quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um episódio da História da Gazeta do Sul

A Cunha do Administrador do Concelho

Edifício da Gazeta do Sul. Av.ª D. Afonso Henriques/R. João XXIII, Montijo.
A «Gazeta do Sul – Semanário Regionalista» começou a ser publicado em 1 de Julho de 1930, em Vendas Novas, mudando a sede para Montijo em 1935.

Sob a direcção de Alves Gago, a Gazeta do Sul tornou-se num dos jornais regionais de maior expansão no País e com forte impacto nas comunidades portuguesas no estrangeiro.

O apoio e consideração que granjeou dos seus assinantes e leitores permitiu-lhe edificar sede própria, onde foi instalada também a oficina gráfica.

Embora tivesse mantido uma prudente distância em relação ao poder político, não deixou de cativar a atenção do Administrador do Concelho, que pretendeu ganhar os favores do jornal, como se alcançará pela leitura do ofício que, adiante, se publicará.
A iniciativa do Administrador do Concelho, que presumimos ter sido desconhecida do então director do jornal, não ecoou junto das instâncias superiores. A Gazeta do Sul não preencheria, talvez, os requisitos ideológicos exigidos por lei para obter a publicação de anúncios dos serviços públicos, porque não seguia os ditames do Estado Novo, e, por outro lado, o Administrador do Concelho reconhecia que um destacado membro do Partido Democrático era o secretário (chefe) da Redação

Ao mudar-se para Montijo, «A Gazeta do Sul» passou a contar com um leque plural de colaboradores, entre os quais se tomam como exemplos, o Dr. Jorge Antunes, apoiante do Estado Novo, e o Dr. Paulo Gomes, proeminente figura republicana, por representarem os extremos de uma paleta ideológica variada.

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Ofício dirigido pelo Administrador do Concelho de Montijo ao Director da Secretaria de Propaganda Nacional, em 1936:

«Publica-se nesta vila, semanalmente, um jornal que se intitula “Gazeta do Sul”, que é o periódico de mais expansão em toda a região do Ribatejo Sul e faz ainda uma edição para a vila do Barreiro.
Não ignora V.Ex.ª, decerto, haver ainda nesta região e mesmo nesta vila, grande número de elementos políticos de antigos partidos e embora o jornal em questão não tenha, até agora, acusado um ideologia definida, visto que nele têm colaborado indivíduos de todas as cores políticas, é de recear que muito em breve seja absorvido por elementos nocivos, especialmente do antigo partido Democrático, do qual um elemento de destaque já se encontra como secretário da Redação. Para mais, como a vida dos jornais da província nem sempre é desafogada, especialmente para quem deles vive, como sucede no caso presente com o Director e Proprietário da “Gazeta do Sul”, facilmente se compreende como poderão conduzir pessoas que o auxiliem materialmente, a verdade é que há um tempo a esta parte o jornal tem vindo sucessivamente melhorando de forma considerável.
Desta maneira, tomo pois a liberdade de sugerir a V. Ex.ª a vantagem de oferecer ao proprietário da “Gazeta do Sul”, qualquer subsídio com que o orçamento desse secretariado possa contribuir, no sentido de termos ao serviço do Estado Novo este elemento de valor, que está em risco de perder-se. Escusando lembrar a discrição com que tal proposta deve ser feita.»

A história da Gazeta do Sul, que foi extinta em 1990, está por contar e merece ser contada. Registamos, hoje, um pequeno episódio do seu rico percurso.


Ruky Luky

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