado, se impõe nos modernos rumos da actividade económica e, por
outro, económica e, por outro lado, pode resultar num dado de importância para o crescimento económico das
actividades interessadas e da região em que as mesmas se implantam.»
E concluía o articulista: «Parece-me necessário e conveniente que esta realização, importante e
significativa, seja encarada como
«realização comum», como mostra colectiva das potencialidades do
concelho, e nela se não venham a encontrar
quaisquer motivos que por isto ou
por aquilo se prestem à especulação política,
em que somos danados.
O que se torna imperioso, e útil, é que realizações deste tipo façam escola, e se repitam, na condição de que, real e efectivamente, se repercutam
como acções dinamizadoras tendo em vista
o crescimento, não apenas do PIB, mas do bem-estar da comunidade. Que é coisa diferente do mero crescimento da
economia.»
Os
propósitos enumerados por Augusto Barbosa acompanhavam os princípios e os
trilhos que a realização da Montiagri previa seguir, porque, como declarou o seu
instituidor, Acácio Dores: «A MONTIAGRI existe
porque convicta e honestamente pensámos que a valia do nosso concelho no
quadro da economia portuguesa legitimaria a existência duma feira em Montijo e
que essa feira poderia ser um instrumento muito útil para um maior
robustecimento e expansão das actividades
económicas do concelho, com todos os benefícios daí advenientes para os trabalhadores
e empresas. Sempre pensámos que não devia haver qualquer divórcio entre a
Autarquia e os agentes económicos e que a MONTIAGRI poderia ser exactamente a
ponte entre as duas partes. É evidente que sem a cooperação dos empresários
montijenses dificilmente a MONTIAGRI poderá vir a ser o instrumento que
idealizámos. Caberá aos nossos empresários reflectirem e imbuírem-se de
espírito cooperante para que as suas empresas possam ter a dinâmica e o
progresso consonantes com os seus próprios interesses.»
A
realização da MONTIAGRI/81 não foi também um acontecimento pacífico.
«Por
razões até curiosamente contraditórias, a iniciativa não concita a opinião
favorável da unanimidade dos nossos conterrâneos. Uns vêem nela uma manobra de
oportunismo político, porventura de sinal conservador e pendor capitalista;
outros uma forma de despender o já tão escasso dinheiro municipal, senão inutilmente
pelo menos com prejuízo de outras obras mais necessárias para a população; e há
ainda quem a critique depreciativamente sem qualquer razão, só porque ela
existe.
Mas a divergência
de opiniões, salutar e encorajadora, sobretudo quando aceite de consciência
tranquila, como um desafio que se assume em prol da comunidade.» Reconhecia,
assim, Acácio Dores o percurso da Montiagri, em vésperas do acto inaugural.
Entre
as vozes polémicas que se levantaram contra a realização da Montiagri avultou a
do Partido Socialista, que afirmou: «Embora se considere interessante a
iniciativa de criar no Montijo uma feira agro-industrial (Montiagri),
consideramos que as condições financeiras do Município não nos permitem
satisfazer, ao mesmo tempo, determinados caprichos, próprios de uma
administração de direita ou liberal, e completar as infra-estruturas primárias
dos bairros da periferia da Vila e zonas rurais.
Em comunicado, reforçava as suas críticas afirmando
que «O Partido Socialista considera que a
maioria APU na Câmara, em colaboração com as forças de direita, investiu
dezenas de milhares de contos, em prejuízo das populações mais carenciadas.
Estamos certos que a estratégia seguida pela A.P.U., em colaboração com a
direita democrática, não vai ao encontro das primeiras necessidades do
concelho, pelo que a sua conduta não pode merecer o apoio das classes
trabalhadoras.»
Porém, face ao êxito que se adivinhava, os socialistas,
pela pena do seu presidente concelhio, José Bastos, emendaram o discurso e
reconheceram que: «Nós
socialistas não desconhecíamos que a Montiagri ia ser um êxito, pois conhecemos
bem as potencialidades do concelho, isto é tanto verdade, que fomos nós que
alvitrámos que a feira se fizesse naquele local, quando o Sr. Presidente nos
propôs um outro local com menos de 1,5ha.(…).
Tínhamos dúvidas
isso sim, era se tudo ficaria pronto a tempo da feira funcionar em Setembro, o
que foi conseguido graças à vontade política tanto do Sr. Presidente da Câmara,
como dos seus colaboradores mais próximos. (…).
Agora que a feira é
um facto consumado e o dinheiro está gasto, julgamos que a feira tem que
continuar, pois constitui um factor de progresso para as actividades económicas
do nosso concelho.»
Isto
é, a Montiagri passara a ser encarada pelos socialistas como « factor de progresso para as actividades
económicas do nosso concelho.»
A
MONTIAGRI, se agitou de um modo são o tecido social e económico do concelho,
perturbou vivamente as mentes mais conservadoras e paroquianas, que se
atemorizaram com a inovação e a grandeza do projecto idealizado e concretizado por um comunista, porque vinha
baralhar a aritmética eleitoral, atendendo à boa recepção da população em
geral.
Isto
mesmo confessava o presidente da comissão política do PS de Montijo: «Para sermos francos temos que dizer que não
compreendemos a razão da opção do Sr. Presidente da Câmara, que sendo de
filiação partidária comunista, entusiasmou-se por um projecto que nem de perto
nem de longe se coaduna com a ideologia do seu partido, defesa das classes mais
desfavorecidas.»
Do
lado social-democrata levantou-se a voz de José Henrique Cardoso para quem a
MONTIAGRI foi «brilhante e lamentável, um
atentado aos direitos dos cidadãos. Como industrial sinto-me encantado, como
munícipe e autarca estou absolutamente contra.»
Opinião
diferente expressou o empresário Manuel Paiva: «Só tenho a
louvar esta bela iniciativa. Congratulo-me como comerciante e sobretudo como
montijense que sou, por tão louvável empreendimento.
Foi uma ideia
arrojada, direi até atrevida – passe o termo – mas que beneficiou todos os
habitantes, mas principalmente os comerciantes da minha terra.
Sinto-me
regozijado e volto a louvar a audácia e a coragem desse homem que meteu ombros
à melhor coisa que aconteceu no Montijo nos últimos anos.
A Montiagri
chegou na hora exacta e é uma realidade de que todo montijense se deve
orgulhar.»
Entre
a saudável polémica e o aplauso popular, o jornal Gazeta do Sul endereçava os
parabéns ao «Presidente da Câmara do
Montijo, Sr. Acácio Dores, o principal impulsionador desta realização.
Conseguiu, em nosso entender, o objectivo principal a que se propunha a
Montiagri/81 – revelar toda uma potencialidade económica do Concelho.
Pode dizer-se que a
Feira partiu do nada para chegar a esta imponência que está diante dos nossos
olhos.»
Anos
mais tais tarde, ao ser entrevistado, Acácio Dores reconheceu:
«Há uma obra feita no meu mandato que me deixa satisfeito: a Montiagri,
feira agro-pecuária, comercial e industrial do Montijo.
Foi idealizada e construída neste mandato, houve que fazer toda a rede de
saneamento e os arranjos em volta. A feira foi inaugurada em 1981 e convidámos
para presidir à cerimónia o então Presidente da República, António Ramalho
Eanes. Ele não quis vir à inauguração mas foi visitá-la mais tarde. Acho que
foi o primeiro Presidente da República a visitar o Montijo.
A Montiagri foi uma ‘pedrada no charco’. Na altura eram poucas as localidades
com feiras deste género e nós apostámos naquele pólo de desenvolvimento porque
fazia falta num concelho com grande importância ao nível da cortiça, da
agricultura, da suinicultura, da transformação de carnes, da cerâmica de barro
vermelho, e do fabrico do pré-esforçado.
Foi uma
obra bastante importante e a prova disso é o facto da Montiagri continuar a
ser, nos dias de hoje [2002], um ponto de referência nacional.»
A pena brilhante do Dr.
Avelino da Rocha Barbosa, que tão cáustica tinha sido para com a Montiagri, sintetizou,
assim, o evento:
«A MONTIAGRI/81 passou por esta terra como um furacão.
Desencadeou aplausos, júbilos, euforias, dúvidas, críticas, despeitos, invejas,
frustrações, ataques por vezes violentos, louvores por vezes desmedidos. Atirar
uma pedra no charco levanta sempre muitas ondas. Nas margens serenas do anonimato e da inércia algumas
plantas mais frágeis e delicadas vergam ao insólito do vendaval inesperado, por
desusado.»
Hoje, o Montijo tem um recinto, que custou cerca de 150 mil euros, capaz
para receber condignamente os mais diversos eventos, assim alcancem competência
os nossos autarcas.
Um dia, um Homem agigantou-se e a Montiagri ergueu-se.
Grande demais para alguns pigmeus que depois a tomaram.
Obrigado, senhor Acácio Artur Soeiro Dores.
A nossa simples homenagem no 1.º aniversário do seu
passamento.
Ruky Luky
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