quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Jornais de Montijo

Subsídios para uma Cronologia

Não se publica um jornal em Montijo.
Ao longo de mais de cento e vinte anos, Montijo teve o seu semanário, apesar de todas as dificuldades que acompanham a edição dum semanário, por mais simples que seja.
Os jornais, em Montijo, conviveram com monárquicos e republicanos, com fascistas e democratas, mas não sobreviveram ao garrote político do cinismo político.
A história do jornalismo em Montijo revelará como, nos anos de Abril, os comunistas souberam respeitar a liberdade de imprensa, enquanto que os socialistas a torpedearam. É uma página escura que um dia não deixará de ser escrita.
Apresenta-se agora ao leitor uma relação dos jornais publicados em Montijo, embora lacunar.



O primeiro jornal, de que há notícia, publicado no actual município de Montijo, que já se chamou de Aldeia Galega do Ribatejo ou Aldegalega, intitulava-se «Jornal de Aldegalega do Ribatejo - Semanário dedicado à defesa dos interesses dos concelhos que compõem a comarca» e foi publicado em de Junho de 1886. Desconhece-se a existência de qualquer exemplar e o período de publicação. Em Outubro de 1888, foi publicado o jornal «A Comarca», de que se ignora também a periodicidade e a existência de qualquer exemplar. O jornal voltará a ser editado (II série) entre 1900 -1913. Dirigiu o jornal António Saturnino d’Almeida. 
As actas das sessões da Câmara Municipal de Aldegalega, de 1890, referenciam a existência do «Clamor da Pátria», cujo proprietário foi Aniceto José Rodrigues. Nada mais se sabe deste jornal.
A Biblioteca Nacional conserva o primeiro exemplar do jornal «O Aldegalense - Semanário Político, Noticioso, Literário e Recreativo», publicado em 8 de Setembro de 1895. A sede do jornal localizava-se na R. da Cruz, n.º 23, em Montijo. Jacinto Pedro Oliveira foi director, proprietário e editor e esclareceu, ao lançar o primeiro número do periódico, que «Aldegalega estava sem um representante na imprensa».Quatro anos resistiu «O Aldegalense», em Montijo. Em 19 de Março de 1899, transferiu a sede para Lisboa e o novo editor, José Tomás Lopes, extinguiu o título porque «o nome de O Aldegalense parece encerrá-lo nos estreitos limites desta povoação.» O novo jornal passou a denominar-se «O Ribatejo».
Em 1898, foi publicado o jornal «A Voz do Povo», «Semanário Noticioso e Literário: defensor dos Interesses Locais de Aldegalega e Sua Comarca», cujo director foi J.L. d’Oliveira. São escassas a notícias deste semanário.
No princípio do século XX, em 21 de Julho de 1901, passou a ser editado «O Domingo - Semanário noticioso, literário e agrícola». No sétimo ano da sua publicação, num momento em que os republicanos ganhavam forte influência em Aldegalega, o jornal assume a matiz republicana passando a subintitular-se de «Semanário Republicano Independente». Após a Revolução de 5 de Outubro de 1910, corria o ano de 1911, o jornal assumiu-se como «Semanário Republicano Radical».
Até 15 de Agosto de 1920, data do último jornal, foi proprietário e editor, José Augusto Saloio, figura proeminente do Partido Republicano Português. A sede do hebdomadário localizava-se na R. da Cruz.
Jornal de cariz ideológico republicano a partir de 1908, contou com a colaboração, entre outros, de Cipriano Salgado Júnior, Manuel Tavares Paulada e Luciano Fortunato da Costa, figuras gradas do republicanismo em Aldegalega.
A colecção completa do jornal foi adquirida pela Câmara Municipal de Montijo à neta de José Augusto Saloio.
A Biblioteca Nacional tem em depósito números avulsos desta publicação, mas desconhece-se outra colecção tão completa quanto a do Município montijense.
Em 1 de Julho de 1909, na Vila de Canha, foi publicado «A Victória», jornal republicano para fins beneficentes.
Após a implantação da República [5 de Outubro de 1910], o jornal «O Domingo» assumiu-se como «Semanário Republicano Radical», como já se registou, e surge o primeiro jornal de propaganda mutualista, «A Desafronta - Folha semanal, noticiosa e de propaganda mutualista», que foi publicado por José Teodósio da Silva, proprietário e redactor, entre 1 de Outubro de 1912 e 10 de Novembro de 1912.

Em 17 de Novembro de 1912 publica-se o «Povo de Aldegalega», semanário de propaganda mutualista, que substituiu «A Desafronta», extinguindo-se em 11 de Maio de 1913. A radicalização da vida política republicana e a secessão operada no Partido Republicano Português originou o aparecimento do Partido Democrático [Afonso Costa] e do Partido Evolucionista [António José de Almeida], para só se citar os dois que tiveram maior projecção em Montijo. Aldegalega testemunhou, então, o aparecimento do jornal «Evolução», que se apresentou como «Semanário do Centro Republicano Evolucionista 31 de Janeiro», em 8 de Novembro de 1913, e na segunda fase, iniciada a 7 de Outubro de 1917, passou a ser o “Órgão do Partido Evolucionista Local”. Foi seu proprietário e editor Álvaro Tavares Mora e director António Rodrigues Caleiro, figura grada do republicanismo, em Montijo, e pena sempre pronta para a polémica com os adversários políticos. O último número conhecido do jornal é de 1919.
Ignora-se a data da fundação do jornal «A Razão - Semanário do Partido Republicano Português». Publicou-se, pelo menos, entre 1916 e 1923. Dirigiram «A Razão», entre outros, Joaquim Maria Gregório, Dr. Manuel Paulino Gomes, Manuel Tavares Paulada e o Dr. Gabriel da Fonseca. No sexto ano da sua publicação subintitula-se “Jornal Independente Defensor dos Interesses da Comarca” e, no ano seguinte, “Órgão das Comissões Políticas do Partido Republicano Português de Aldegalega Defensor dos Interesses da Comarca” e em 8 de Abril de 1923, “Jornal Republicano Radical”.
O jovem Joaquim serra, que se viria a revelar um dos mais proeminentes intelectuais de Montijo, publicou o jornal manuscrito «A Mocidade – Semanário Republicano Democrático», entre 4 de Abril de 1920 e 9 de Abril de 1922.
«A Liberdade - Semanário» foi o título que o Dr. Paulino Gomes, dirigente do Partido democrático em Aldegalega deu ao jornal que propugnava pelas ideias de Afonso Costa. O primeiro número foi editado em 5 de Outubro de 1921 e o último em 28 de Setembro de 1924.
Para celebrar a travessia do Atlântico Sul, foi publicado, em Montijo, em 18 de Junho de 1922, o jornal «Lusitânia», número único comemorativo do feito heroico realizado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Foi director, Francisco da Silva Jr., e editor: Álvaro Zeferino de Campos Valente.
Em 10 de Fevereiro de 1924, foi editado «O Sport – Quinzenário desportivo», dirigido por Alfredo R. Taborda.
Antes da mudança do nome do concelho, foi apresentado o jornal «Montijo – Semanário Republicano de Propaganda e Defesa dos Interesses de Aldegalega», em 30 de Março de 1930. O jornal extinguiu-se em 20 de Setembro de 1931. Foi seu proprietário, Renato Augusto Soares Homem, administrador, Frederico Ribeiro da Costa, e director, João António Xavier Lopes.

A «Gazeta do Sul – Semanário Regionalista» começou a ser publicado em 1 de Julho de 1930, em Vendas Novas, mudando a sede para Montijo em 1935. Foi extinto em Junho de 1990. Foi fundador e primeiro director, Alves Gago.
No dia 20 de Dezembro de 1931, Joaquim Serra lançou «A Ideia – Semanário Republicano». Encerrou-se em 12 de Junho de 1932. Não resistiu à doença prolongada e à morte do seu fundador.
«A Minha Terra – Mensário Defensor do Progresso e Engrandecimento da Freguesia de Canha», foi editado em Outubro de 1931. Ignora-se a data da extinção. Foi proprietário, editor e director, Artur Jesus Oliveira.
«Notícias do Montijo – Semanário Regionalista» foi publicado entre 6 de Março de 1932 e 12 de Junho de 1932. Foi proprietário, Eduardo Lopes; editor, Passos de Figueiredo; e director, Teodoro da Silva.
«Montijo – Semanário Republicano Regionalista», dirigido pelo Dr. Manuel Paulino Gomes, foi publicado entre 26 de Junho de 1932 e 23 de Abril de 1933.
«Jornal de Montijo», foi o título que Júlio Ferreira. Administrador; Alfredo Oliveira, director; e João Lopes, redactor, deram ao jornal publicado entre 16 de Junho de 1933 e Novembro de 1933 (?).
«A Verdade – Jornal dos Novos», 1933. Director (es): Rui Alberto e Joaquim Capela.
«Notícias de Montijo – Semanário Regionalista», 1933. Propriedade da Empresa de Publicidade dos Sul. Director: Eduardo Lopes.
«A Ideia – Semanário Republicano do Montijo (IISérie)» projecto de António Rosado para dará continuidade à obra de Joaquim Serra. Publicou-se entre 20 de Maio de 1934 e 25 de Novembro de 1934.
«Desporto e Recreio – Boletim Comemorativo do 23º Aniversário do Onze Unidos Futebol Clube». 16 de Julho de 1946.
«O Ateneu». Propriedade do Ateneu Popular do Montijo. Director: Cosme Benito Resina. Publicou-se, pelo menos, entre 1947 e  1951.
«Boletim da Comissão Pró-Casa da Criança». Junho de 1953 – Novembro de 1962.
«Alvorada – Órgão Trimestral da Cultura Religiosa de Jovens Baptistas Para A Mocidade». – Junho de 1948. Director: Eduardo L. Martins.
«A Província» 3 de Março de 1955 – 1956. Director(es): V.S. Mota Pinto e Álvaro Valente.
«Despertar – Boletim Paroquial de Montijo». Dezembro de 1955 – 1958. Trimestral. Director: Prior do Montijo.
«Pátria Amada – Jornal dos Centros da Mocidade Portuguesa da Escola Industrial e Comercial do Montijo».  1960.

«Estrela – Jornal do Estrela Futebol Clube Afonsoeirense». 1976.
«Vida Social – Quinzenário ao Serviço da Nação, da Democracia, do Povo e da Liberdade». 1980. Proprietário e Director: Mariano Pereira.
«Aldeia Galega». 1985. Propriedade: Ateneu Popular do Montijo. Directora: Rosália Marques.
«O Congresso – Jornal do II Congresso dos Municípios com Portos e Actividades Piscatórias». Setembro de 1988 – Maio de 1989. Propriedade: Câmara Municipal do Montijo.
«Nova Gazeta». Junho de 1990 –[?] . Propriedade: Sociedade Gráfica do Sul, C.R.L. Directores: Orlando Curto, Avelino Rocha barbosa, Rocha barbosa e Luís Luizi.
«Manta de Retalhos – Órgão da Comissão Executiva da Semana da 3ª Idade». Maio de 1991.
«O Desportivo do Montijo – Revista do Clube Desportivo do Montijo» Março de 1993. Director: Artur Lucas.
«Local Montijo». Março de 1992. Director: Eduardo Bandeira Martins.
«APONTE – Semanário do Distrito de Setúbal».30 de Outubro de 1992 – 26 de Fevereiro de 1993. Director: José Henrique Cardoso.
«Ardina – Jornal da Escola Secundária nº1». Dezembro de 1992. Substituiu o jornal Maré começado a editar em 1988.
«Notícias de Montijo». 12 de Fevereiro de 1999 – [?] Director: Alcídio Torres.
«Jornal do Montijo». 1999 – . Director: Alves Rito.
«Gazeta do Montijo». Dezembro de 2012. Director: Mário Silva. Mensário.
«Nova Escrita». 2012. Directora: Rosário Pinto.












Ruky Luky

domingo, 15 de setembro de 2013

Álbum de Família

Gente da Nossa Terra
Mão generosa ofereceu-nos um conjunto de fotografias, que pertencera a uma conhecida família montijense.
São fotografias de estúdio, tiradas em Lisboa, no final do século XIX, em trajos domingueiros, que nos mostram os figurinos dos nossos antepassados e, por outro lado, revelam aspectos da fotografia em si.
Com um perfume romântico, as fotografias têm o condão de nos conduzir até à velha Aldegalega do Ribatejo e lembrar alguns nomes que, ainda hoje, ecoam na memória de Montijo.

Reproduz-se a identificação mencionada em cada uma das fotografias.


Gertrudes, mulher do Eduardo.                                    Elvira Ventura.
Gémeas?


Bernardino Ventura.

Carolina, sogra do Ventura.

A minha amiga ofereceu-me o seu retrato no dia 3 de Setembro de 1913.
Fotografia centenária.

Perpétua Caldeireiro.


José Caldeireiro.

Elizia (Elisa?) Augusta Mendes. 28 de Maio de 1898.


José do Vapor.

Eugénia de Sousa.
José Silva.
(Músico da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro?)



Emídio Rato.

Maria Cândida e Ana Rita Pombinha.

Cândida Pombinha e Francisco da Silva Sampaio Pombinha (2 anos de idade)


Ruky Luky

















































































terça-feira, 10 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Atalaia

Factos e Tradições


Aparição da Imagem – Segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a imagem apareceu junto duma aroeira existente perto de uma pequena nascente de água. A imagem foi então conduzida para uma pobre moradia, no cume do outeiro, e colocada numa cantareira, e ali lhe prestaram culto.
Ecoando a notícia da aparição concorreu imenso povo que, com as suas ofertas, construiu uma pequena ermida. A imagem foi então posta no altar novo, mas, para surpresa de todos, no dia seguinte, foram encontrá-la na cantareira. Como se o facto se repetisse, os devotos mandaram fazer uma imagem mais pequena, que foi colocada no novo altar, permanecendo a antiga na cantareira.
Diz o Pe. Manuel Frederico Ribeiro da Costa que não se podendo «averiguar a verdadeira origem da aparição da imagem, todavia não nos resta a dúvida de que ele é duma grande antiguidade. O mesmo autor, no entanto, aventa a hipótese do aparecimento da imagem se ter verificado no século XIII.
A imagem é invocada com o título de Nossa senhora da Atalaia, por se ter erigido a ermida no monte da Atalaia. Também chegou a ser invocada com o título de Nossa senhora dos Pinheiros, referência ao facto de, em tempos passados, existir grande quantidade de pinheiros, naquele local. Nos registos mais antigos, a imagem aparece estampada entre pinheiros.
Nossa Senhora da Atalaia é designada também por Nossa Senhora das Alfândegas ou pelo título de Soberana Protectora das Alfândegas.

Atalaia, 1906
AtalaiaO núcleo histórico e o santuário da Atalaia localizam-se num outeiro, a cerca de 5 Km a oeste da sede do município. A povoação ganhou o estatuto de freguesia, em 4 de Outubro de 1985, tem uma população de 1309 habitantes, e uma área de 2,58 km2. Passará a integrar a União das Freguesias de Atalaia e Alto Estanqueiro-Jardia.
Devido à construção da ponte Vasco da Gama, transformou-se numa área de expansão urbanística.
Ainda hoje, de Atalaia se goza de um amplo e vastíssimo panorama, que, na década de trinta, era assim descrito: «Avistam-se as serras da Arrábida, de Montejunto e Sintra, a formosa cidade de Lisboa, as aprazíveis vilas de Almada, Alhandra, Palmela, Vila Franca, Seixal, etc., as férteis campinas do Ribatejo, as importantes salinas de Alcochete e uma infinidade de aldeias e casais espalhados pelas encostas e pelas planícies, por entre verdes pinheirais, campos amanhados e pomares floridos.» O panorama nocturno, que dali se avista, é também deslumbrante.

Entrada de um círio
CírioO Santuário de Nossa Senhora da Atalaia foi o mais importante e concorrido da Estremadura e do Alentejo. Para disciplinar o concurso ao santuário foi determinada uma data para cada paróquia, embora a mais importante romaria, que congregava o maior número de círios, se realizasse, no final de Agosto, como ainda hoje acontece, e por isso se passou a denominar também de “Festa Grande”.
Consta que cada romaria transportava e colocava uma grossa vela (círio) junto ao altar e, desse facto resultou o nome dado às romarias organizadas que concorriam ao santuário. Actualmente, os círios deram lugar às bandeiras.
Aceita-se, hoje, que a expansão do Santuário terá acontecido devido à romaria dos oficiais da Alfândega, em 1507.
Ignora-se a data da primitiva romaria. O que se sabe é que é peregrinação antiga que se perde na poeira dos tempos. Segundo o semanário, «O Domingo», «a ermida é antiquíssima, porque em 1211 ali descansava das lides guerreiras o destemido e valente soldado lusitano António de Villa Verde Froes.».
Por outro lado, a “Confraria de Nossa Senhora da Atalaia erecta na Aldeia da Quinta do Anjo”, afirmava, em meados do século XIX, que «pela diuturnidade dos séculos» adoptou o «louvável e religioso costume de ir festejar a Mãe de Deus no referido Sítio da Atalaia, em todos os anos, no último domingo de Agosto», e, na mesma data e no mesmo sentido, se pronunciaram os “Festeiros de Nossa Senhora da Atalaia de Ribatejo do Círio pertencente ao termo de Sesimbra», que declararam que «desde tempo imemorial (vão) todos anos fazer a sua festa no último domingo de Agosto.»
É extensa a relação dos círios que ao longo dos tempos concorreram ao santuário.
Real Círio dos Pescadores de Aldegalega – Referido já no séc. XVI. Festejava no último domingo de Abril. Extinto. Círio dos Marítimos Casados e Solteiros de Alcochete – Já festejava em 1530, na segunda-feira de Páscoa, tradição que ainda hoje se mantém. Círio Donzelas da Vila de Alcochete – Concorreu em 1856. Círio dos Pescadores de Setúbal – Festejava na segunda-feira de Páscoa. Ignora-se a data da fundação. Foi extinto em 1820. Círio da Palma (Alentejo) – Extinto. Círio de Oeiras – Já festejava em 1507, em domingo da Santíssima Trindade. Foi um dos círios mais ricos que concorreu ao santuário. Extinto. Círio da Alfândega de Lisboa – Constituído em 1507 pelos oficiais da Alfândega de Lisboa e pelo povo de Lisboa, que atribuíram à peregrinação que tinham realizado ao Santuário da Atalaia o milagre da extinção da peste que tinha assolado Lisboa. Naquela data foi instituída a Confraria de Nossa Senhora de Atalaia, que se passou a organizar anualmente a peregrinação ao santuário. Em 1745, a confraria estava dissolvida, mas a romaria continuou, porém, à custa da fazenda real. O Círio foi extinto em 1833. O Círio festejava no domingo da Santíssima Trindade.

A caminho da Atalaia
Nossa Senhora da Atalaia é designada também por Nossa Senhora das Alfândegas ou pelo título de Soberana Protectora das Alfândegas. Círio de Coina - Já existia em 1799 e festejava no segundo domingo de Julho. Extinto. Círio de Sarilhos Pequenos – Em 1790 já festejava, no último domingo de Julho. Extinto. Círio dos Trabalhadores de Alcochete. Festejava no primeiro domingo de Agosto. Extinto. Círio de Cabrela. Concorria no segundo domingo de Agosto. Extinto. Círio de Alhos Vedros – Concorria, em 1781, no segundo domingo de Agosto. Extinto. Círio de Vila Fresca de Azeitão - Concorria à Festa Grande. Extinto. Círio dos Marítimos de Setúbal – Concorria à Festa Grande. Extinto. Círio de Sesimbra. Círio do Seixal – Concorria à Festa Grande. Extinto. Círio Novo de Setúbal – Concorria à Festa Grande. Ignora-se a data da fundação. Dissolveu-se em 1778 e restaurado em 1894. Extinto. Círio de Azóia. Círio de Sacavém – Extinto em 1839. Círio de Arrentela – Extinto. Círio do Barreiro – Um dos primeiros círios a concorrer aio santuário. Extinto. Círio da Quinta do Anjo – Ignora-se a data da fundação. Já é nomeado em 1780. Ainda concorre à Festa Grande. Círio de Palmela – Extinto. Círio do Lavradio – Extinto. Círio dos Pretos Crioulos de Lisboa – Extinto. Círio dos Pretos do Bairro Alto de Lisboa – Instituído em 1743 e extinto em 1843. A Rua da Atalaia, naquele bairro, lembra a existência daquele círio. Círio dos Pretos do Bairro de Alfama de Lisboa – Extinto. Círio dos Montes de Canha - Extinto em 1855. Círio da Vila de Canha – Extinto. Círio de Aldegalega – Instituído por altura do terramoto de 1 de Novembro de 1755, apelidou-se primitivamente de Círio do Terramoto. Posteriormente, passou a denominar-se de Aldegalega e festejou com o nome de Festa da Terra até à primeira metade do séc. XX. Círio de Aldegalega (Colera-morbus) – Fundado em 1833. Extinto. Círio de Sarilhos Grandes – Extinto. Círio da Moita – Extinto. Círio da Freguesia dos Anjos (Lisboa) – Fundado em 1855 – Extinto. Festejava no terceiro domingo de Agosto. Círio de Samora Correia – Fundado em 1823. Festejava na Festa Grande. Círio de Chelas – Ignora-se a data da fundação. Extinto em 1879. Celebrava na Festa Grande. Círio da Freguesia de S. Sebastião da Pedreira (Lisboa) – Fundado em 1844. Extinto. Festejava na Festa Grande. Círio da Freguesia do Beato António (Lisboa) – Fundado em 1823. Extinto em 1879. Festejava na Festa Grande. 

Entrada de um círio
Círio da Freguesia de S. Lourenço (Lisboa) – Fundado em 1833. Extinto. Festejava na Festa Grande. Círio da Freguesia de Santa Isabel (Lisboa) – Fundado em 1857, por ocasião dum surto de febre-amarela. Extinto. Festejava na quinta-feira seguinte à Festa Grande. Círio da Freguesia de Nossa Senhora da Ajuda (Belém – Lisboa) - Fundado em 1857, por ocasião dum surto de febre-amarela. Extinto. Festejava na segunda-feira seguinte à Festa Grande. Círio dos Olhos de Água (Palmela) – Fundado em 1833. Celebra na Festa Grande. Círio da Carregueira (Palmela) – Fundado em 1833. Celebra na Festa Grande. Círio de Santo Estevão de Alfama – Fundado em 1850. Extinto em 1879. Festejava no primeiro domingo de Setembro. Círio do Mosteiro do SSmo. Salvador (Lisboa) – Fundado em 1839. Extinto. Festejava no segundo domingo de Setembro. Substituiu o Círio dos Pretos de Alfama. Círio do Convento das Mónicas (Lisboa) – Fundado em 1866. Extinto em 1874. Festejava no terceiro domingo de Setembro. Círio de Arroios (Lisboa) – Fundado em 1879. Extinto. Celebrava na Festa Grande. Círio de Santa Engrácia (Lisboa) – Fundado em 1872. Extinto em 1877. Celebrava na segunda-feira seguinte à Festa Grande. Círio de Santos-o- Velho – Fundado em 1873. Extinto. Na dévcad de trin do século XX ainda celebrava na segunda-feira seguinte à Festa Grande. Círio de Nossa Senhora da Anunciada (Setúbal) – Fundado em1874. Extinto em 1879. Celebrava na segunda-feira seguinte à Festa Grande. Em 1935, ano em que foi criado o Círio de Montijo, já extinto, concorreram os círios de Sesimbra, da Quinta do Anjo, de Olhos de Água e Carregueira, além dos círios das Francesinhas.
Em 1945, foi fundado o Círio Novo da Atalaia, que, em 1950 adquiriu a sua sede, que custou cem contos.
O Círio dos Atrasados foi o último fundado em Montijo, em 1940.

Círio dos Atrasados, 1949. Círio civil.
Círio dos Atrasados (Montijo) – Foi fundado em 31 de Agosto de 1940. Heterogéneo na sua composição social, a justificação do seu nome reside no facto de se deslocar para a Atalaia, quando todos os outros círios já se tinham retirado, isto é, no último dia dos festejos, segunda-feira.
A partida efetuava-se cerca das 15H00 e, na Atalaia, era cumprindo um programa que incluía jantar, baile, divertimentos populares, lavagem e pequeno-almoço, almoço ajantarado e partida para o Montijo. Não havia celebrações religiosas. Era um círio civil. Foi presidente honorário do Círio, António Joaquim Marques.
O Círio foi extinto na década de sessenta.


As velas (círios) foram substituídas pelas bandeiras.
Extinção dos CíriosVárias foram as causas que concorreram, ao longo dos séculos, para a interrupção e a extinção dos círios. O autor de “Os Romeiros de Nossa Senhora da Atalaia (1903) ” afirma que «Em todos (os círios) mais ou menos se tem dado algumas interrupções, já devido ao cepticismo do século, já às excessivas despesas, que os mesmos romeiros têm na solicitação de provisões, licenças, termos de responsabilidade, depósitos pecuniários, festas e lausperenes nas igrejas, onde se acham as imagens de Nossa Senhora dos seus círios.»
A proibição da realização de romarias, por razões de saúde pública, em tempo de epidemias; as Invasões Franceses – os exércitos franceses saquearam a ermida - e os novos ideais emergidos da Revolução Francesa, a crescente laicização da sociedade, que se opera a partir do século XIX, o incremento dos ideais republicanos e anticlericalismo a eles aliado serão outras causas a somar às apresentadas pelo autor do opúsculo acima citado. Actualmente, factores demográficos e sociais colocam em risco e existência futura dos círios. As direções não se renovam, porque os jovens se afastaram do associativismo.

No final do século XIX, foram instituídos os círios civis, cuja Federação tinha por fim organizar anualmente «um grandioso arraial a fim de levar à prática mais profusa e brilhante a propaganda anticlerical.»
Segundo as opiniões mais conservadores, os círios civis constituíam «uma caravana de frasqueiros que com profusão e brilhantismo prestavam um cívico culto de festejo ao – mune-ventre, e aonde exímios palradores exibem com tom e som bombásticos discursos de doutrina estragada e anti-religiosa, contra todos os princípios absolutos e humanitários. Aberrações de espírito toleradas entre nós, atenta a brandura nos nossos costumes e a licença dos belos tempos em que vivemos! Estes frascários, genuína reprodução dos antigos epicuristas, somente veneram e adoram o deus -papaizana -, e abominam estranhamente a moral e a religião do Evangelho cristão.»
A implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, teve forte repercussão sobre os movimentos religiosos, nomeadamente, sobre a romaria e os círios da Atalaia.
Em Aldegalega do Ribatejo o Partido Republicano elegeu os seus candidatos à Câmara e ao Senado Municipal, em 1908, sem que este facto tivesse perturbado as celebrações. Em 1910, por exemplo, a arrematação do terrado foi presidida por Manuel Ferreira Giraldes, primeiro presidente da Câmara Municipal de Aldegalega eleito pelo PRP, acompanhado pelos vereadores Álvaro Tavares Mora, José Cipriano Salgado Júnior e José Fernandes da Costa Moura.
Em 1911, na primeira Festa Grande após a implantação da República, a romaria perdera o brilhantismo dos anos anteriores, porque, devido à insegurança que reinava, quase todas as famílias que ali costumavam ir, receosas de cenas de sangue, que ali se esperavam, deixaram-se ficar em casa.

Manuel Ferreira Giraldes, presidente republicano da câmara,
eleito em 1908, presidiu à arrematação do terrado. Os conflitos 
surgiram depois da implantação da República.
O clima de insegurança adensara-se porque o Administrador do Concelho, contrariando as vozes republicanas, afiançara que , mesmo à força, a procissão seria realizada. Mas, segundo testemunho da época, «Os abutres de batina, estribados na vontade da autoridade, ainda conseguiram pôr de fora da igreja o pendão que voltou para dentro em pedaços com a velocidade de um raio.
Em seguida apareceu no púlpito uma daquelas aves que começou a dizer mal da Lei da Separação da igreja e do seu autor a que o povo respondeu de chapéu na cabeça com vivas ao sr. Dr. Afonso Costa e abaixo o clero, correndo sobre eles para uma liquidação de contas. Valeu-lhes nessa ocasião, a força que ali estava encarregada do policiamento.»
Em 1912, na esteira dos círios civis, a Romaria a Nossa Senhora da Atalaia passou a denominar-se Festas Cívicas da Atalaia, e foram organizadas pela Junta Local de Livre Pensamento, que convidou diversas colectividades  «a fazerem-se incorporar nas festas da Atalaia, que este ano deixarão de ser a bambochata dos mais anos», noticiava o jornal local.
Testemunhou voz republicana: «Iniciaram-se ontem as festas cívicas no pitoresco lugar da Atalaia. Há muitos anos que a Atalaia não era tão concorrida como esta sendo agora com as festas cívicas. É que o povo discorda por completo com tudo que lhe cheire a cera, aborrece os santos de pau e odeia os padres.
Bem haja a Junta Local do Livre Pensamento única organizadora de tão grandiosas festas e que tão incansável se mostra preparando todos os atractivos pró­prios dum bom arraial, de molde que nada ali falte de bom e bonito aos numerosos forasteiros que hora a hora estão chegando.
A feira de gado e o arraial oferecem um aspecto  soberbo atendendo ao grande número de barracas de negócio, es­colas de tiros, circos de cavalinhos, teatros, animatógrafos, etc.
0 cortejo cívico organiza-sehoje,  devendo sair ás 15 horas da sede da Junta para o local do comício, incorporando-se nele representantes de várias agremiações laicas, bandas de musica e bandeiras de diversas colectividades.
Às 12 horas será queimado um bonito fogo de artificio. Entre outras abrilhantarão estas festas a distinta banda Marcial Democratica e a Fanfarra Marítima de Porto Brandão.»
Pelo mesmo diapasão afinaram os republicanos a sua voz, nos anos seguintes.
Em 1914, «foi grandioso Foi grandioso o esplendor que este ano reves­tiu a chamada Festa Grande . Ninguém supunha tão grande número de barracas e tão extraordinária ocorrência de forasteiros.
As festas cívicas da Atalaia, este ano, pela sua enorme concorrência de povo, fizeram-nos lembrar as que ali se faziam há quinze ou vinte anos. É que o povo de toda a aprte começa a copmpreender que os santos não são não são precisos nas festas ao mesmo tempo quie outros tartactivos vê ele que além de distraitrem não custam dinheiro nem muitas vezes o sacrifício de andarem com o chapéu na mão sob um sol abrasador ou um aguaceiro que inesperadamente se despegou lá das alturas. Não se viu ali – nem nunca mais se tornara a ver – criaturas rojando-se pelo chão desde o cruzeiro até à capela, promessa tola que merecia sempre censura e que muitas vezes provocava conflitos graves.
A distinta comissão soube muito bem preparar a festa para todos os paladares, entendendo-se com o capelão e dizer-lhe que dentro da igreja era ele quem mandava.E assim evitou que algum tolo ou tola ficasse descontente com a festa por não poder deixar na caixa das almas a gorjeta, para o padre comer à ceia um leitão assado...

Programa das Festas Cívicas da Atalaia
Abrilhantou as festas tocando num bonito coreto a distinta Banda Democrática de Aldegalega, que do público mereceu fartos e entusiásticos aplausos.»
A Revolução de 26 de Maio de 1926 permitiu, de novo, as manifestações religiosas públicas e a afirmação do carácter religioso da romaria.Porém, a grande concorrência de círios verificada em épocas anteriores desvasnescera-se.
A Revolução de 25 de Abril de 1974 em nada alterou o espírito da festa e romaria da Atalaia.
Actualmente, só seis círios concorrem ao Santuário da Atalaia. No último fim-de-semana de Agosto (Festa Grande), os Círios da Quinta do Anjo, o primeiro a chegar, na sexta-feira; o Círio da Azóia, que se apresenta no sábado; o Círio Novo, o Círio dos Olhos de Água e o Círio da Carregueira que festejam no domingo. Na Páscoa, o Círio dos Marítimos de Alcochete. Nenhum é de Montijo.

Festa GrandeConfundem-se, actualmente, a Festa Grande, a Feira e o Arraial da Atalaia, embora tenham sido, na sua origem, conceitos realidades diferentes.
De Festa Grande era denominada a romaria que agrupava maior número de círios e que se realizava no último fim-de-semana de Agosto.
O arraial correspondia ao lado profano da festa e era montado no adro da igreja com barracas diversas e manifestações de convívio e de recreio que foram variando várias consoante as épocas.
A Feira passou a realizar-se a partir de 1751.
Segundo Alvará registado na Câmara Municipal de Aldeia Galega, em 24 de Agosto de 1751, D. José, Rei de Portugal concedeu ao capelão da Atalaia, Pe. António Pacheco Pimentel, autorização para realizar uma feira no último sábado, domingo e segunda-feira de Agosto, e aplicar o produto do terrado para obras da Igreja. O terrado era administrado pelo Juiz de Fora e Oficiais da Câmara Municipal.
O terrado era arrematado pelo maior lanço oferecido e o arrematante e este tinha em seu benefício rendimento das taxas pagas pelo aluguer de terrenos municipais ocupados pelos diversos estabelecimentos e divertimentos, por ocasião da feira.
Bem se pode afirmar, volvidos os séculos que a feira resistiu às armadilhas do tempo, ganhando sempre novas qualidades e formas de organização.
 Fonte da Senhora – Ignora-se a data da sua construção, mas há indício que a remetem para o ano de 1551, quando se erigiu o primeiro cruzeiro. Em 1752, foi concertada e, em 1873, foi reedificada pela Câmara Municipal de Alcochete.
Segundo a tradição oral foi naquele local que apareceu a imagem de Nossa Senhora.

Quinta-feira da Ascensão ou Quinta-feira da Espiga Sem a animação e o concurso de outras épocas, o Dia da Espiga é ainda celebrado na Atalaia, ao fim da tarde de quinta-feira.
A Festa da Ascensão é celebrada no quadragésimo dia após o domingo de Páscoa, sempre uma quinta-feira, e é uma das principais festas do ano cristão.
No princípio do século XX, Montijo despovoava-se porque, à tarde, a população corria para a Atalaia e para os campos para festejar o Dia da Espiga.
Milagres Há, no Santuário da Atalaia, uma dependência que alberga um conjunto de ex-votos, que testemunham as graças recebidas por intervenção da imagem da Senhora da Atalaia.
A fé popular e a tradição oral atribuem inúmeros milagres à intervenção de Nossa Senhora da Atalaia, alguns descritos nos ex-votos.
Porém, dois acompanham a história dais intervenções da imagem.
Filipe II de Castela, I de Portugal, mandou cortar alguns pinheiros que existiam em Atalaia para a construção de navios. Os pinheiros foram marcados e, na data aprazada, quando se ia proceder ao seu corte, foram encontrados todos tortos e incapazes de serventia para o fim a que se destinavam,
Outro dos milagres guardados pela tradição conta que uma velha octogenária tinha uma filha e que a filha falecera após laborioso parto, parindo, ainda assim, um menino vivo. Não podendo a velha mulher dar de mamar à criança «rogou com tanta fé a Nossa Senhora da Atalaia, que atenta à sua miséria, lhe fizesse o milagre de ela ter leite com que amamentasse o seu netinho, e em tão boa hora foi feita sua humilde súplica, que a Virgem Mãe de Deus e de misericórdia acedeu aos seus desejos e a pobre velha alcançou o que ambicionara.»
 ProfanoO lado profano da romaria estampou-se, ao longo dos séculos, no arraial, que, modernizando-se o que deve ser modernizado e atendendo-se aos costumes de cada época, continua bem retratado pela pena do Pe. Manuel Frederico Ribeiro da Costa, que, em 1887, anotou:
«O que propriamente se designa «arraial de Nossa Se­nhora de Atalaia» é a área compreendida entre os três cruzeiros, no monte de Atalaia, onde assenta a capella, como já indicámos no capitulo. Neste arraial é celebre o movimento popular por occasião das festas do último domingo de Agosto. As casas, à excepção de mui poucas, em que vivem alguns pobres carvoeiros, conservam-se fechadas um ano inteiro, para serem ocupadas nos dias das festas deste domingo, e nos outros em que porventura há al­guns círios a festejar.
Concorrem a estas festas do última domingo de Agosto, de grandes distâncias  os diversos cirios e muitas pessoas, em roma­ria, que já anteriormente mencionamos. Carros, caleças, jumen­tos,  cavalos, etc. vindo de várias longitudes, cobrem de dia e noite as estradas, apinhoadas de gente, mobilias, utensilios, quin­quilharias, e todo o preciso para um arraial e uma feira. As se­manas anteriores a estas festas são empregadas em preparati­vos; homens e mulheres, todos, como que à porfia, concorrem nesta occasião ao santuário da Virgem de Atalaia. O maior concurso de gente é no sábado do último domingo de Agosto, que sem exageração, em alguns anos, tem excedido o número de oito ou dez mil pessoas.
Com segurança pode-se afirmar que é este arraial o mais concorrido em todo o distrito de Lisboa. A par das distrações, que por esta ocasião há no arraial, sobressai a grande feira anual de gado de todas as espécies, por detrás da capela, num vasto âmbito, feira que dura três dias. Também há grande número de casas de pasto, botequins, já em casas proprias, já em barracas e vários divertimentos, como companhias dra­máticas e equestres. Por todos os lados da Capela não se divisa senão musicas, gaitas de foles e variados entretenimentos.
Parece que neste arraial somente respira o folguedo.»

Arraial, figura datada de 1864.
Muitos anos mais tarde, na década de quarenta do século XX, Álvaro Valente registou que havia famílias que arrendavam casa em Atalaia «e, logo que rebentava a festarola, mudava-se para lá com armas e bagagens». E, mais adiante, a sua escrita vibrante dá-nos esta descrição da partida para Atalaia: « O corropio era constante. Manatas (proprietários, fazendeiros), latambas (trabalhadores rurais) e mangalhonas (mulheres de baixa classe), tudo marchava para a romaria. Carros que partiam cheios, carros que chegavam e esperavam fregueses, uns para baixo outros para cima, um verdadeiro inferno  E isto prolongava-se pela noite dentro até de madrugada! (…).
Na Atalaia a efervescência começava semanas antes da romaria. Quando se aproxima a «Festa Grande», como há muitas visitas e gente estranha, todos se afreimam em limpezas radicais para dar a impressão duma primorosa estância de repouso, alegre, fresca e saudável.
Arejam-se e preparam-se também os palheiros e as cocheiras e cavalariças; ornamentam-se as «salas» dos bailes para a rapioca permanente das duas noites; e não há uma só casa onde se não aprestem todos os aposentos para os alugar ou receber amigos e família.
Nos dias mais próximos da romaria chegavam as barracas da feira, os «cavalinhos», os circos, os teatros de fantoches, as barracas de «comes-e-bebes», as escolas de tiro ao alvo, e um totelimúndi de aldrabões com quinquilharias, roletas ambulantes com os manhosos das batotas, vendedores de bugigangas, de calçado, de mantas, objectos de oiro e pechisbeque, que era uma verdadeira epidemia!
Na véspera do primeiro dia estava, finalmente, tudo a postos.
E conforme vinham chegando no sábado os vapores e os círios, assim a Atalaia se ia animando cada vez mais.
Álvaro Valente deixou-nos ainda este pormenor referente a Atalaia: «É um local lavado de ares, frequentemente batido dos vendavais, e a que nos últimos anos se resolveu chamar – não sei porque motivo – a «Sintra de Montijo»!»
O Progama das Festas de 2013 repetiu a praxis dos anos anteriores: chegada dos círios em procissão; actividades religiosas; bailes e convívios nas sedes dos círios, arraial e espectáculos de variedades e a lavagem na Fonte da Senhora.
Hoje como ontem, o profano e o maravilhoso cristão unem-se por quatro dias em louvor aos corpos e às almas que edificam a religiosidade popular na sua mais pura essência.
Renovar-se-ão geracionalmente os círios? Será fundamental que os jovens assumam a direcção das associações sob pena de se quebrar um elo secular de religiosidade popular. 
Santuário de Nossa Senhora da Atalaia Ignora-se a data da construção da igreja, embora haja testemunhos que a dão por construída no século XV. O santuário abre-se para um espaçoso adro marcado, a poente, por um cruzeiro de gosto manuelino edificado em 1551. Outros dois cruzeiros estão localizados a norte da Igreja, na estrada que conduz a Alcochete, e a sul localiza-se o denominado Cruzeiro de Alcochete, construído em 1669, e o Cruzeiro da Estrada ou das Esmolas, junto à antiga Estrada Real, cuja data se ignora.
Seguindo a Narrativa Histórica do Pe. Manuel Frederico Ribeiro da Costa, os cruzeiros são assim apresentados: «O (cruzeiro) fronteiro à capela, na distância de 220 mts, é formado de pedra lioz, no estilo gótico-bizantino, vendo-se do lado do nascente, no capitel, um baixo-relevo, representando a imagem de Jesus Cristo, e no do poente a de Nossa Senhora da Piedade.
Sobrepõe este cruzeiro uma cúpula, sustida por quatro colunas ligadas com varões de ferro. Na base da cruz se lê a inscrição: «Este cruzeiro mandou fazer a confraria de Lisboa, era 1551».
O segundo é também de pedra lioz encimada em dois degraus, tem na face do norte gravado o seguinte rótulo: «Esta cruz mandou fazer Domingos Ferreira Patarata e sua mulher por sua devoção, pede um Padre-nosso e Ave-Maria pelas almas; feita no anno de 1669, de Alcochete».
O terceiro é de cantaria tosca e ordinária; sotoposto a um pedestal de alvenaria com quatro faces e junto ao pé da cruz está um mealheiro de ferro para receber as esmolas que transitam pela estrada do Alentejo.»
O poeta José Joaquim Caria sentiu assim a Atalaia:

Esta branca povoação
Que p’lo monte se espraia,
Nasceu sob a protecção
Da Senhora da Atalaia.

O Santuário que vês,
Emoldurado em verdura,
Foi uma Santa que o fez
Num milagre de ternura.

Do alto da escadaria,
Entre o adro e o cruzeiro,
Com um pouco de fantasia
Podes ver o mundo inteiro.



Ruky Luky