quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Animatógrafo de Sucesso

“THE WONDERFUL”


Apesar do movimento de companhias de teatro itinerante ser significativo, Aldegalega continuava sem ter uma casa de espectáculos. Os grupos de teatro alcançavam Aldegalega, por barco, e instalavam as suas barracas, usualmente, no Largo da Caldeira ou no Largo da Calçada, locais com espaço para estacionamento e boa movimentação das viaturas, como se realçou na época.
A inexistência de uma sala de espectáculos fora já criticada na edição do jornal “O Domingo”, de 28 de Dezembro de 1902, cujo articulista perorava que «esta vila não possui ainda, para vergonha sua, uma casa de espectáculos», e apontava que «o armazém do sr. António Pedro da Silva poderia preencher as condições exigidas para um teatro, se quisessem reunir-se alguns indivíduos de ânimo resoluto para levar a cabo esse empreendimento.» O articulista lembrava que «por meio de subscrições se construíram nesta vila a praça de touros e o coreto, e concorreu-se para essas construções com a maior boa vontade» e concluía que «o teatro é de muito maior utilidade que a praça de touros e por isso merecia protecção de todos que procuram empenhar-se pelo desenvolvimento e progresso desta terra que, estando a pouca distância da capital, tão atrasada se encontra ainda com respeito aos melhoramentos necessários.» O apelo do jornal “O Domingo” não ecoou em Aldegalega.
Embora o cinema começasse a disputar os espaços que até então eram exclusivos do teatro e a ocupar armazéns, salas de conferências ou qualquer outro estabelecimento com as condições mínimas para a projecção de filmes, em Aldegalega do Ribatejo o teatro, as operetas, as récitas populares e os espectáculos de variedades continuavam como fonte primeira de diversão e cultura populares. As barracas de animatógrafo instalavam-se por brevíssimas temporadas no Largo da Caldeira e logo partiam em busca de novos horizontes.
No princípio de 1907, correu a notícia que «o sr. Artur Carlos Costa, proprietário da Eléctrica, brevemente apresentará no teatro desta vila, em diversas sessões, quadros de fotografia animada e, por isso, com ansiedade esperamos a sua realização para passarmos algum tempo esquecidos da monótona vida que levamos.»
O sonho de Artur Costa não se realizou, mas, no final do ano, anunciava-se que «no dia 16 de Novembro, Aldegalega tem ocasião de admirar o mais perfeito animatógrafo até hoje conhecido no País.»

Onde se localiza o estabelecimento BELTAUTO, existiu, outrora,
o armazém onde foi instalado o primeiro animatógrafo.
Na realidade, uma sociedade constituída por aldeanos resolvera «comprar, em Paris, uns aparelhos para o animatógrafo, que será montado no teatro desta vila», à Rua da Fábrica (Rua José Joaquim Marques).
Porém, o contrato não se efectuou e o empresário João Inácio da Silva arrendou o Salão Teatro Recreio Popular a António Máximo Ventura para instalar “The Wonderful”, o animatógrafo que fizera a estação de Verão, com enorme sucesso, no Jardim de Inverno do Teatro Dª Amélia, em Lisboa.
Apesar de ter sido anunciado que «É no dia 16 do corrente (16.11.1907) que em Aldegalega se tem ocasião de admirar o mais perfeito animatógrafo até hoje conhecido no país», as sessões só se inauguraram no dia 11 de Dezembro de 1907, «em consequência de não terem chegado uns aparelhos que o sr. João Inácio da Silva ali havia ido comprar para o animatógrafo que está montado no teatro da vila». João Inácio da Silva comprara também, na ocasião, «um magnífico piano eléctrico».
Instalado o animatógrafo, todas as noites ali se apresentavam «quadros grandiosos, o que tem dado lugar a que o vasto salão se torne pequeno para acomodar tão grande número de espectadores.»
Na edição de 15 de Dezembro de 1907, noticiava “O Domingo”:
«Com extraordinário sucesso começou a exibir-se na passada quarta-feira no teatro desta vila, o animatógrafo que no Jardim de Inverno do Teatro D. Amélia em Lisboa, fez a estação de Verão com o geral aplauso do público daquela cidade.
Todas as noites se dão duas sessões variadas em que são apresentados quadros de grande sensação, a que tem dado lugar a que o vasto salão do teatro se torne pequeno para acomodar tão grande número de espectadores.
É realmente, o animatógrafo mais perfeito até hoje conhecido, não há dúvida, e isso nos dá motivo a felicitarmos o seu proprietário, nosso amigo João Inácio da Silva, que bem merece o favor deste bom povo afluindo de futuro como até aqui a todas as sessões do maravilhoso animatógrafo.
O programa das sessões de hoje é com os seguintes quadros:
Primeira sessão: - A Caixa de Charutos, quadro colorido de deslumbrante efeito. – Um drama em Sevilha, quadro estreado em Portugal. – Percalços de um amante. – As cataratas da vitória. – O interior da vida. – A parteira.
Segunda sessão: - Um drama em Niza. – Dois cocheiros para um freguês. – Greve das amas-de-leite. – Uma viagem ao País do gelo. – Diversos assuntos cómicos. A pulga.
Na próxima terça-feira exibir-se-á o sensacional quadro colorido, intitulado O Polichinelo, que demora 27 minutos.»
Com enchentes e espectáculos de grande sensação, o animatógrafo “The Wonderful” cumpriu a sua curta temporada em Aldegalega.

Ruky Luky


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Moinho de Maré da Lançada

Não é isto uma Vergonha?

Em 1405, D. João I deu consentimento a Álvaro Gonçalves para fazer umas «moendas de pam no esteiro da alançada que he a par daldea galega do Ribatejo que moessem com agoa de maree que entrar em o dito steiro.»
Nessa altura, já existia outro moinho de maré, na Quinta da Lançada, já referido em 1386.
Não é possível dizer, com rigor, a qual dos moinhos se referem as fotografias que passamos a publicar.
Certo é que, no século XVII, ainda há referências aos dois moinhos.
Mas refiram-se ao moinho edificado no século XIV, ou ao construído no século seguinte, é património demasiado valioso para que se tivesse permitido que fosse abandonado à sorte dos elementos.
A vergonha deixou de ser uma sanção.


Caminho de acesso ao moinho.










Porta de acesso ao interior do moinho


Interior do moinho

Interior do moinho

Interior do moinho


Se se não tomarem medidas urgentes o moinho acabará por ruir totalmente.


Aspecto  parcial da parede exterior





A comporta

O moinho e e a Quinta da Lançada

O moinho, em 1989

Interior do moinho, em 1989

O moinho, em 1906.

Ruky Luky


quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Primeiro Cinema de Montijo

Como Tudo Começou

O cinema começou por partilhar o espaço do teatro. Aconselha-se a leitura do cartaz.

Era no Largo da Caldeira, actual Praça Gomes Freire de Andrade, ou em algum armazém arrendado ou cedido graciosamente para o efeito, que as companhias de teatro, o circo e as trupes instalavam as suas barracas ou as tendas, alegrando, em curtas temporadas, as horas de ócio da «elite da nossa sociedade».

Num domingo frio do mês de Dezembro de 1901, realizou-se em Aldegalega, «uma surpreendente sessão de ilusionismo pelo artista Augusto Fortuna, no extenso armazém pertencente aos senhores Ventura, que generosamente lho cederam». O espectáculo contou com a colaboração do «actor Correia, do teatro d’Avenida, que num dos intervalos desempenhou uma cena cómica», e do actor Ródão, que «mimoseou a plateia com um belo fadinho».
No mês seguinte, foi a Troupe Bertini, «que se tem feito ouvir nos principais teatros e clubes do nosso país e assim como em Espanha numa série de concertos em diversos casinos», que, pelas vinte e trinta, se apresentou no salão do senhor José Maria Mendes, na Rua do Forno, num espectáculo constituído por trechos de opereta, monólogos, fados e, no final, baile.

No Natal de 1902, o “Teatro Electro-Mágico”, que manteve a sua «bem construída elegante barraca de fantoches articulados, únicos que têm os movimentos iguais aos do corpo humano», no Largo da Caldeira, obteve boa adesão popular.
No mesmo local e data, instalou-se também o “Teatro Oriental”, que levou à cena os dramas “Os Dois Vadios”, em 6 actos, e “A Louca do Moinho”, em 5 actos, concluindo o espectáculo com «alguns quadros de animatógrafo».

Reconhecia, no final de 1902, o jornal “O Domingo”, que «São uma das distracções mais úteis e de mais enlevo para o espírito os espectáculos teatrais. Passam-se ali horas agradáveis, esquecendo-se até, por vezes, a vida amargurada dos que mourejam noite e dia para alcançarem o pão quotidiano. E esta vila não possui ainda, para vergonha sua, uma casa de espectáculos. Mas a todo o tempo se pode remediar esse mal.»

O comportamento dos espectadores não era, por vezes, o mais desejado, tanto assim que, na sua edição de 28 de Dezembro de 1902, o mesmo jornal chamava a atenção das autoridades administrativas para o facto de o teatro ser «frequentado pela «elite» da nossa sociedade» e reclamava «para bem da decência, (que) sejam castigados com o rigor da lei uns imoralões que ali são certos, incomodando os espectadores com as suas babosices e acções repugnantes.»
Em 18 de Janeiro de 1903, a companhia do Teatro Electro-Mágico regressou a Aldegalega e estreou uma “comédia de animatógrafo” e, no dia 25 do mesmo mês, “doze quadros de animatógrafo sobre a Vida de Cristo”.

É provável que, em data anterior, tenham sido apresentados em Aldegalega espectáculos com “fotografia animada” e “quadros de animatógrafo”, visto que o primeiro espectáculo cinematográfico foi realizado no nosso País, em 18 de Junho de 1896, em Lisboa, no Real Coliseu, à Rua da Palma, no qual participou o actor aldeano Joaquim de Almeida, representando alguns monólogos. Atendendo à proximidade de Lisboa, aliada ao facto de Aldegalega ser um lugar de passagem obrigatório, é de presumir que as primeiras projecções tenham acontecido em anos anteriores.

O “Correio da Noite”, de 15 de Junho de 1896, relatou, assim, o acontecimento: «Chegou hoje de Madrid Mr. Rosuby, que vem apresentar em cinco espectáculos, no Real Coliseu, o Animatógrafo e o Cinematógrafo de Edison, que, por meio de projecções com luz eléctrica, apresenta os mais perfeitos quadros da vida real em tamanho natural e sem omissão do mais insignificante movimento e do menor detalhe. O Animatógrafo só está conhecido em Londres, Paris e Madrid, sendo Lisboa a quarta cidade que vai admirar o último prodígio de Edison.» (As duas vidas de Joaquim de Almeida”, de António Cabrita, in Expresso, de 15.06.1996.)

No dia 22 de Março de 1903, Aldegalega assistiu à abertura da «excelsa barraca de maravilhas, atractivos, ilusões e fantasmagorias fim de século.» Era uma exposição composta por figuras em tamanho natural, luxuosamente vestidas, tendo presente os mais notáveis quadros representando cenas históricas, batalhas e quadros da vida religiosa. «Enquanto se examina o salão far-se-á ouvir o célebre órgão-concerto, que executará óperas».

Desde sempre Aldegalega/Montijo acarinhou o fado.
Os espectáculos e as exposições continuaram a realizar-se, mas passou-se um ano sem notícias do animatógrafo, até que, em 28 de Fevereiro de 1904, João Luciano Postes solicitou uma licença na Secretaria da Câmara Municipal de Aldegalega para «armar uma barraca de animatógrafo», no Largo da Caldeira, que se veio a denominar “Animatógrafo Lumiére”.

O animatógrafo foi inaugurado em 14 de Abril de 1904, e «unicamente e com grande satisfação podemos acrescentar que é o mais claro e de movimentos mais naturais que temos visto, quer nas personagens quer nos objectos, que se apresentam em tamanho natural.
São de um efeito deslumbrante as transformações, prestidigitação, fantasmagoria e cenas de alta magia apresentadas em cores.
Há funções todas as noites e sempre variadas.”

Os últimos espectáculos na barraca do “Animatógrafo Lumiére” realizaram-se no dia 24 de Abril de 1904, com «o excelente espectáculo, “A Pesca do Bacalhau”, película com 300m e tempo de exibição de 20 minutos», que alcançaram duas enchentes.

Veio a revelar-se de significativa importância a instalação, no Largo da Caldeira, do “elegante teatro-barraca” do Teatro Popular, companhia de Lisboa, que se estreou, no dia 17 de Novembro de 1904, quarta-feira, com o drama em quatro actos «A Filha do Saltimbanco» e, no domingo seguinte, levou à cena o drama “As duas Órfãs”.
Devido ao êxito alcançado, o Teatro Popular passou a apresentar os seus espectáculos no armazém do sr. José Maria Vasconcelos, na Rua da Fábrica, onde as enchentes se sucederam às quintas-feiras e aos domingos.

Aquele armazém transformou-se na primeira sala privada de espectáculos de Aldegalega, quando, em 1904, a Troupe do Teatro Popular, que apresentava os seus espectáculos num elegante teatro-barraca montado no Largo da Caldeira (Praça Gomes Freire de Andrade), ali se refugiou para fugir das intempéries de um Inverno excessivamente rigoroso. Contudo, devido ao êxito alcançado, a companhia prolongou a sua estada em Aldegalega e o armazém passou a ser conhecido como “Salão Teatro Recreio Popular”. Por iniciativa de António Máximo Ventura foi remodelado e adaptado definitivamente a Salão Teatro e inaugurado no dia 8 de Outubro de 1905. Passou a ser referenciado como o «elegante teatro da vila». Aqui seria instalado o primeiro animatógrafo.


Ruky Luky

domingo, 21 de julho de 2013

Os Cinemas de Montijo

O Incêndio do Grande Cinema Independente

Sobre as cinzas do cinema, a mão do povo ergueu o quartel dos bombeiros, de que tanto carecia a vila de Aldegalega do Ribatejo. Onde hoje se vê a estátua de homenagem ao bombeiro, ao lado do edifício da Câmara Municipal de Montijo, via-se, ontem, o quartel dos bombeiros, e mais remotamente ainda a barraca de madeira do Grande Cinema Independente.








Na noite de 14 de Setembro de 1924, a Companhia Dramática de José Clímaco apresentou uma opereta, que agradou vivamente ao público, ficando agendada nova representação para o dia seguinte.
Nessa noite, porém, a população de Aldegalega foi acordada pelo repicar incessante do sino da Igreja Matriz, que redobrava de alarme. Ardia com violência a barraca do “Grande Cinema Independente”. 

«De toda a parte corre gente, meia dormida ainda, ouvem-se gritos aflitivos, há choros e labaredas altas e ofegantes, lambendo as madeiras, atiram para o espaço grandes faúlhas que o vento impele. Apercebemos imediatamente que ardia com violência o edifício do Grande Cinema Independente. No edifício do Tribunal e Cadeia – o mais próximo do cinema – as janelas do pavimento superior começavam a ser beijadas pela ardência das bocas vermelhas que o incêndio, como uma hidra, lhe envia. Os presos da cadeia estão aflitos. No Cais das Faluas vai uma grande azáfama: as embarcações largam todas para longe, receando serem atingidas. Socorros nenhuns! O espectáculo é horroroso. Um pavoroso incêndio, um dos maiores – senão o maior – de todos a que temos assistido nesta vila. O edifício está todo derruído; a cabine por terra e em fogo; o piano irreconhecível; as bancadas reduzidas a cinzas; o palco, os bastidores, tudo, tudo está ardendo e sob os escombros em ignição as malas da Companhia. E ninguém se mexe, nem perante as lágrimas, nem perante o delíquo director do grupo, nem perante a forte comoção que lançou por terra inanimado, quase alucinado, o empresário cinematográfico sr. Frederico Guilherme Ribeiro da Costa.» Assim testemunhou o incêndio o director do jornal “A Liberdade”, Dr. Paulino Gomes, que vivia a dois passos do animatógrafo.

A tragédia abalou Aldegalega, mas não colheu o espírito de solidariedade dos aldeanos, que se mobilizaram para ajudarem a companhia de teatro, que perdera todos os seus bens.
Extintas as labaredas, a Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro logo organizou um bando precatório que rendeu 1.866$00.
A Banda Democrática 2 de Janeiro, por sua vez, promoveu um espectáculo, no Circo ideal, «enchendo-se a casa por completo».
O Musical Clube Alfredo Keil organizou um espectáculo no seu teatro.
O produto dos espectáculos reverteu para a companhia.

Apesar de estar ali colocada desde a data assinalada, poucas pessoas nela reparam.
Em Setembro, a Companhia regressou a Aldegalega para manifestar o seu perene agradecimento ao seu povo. No cunhal da fachada principal do edifício do Tribunal e Cadeia, actual Câmara Municipal de Montijo, a Companhia afixou uma lápide, que perdura, e onde se pode ler: «HOMENAGEM DA COMPANHIA DRAMÁTICA JOSÉ CLÍMACO AO POVO DE ALDEGALEGA – 15-9-1924».

A acção da população de Aldegalega foi também reconhecida pela Associação da Classe dos Trabalhadores de Teatro, que «tendo tido conhecimento da forma carinhosa como foram tratados os seus consócios que faziam parte da companhia dramática José Clímaco, depois do incêndio, em que perderam todos os seus haveres pessoais e material artístico consignou um voto de enternecido agradecimento ao povo de Aldegalega».

Mas há mais histórias do cinema em Montijo para contar...

Ruky Luky





quarta-feira, 17 de julho de 2013

Os Cinemas de Montijo

O Grande Cinema Independente


Frederico Guilherme da Costa
No dealbar de 1920, o cinema popularizava-se e o proprietário do elegante Salão Recreio Popular continuava a deliciar as plateias com a apresentação de belas fitas cinematográficas. No entanto, lamentava-se que «se não ponha cobro ao constante estalar das rolhas das gasosas que incomodam os espectadores e não seja proibido o uso de vinho durante o espectáculo, dando assim aquele conjunto o aspecto duma taberna ao salão que não se fez decerto para isso.»
Na sessão ordinária realizada no dia 4 de Fevereiro de 1920, a Câmara Municipal de Aldegalega deliberou «deferir o requerimento de J.A. Pires para a instalação de uma barraca desmontável para animatógrafo e teatro, no espaço compreendido entre o edifício do Tribunal e o Cais das Faluas, ficando entre a barraca e o referido edifício do Tribunal uma rua de seis metros de largura e pagando o proprietário da barraca a taxa mensal de cinco escudos pela ocupação do terreno.»
A edilidade acedia, assim, à pretensão de João Antunes Pires que requerera autorização para construir uma nova sala de espectáculos, no Largo Gomes Freire de Andrade, e um cinema ao ar livre, o Cinema Central, na Rua Bolhão Pato, (ex-Rua Teófilo Braga).
Um ano volvido sobre o deferimento camarário, em Março de 1921, João Antunes da Silva vendeu as duas salas de espectáculo à Empresa Relógio & Ribeiro, constituída pelos aldeanos Avelino de Jesus Relógio e Frederico Guilherme da Costa.
A nova empresa iniciou sua actividade, no dia 2 de Outubro de 1921, tendo obtido grande assistência em todos os espectáculos, «devido aos escolhidos programas cinematográficos que capricha apresentar ao público frequentador.»
Ao terminar a época de Inverno, a empresa exploradora requereu autorização à Câmara Municipal de Aldegalega para proceder à ampliação da barraca até à esquina do tribunal, bem como em ocasião oportuna a construção de uma marquise, porque o espaço ocupado pelo cinema era insuficiente para as exigências e comodidades do público.
O pedido foi deferido e depois de concluídas as obras de ampliação à barraca foi dado o nome de “Grande Cinema Independente”, que se inaugurou no dia 2 de Outubro de 1922, com a projecção da «película Por Amor, onde a eminente actriz Pérola Branca tem um trabalho violentíssimo que faz emocionar todas as plateias onde tem sido exibida.»
O “Grande Cinema Independente”, cuja autorização de cedência terminaria em 1925, apresentava «um record de brilhantes espectáculos, tanto cinematográficos, como de opereta, embora o nosso público não tenha correspondido à boa vontade da empresa». Porém, «depois de tão belos espectáculos até hoje apresentados, e ainda no último domingo com o Pobre Miudinho, já para o próximo dia 1º de Maio, feriado Municipal, a Empresa contratou um dos melhores filmes em séries que ultimamente no Salão Central se exibiu, O Atleta Invencível, que grandes enchentes àquele Salão levou, o qual fechará a época de Inverno. O Atleta Invisível, pelo artista mais popular do mundo, Eddie Pólo, que se divide em 18 séries e 36 partes, exibindo-se naquele dia as três primeiras séries intituladas: 1ª «Dinheiro Ensanguentado», 2ª «O Desconhecido», 3ª «Arma Acusadora.» Por noite exibiam-se três séries e durante seis sessões apresentava-se o filme.
Os espectáculos cinematográficos tinham recebido, desde Fevereiro de 1925, regulamentação específica. As empresas ficavam obrigadas a comunicar, com a antecedência de 24 horas, os títulos e os assuntos das películas novas e o dia em que seriam apresentadas ao público, a fim de se poder verificar se as explicações dessas fitas estavam escritas em corrente linguagem portuguesa, ou se, pelo assunto nelas tratado, constituíam motivo para serem retiradas por atentarem contra a moral social, incitarem ao crime ou serem perniciosas para a educação do povo. Nos espectáculos cinematográficos, era proibida a entrada de menores de 12 anos, quando desacompanhados dos pais, tutores, professores ou pessoa responsável pela sua guarda, salvo em sessões diurnas exclusivamente dedicadas a crianças, com a exibição de películas instrutivas.
O Grande Cinema Independente continuava a receber no seu palco companhias de teatro e de opereta.
(cont.)

Ruky Luky


sábado, 13 de julho de 2013

Os Cinemas de Montijo

 1. Em nome do Pai…
                                In Memoriam Guilherme Aleixo 20-11-1911 – 22.01.1985

A partilha da cultura levou o cinema aos mais pobres dos pobres.
Meu Pai, modesto lisboeta que, na década de trinta do século XX, procurou, em Angola, o conforto que a Pátria lhe negava, apareceu, certo dia lá em casa, com uma máquina de projectar Eumig 8 e um filme de Charlot. Depois, espaçadamente, foram aparecendo outros: Ali Babá e os 40 Ladrões, Bucha e Estica, Gary Cooper e poucos mais. Todos de 8/mm e a preto e branco. Quantas vezes passaram aqueles filmes, vistos sempre com o mesmo entusiasmo, com a mesma alegria e com o mesmo espanto…
Sei, hoje, o sacrifício que custou aquela máquina a quem tinha um magro ordenado, mas a paixão pelo cinema falara mais alto e o sacrifício foi compensado pela alegria que brotara na família e que acabou por transbordar para o bairro.
O Bairro da Fronteira, em Benguela, República de Angola, era um bairro limítrofe, pobre, com ruas esburacadas e sem asfalto, sem iluminação pública nem água canalizada. Poucos portugueses ali viviam nas suas modestas casas rodeadas de cubatas. O meu Pai era um deles. Fê-lo por amor à mulher por quem se apaixonara e já enfeitiçado pela magia de África.
Homem de coração aberto e alma generosa, ao sábado, à noite, pegava na máquina, colocava-a no quintal, de modo que se visse da rua, e assim dava início à sessão de cinema. O portão da nossa casa nunca esteve fechado e, por isso, os vizinhos do bairro ao saberem que havia cinema, entravam, acomodavam-se, abarrotavam o quintal e o espectáculo começava. As sessões eram indescritíveis, tal o gozo proporcionado por Charlie Chaplin ou o frenesim das coboiadas de Gary Cooper. Três ou cinco minutos era quanto durava a projecção de cada filme, mas pareciam uma espantosa eternidade a quem, pela primeira vez, via um filme… Em todas as sessões de Charlot estavam bem presentes as exclamações «uuááá!...uuááá!...viabááá», que acompanhavam cada "finta" do actor, num jogo do gato e do rato, no ginásio das termas, e que se repetiam com o mesmo entusiasmo em cada visionamento.
Tirando o Salão de Baile da Dona Sofia, na década de 50, cujo terreiro tinha de ser constantemente regado para aplacar a poeira levantada pelos pares dançantes, não havia outro divertimento senão o cinema em casa do senhor Guilherme Aleixo. E a entrada era gratuita.


Ruky Luky





sábado, 6 de julho de 2013

Peculato de Uso?

O Livro Colorido de Amélia Antunes

A senhora Maria Amélia Antunes, presidente da Câmara Municipal de Montijo, publicou um livro intitulado «A Mudança Com Futuro», que é, como confessa a autora, «uma breve síntese, de áreas de intervenção, do trabalho realizado em todas as freguesias do concelho, que contribuiu para as mudanças verificadas ao longo destes anos».
Profusamente ilustrado a cores e com cerca duzentas páginas, a obra foi elaborada em «hora de balanço», e «contém, diz Amélia Antunes, uma parte de algumas das intervenções que proferi em diversos contextos e circunstâncias, bem como textos publicados, acompanhados de algumas imagens que marcaram todo este percurso.»

Nada haveria a apontar se a senhora Maria Amélia Antunes, na hora da sua partida, quisesse distinguir os seus amigos com as «marcas do percurso», que transformaram a cidade de Montijo num sofrível dormitório, e lhes tivesse oferecido o livro.
Porém, a edição foi paga pela Câmara Municipal de Montijo, os trabalhos de recolha e revisão de textos, de fotografia e de concepção da capa e de paginação foram realizados por funcionários da câmara, e isto deve merecer um reparo.

Na hora da partida, a senhora Maria Amélia Antunes, a quem faltou a sapiente humildade dos simples, quedou-se perante a vaidade dos medíocres e utilizando os meios do município editou uma obra em proveito próprio, que corresponderá, talvez, àquilo que a autora denomina de uma «gestão transparente (e) rigor na utilização dos dinheiros públicos» (in “Introdução” de “A Mudança Com Futuro”).

O livro não passa de um acto de propaganda e de promoção pessoal, pois da sua penosa leitura não se alcançam especiais razões de interesse público que pudessem fundamentar a sua edição a expensas do cofre do Município.

Há cerca de 16 anos, a senhora Maria Amélia Antunes foi eleita presidente da Câmara Municipal de Montijo e trazia consigo – pois assim o prometera – a esperança de um futuro promissor para o município.
Durante os seus quatro mandatos, beneficiou de condições económicas, financeiras, sociais e políticas que nenhum outro presidente obtivera, pelo menos, nos últimos cem anos da História de Montijo. Os executivos presididos por Maria Amélia Antunes gozaram sempre de maioria absoluta. O Governo da República foi, na maior parte dos seus mandatos, socialista, assim como socialista foi o presidente da União Europeia.

Contudo, apesar de ter as arcas do Município bojudas – o município enriqueceu com o licenciamento de inúmeras urbanizações -, de não lhe faltarem apoios governamentais e europeus, faltou-lhe o golpe de asa da competência e da sapiência, que a inspirasse a transformar Montijo numa das cidades mais ilustres da Área Metropolitana de Lisboa.

Maria Amélia Antunes prometeu transformar a cidade de Montijo em “Cascais do Séc. XXI”, conceito que só ela e os seus amigos lograram alcançar, mas legou aos montijenses um dormitório; confrontou a cidade com o grande embuste da deslocalização do Cais dos Vapores; prometeu um complexo desportivo, que se enredou, depois, nas teias judiciais e do qual se deixou de falar; combateu a imprensa livre; ignorou a participação popular; introduziu um léxico inapropriado no debate com a oposição – bandalho, disse ela; balizou o seu mandato entre a autocracia do quero, posso e mando e o nepotismo.

Na hora da partida, Maria Amélia Antunes deixa o Município com uma dívida que rondará os 20 milhões de euros, e em tais condições financeiras que não consegue, sequer, dotar a biblioteca, pelo menos, com um jornal diário ou uma fotocopiadora – esta já falta há quase dois anos.

Maria Amélia Antunes nada de novo acrescentou ao concelho que outros presidentes não o tivessem feito. Não soube inovar e, naquilo que já existia, onde tocou transformou em pechisbeque. Emudeceu o Montijo e sobre ele cerziu e lançou um manto de apagada e vil tristeza.

Se se traçar um paralelismo entre a obra inovadora realizada por José da Silva Leite, em dois mandatos, na década de cinquenta, e aquela que a autora de «A Mudança Com Futuro» agora apresenta em livro colorido, dir-se-á que a grandeza da obra de José da Silva Leite dispensou a edição de qualquer livro, porque bastou o Homem e a Obra para que a História os tivesse registado em páginas douradas, enquanto a Maria Amélia Antunes será reservada uma pequena e envergonhada nota de rodapé a lembrá-la como o exemplo da oportunidade perdida – a pior presidente em Democracia e uma das piores da História de Montijo.

De uma coisa estamos certos. Se, porventura, José da Silva Leite, membro indefectível da União Nacional, tivesse editado um livro a propagandear a sua obra tê-lo-ia pago com os seus proventos e não teria recorrido aos cofres da Câmara Municipal de Montijo.







Ruky Luky.



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os Mercados de Montijo

O Mercado Central

O Mercado Central insere-se no conjunto das grandes obras mandadas edificar por José da Silva Leite, presidente de câmara, que alteraram positivamente a fisionomia da vila de Montijo.


Em Julho de 1953, o  arquitecto Paulo Cunha entregou o projecto do mercado à Câmara Municipal de Montijo


A construção do imóvel foi adjudicada,em 1954, pelo montante de 2.629.500$00


Em Outubro de 1957, procedeu-se à instalação do Mercado Central.

O mercado foi construído na Praça Gomes Freire de Andrade.Para o pátio e para aquela praça  abrem-se algumas lojas e cafés.

As montras dos talhos rasgam-se para a Avenida dos Pescadores.

Em 1958, a Comissão de Festas solicitou autorização à câmara municipal para utilizar o pátio do mercado para a realização de bailes e a instalação de uma esplanada por ocasião dos Santos Populares. Tornaram-se então famosos os "Bailes da Couve".






A estação de camionagem localiza-se no mercado, há mais de cinquenta anos. Dali, partem os autocarros para os mais variados destinos.

Em 1961, foi arrematada a estação de camionagem no mercado à firma João Cândido Belo.


Interior do mercado.No primeiro piso, encontram-se frutas, legumes e carnes.

No segundo piso, mostra-se o bom peixe de Setúbal... e não só.



Brasão da Vila de Montijo na torre do Mercado Central.

Ruky Luky































segunda-feira, 1 de julho de 2013

Residências do Montepio Geral

A quem serve o protocolo, Montijo?
No dia 19 de Abril de 2007, a Câmara Municipal de Montijo (CMM) celebrou um protocolo com as Residências Montepio Geral (RMG), propriedade do banco Montepio Geral.
A decisão camarária, que fora tomada por unanimidade, mereceu a aprovação da Assembleia Municipal, com a abstenção do BE.
Nos termos do protocolo, a CMM cedeu, em direito de superfície, presume-se por um período de 25 anos, um terreno com 8.150 m2 para o Banco construir 2 residências para idosos, com capacidade não inferior a 145 camas e não superior a 175 camas.
Por sua vez, o Banco, como contrapartida do direito de superfície constituído a seu favor, entregou à CMM o montante de 325.000,00 EUR e disponibilizou, durante a vigência do direito de superfície, um total de sete vagas para idosos, nas suas residências.
O protocolo foi assinado em 2007, as residências terão sido inauguradas em 2010, mas o protocolo só agora foi divulgado.

Nos termos do protocolo:                                                                                     
1. O Banco Montepio paga uma renda mensal à CMM no montante de 1083,30 € pelo direito de superfície (325.000,00€:300meses= 1083,30€).        
2. As mensalidades base cobradas pelas Residências Montepio são de 2100,00€ (dois mil e cem euros), preço base de quarto individual, e de 1800,00€ (mil e oitocentos), para quarto duplo.

3. Os acamados de modo permanente têm um acréscimo na mensalidade de 420,00€.
4.Os preços referidos reportam-se a 2012 e não incluem assistência extra, nomeadamente, apoio em fraldas e outros produtos.
5. Os custos a suportar pelos utentes indicados pela autarquia são de 50% dos preços em vigor, isto é, no mínimo, 1050,00€ ou 900,00€ (preços de 2012).

6. Os custos a suportar pelos utentes serão actualizados de acordo com a tabela de preços das Residências
7.Os rendimentos dos  idosos terão de cobrir 75% da prestação mensal e os restantes encargos serão suportados pelo seu agregado familiar. 
8. Compete às Residências Montepio informar à CMM o número de vagas ocupadas e por ocupar.
Esta informação não dispensa a consulta do protocolo, que pode ser adquirido na Divisão de Desenvolvimento Social e Promoção da Saúde da CMM.
Duas perguntas:

1. E se não houver vagas?
2. Quando se assinou este protocolo em que idosos e com que reformas se estava a pensar?
 Foto: Edifício da Assembleia Municipal.
Ruky Luky