segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um Passeio por Montijo

Descendo a Rua da Graça


Esquadra da Polícia de Segurança Pública. Nada na sua fachada nos diz que poderemos estar face a um dos edifícios mais antigos de Montijo.

Deixemos a Igreja de S. Sebastião, primeira Matriz de Montijo, e a Casa da Roda e vamos Rua da Graça fora.
Montijo, Novembro de 2013.
O edifício está bem identificado e todos o conhecem, pois trata-se da Esquadra da Polícia de Segurança Pública. Nada na sua fachada nos diz que poderemos estar face a um dos edifícios mais antigos de Montijo. Contudo, um olhar mais perspicaz levar-nos-á a descobrir os dois pináculos, coroamento dos contrafortes, que eram muito usados na arquitectura gótica. Em 1842, já estavam extintas as ordens religiosas, o edifício passou a integrar o património municipal. Depois de sucessivas campanhas de obras, ficou apto a receber um aquartelamento militar e, posteriormente, as instalações do telégrafo, a escola primária e a actual esquadra da polícia. Inicialmente fora o convento e o hospício dos Frades da Graça, dai o nome por que ficou conhecida aquela zona da actual cidade de Montijo.
À excepção dos pináculos, nada resta que possa identificar os traços arquitectónicos da primitiva construção, que era vedada por uma cerca e tinha capela própria, que foi desmanchada em 1842, assim como a cerca da propriedade, cujos terrenos se estendiam até ao rio. Do destino dado á capela nada se sabe, quanto à cerca, parte dela foi utilizada para construir o muro do cemitério.
Por mera curiosidade, assinale-se que, no outro extremo da vila de Aldegalega (R. de Santo António/Avenida dos Pescadores) erguia-se o Convento de Nª Srª da Conceição, no quarteirão situado entre a Avª Luís de Camões e a Praça Brasília, que chegou a albergar uma Casa para Educação de Meninas Pobres e um recolhimento para idosos. A acabou consumido pelas chamas. A Travessa da Cerca (Av.ª Luís de Camões) recorda a cerca do convento.
O passeio deve continuar nem que seja só meia dúzia de passos.


À excepção dos pináculos, nada resta que possa identificar os traços arquitectónicos da primitiva construção
Aldegalega do Ribatejo, 1862.
Os aldeanos eram conhecidos pela sua têmpera, gente que fazia e que não estava à espera que uma mão protectora resolvesse os seus problemas.
Naquele ano, por altura das Festas da Piedade, os principais habitantes de Aldegalega resolveram mandar construir uma praça de touros, nos terrenos anexos ao Convento da Graça. Vinte anos após a sua construção aquela praça foi demolida e, no mesmo local, edificada outra com capacidade para três mil espectadores e um diâmetro exterior de quarenta e dois metros, respeitando o projecto do Mestre de Carpintaria, José Vito da Silva. A Praça de Touros de Aldegalega foi inaugurada em 29 de Junho de 1888. No final da primeira metade do século XX, devido aos sinais evidentes de degradação que ostentava, a praça foi encerrada e, no seu local, foi construído o Cinema Teatro Joaquim de Almeida.



Rua da Graça. O convento, que albergou as tropas napoleónicas comandadas pelo General Loison, "O Maneta", e, contígua, a Praça de Touros.
Ainda hoje há quem ao olhar para o edifício do cinema se lembre das tardes de glória protagonizadas na praça de touros, que ali existiu, e outros velhos montijenses recordam aquela tarde em que um touro desembolado entrou nas instalações municipais – a abegoaria –, contíguas à praça, e trespassou as mulas que ali estavam. A Travessa da Praça de Touros lembra a existência daquela praça nas imediações.
Mas isso passou-se no tempo em que os touros vinham a pé e as carroças municipais eram puxadas por mulas.


Ruky Luky

Um comentário:

  1. Isto é mais um contributo para que os actuais moradores de Montijo conheçam a história da sua cidade. Dois conventos ainda em funções no século XIX, sendo cada um nos limites da então vila de Aldeia Galega. Este último, de que restam as instalações da PSP, foi adquirido pela Câmara de Aldeia Galega, por 800.000 Réis, alguns anos após a extinção das Ordens Religiosas. Também os últimos anos da Escola Primária Superior, dirigida pelo dr. Manuel Paulino Gomes, e extinta em 1926, decorreram neste edifício.

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