domingo, 29 de abril de 2012

1.º de Maio
O dia em que o Povo saiu à rua

Assim me contaram. Pouco. Disseram-me só: estas fotos são do 1º de Maio de 1974, a primeira manifestação que se fez no Montijo, depois do 25 de Abril.


















Aqui fica o convite/desafio. Se participou nesta manifestação, conte-nos como foi.

Ruky Luky

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Igreja do Divino Espírito Santo - Montijo
A mão do Povo a fez (Conclusão)

Nave central da Igreja e o púlpito
Terminamos a visita à Igreja admirando a sua nave central e lançando um último olhar à Igreja no seu todo.

Púlpito de mármore cor-de-rosa com balaústres em bronze
Na nave central, do lado do Evangelho, encostado à segunda coluna, há um púlpito resguardado por uma escada em mármore cor-de-rosa com o corrimão do mesmo mármore sobre balaústres de bronze. A bacia e o pedestal em que assenta o púlpito são também de mármore, bem como o peitoril com os balaústres em bronze. O púlpito foi construído no século XVII.
O Coro, ao fundo, no espaço entre as duas torres
 Nave central

Perspectiva da nave do lado do Evangelho

Perspectiva da nave do lado da Epístola








 Nota Final

Finda a visita cumpre ainda lembrar que a igreja foi também, até ao século XIX, um movimentado cemitério e que, no século XVII, no seu adro, montavam-se palanques para assistir às touradas. Mas estes serão temas para desenvolver numa outra oportunidade.

Aqui fica o convite para visitarem e admirarem a bela Igreja do Divino Espírito Santo de Montijo - a mão do Povo a fez, a mão do povo a divulga.

Ruky Luky






Igreja do Divino Espírito Santo -Montijo
A mão do Povo a fez (5)


Descendo pela nave do lado da Epístola

Visitada a capela-mor e percorrendo a nave do lado da Epístola, em direcção à porta, deparamos logo com o

 Altar de S. Pedro
umpainel que representa

Nossa Senhora e o Menino
e a seguir a
Capela do Senhor dos Passos
e um outro painel a representar a

Sagrada Família
Depois, a capela de Nossa Senhora da Purificação, actualmente, denominada de Nossa Senhora de Fátima. Esta capela tem gravada no arco a seguinte legenda:

                               ESTA . CAPELA . DENOSSA . SENORÃ . DAPVRIFI
                            CASAÕ ESTITVIRAM . OSOMEIS .TRABALH
                            ADORES . DESTA . VILLA . ANO . D 1607

Capela Nossa Senhora da Purificação/Nossa Senhora de Fátima
Inscrição da Capela de Nossa Senhora da Purificação/Nossa Senhora de Fátima

Na capela de Nossa Senhora da Purificação são dignos de registo os dois painéis das paredes laterais desta capela representam cenas da Fuga para o Egipto. No da esquerda vê-se a Sagrada Família, junto de um regato, e o da direita representa o Repouso durante a Fuga. Infelizmente, o painel do lado esquerdo está parcialmente encoberto.


Fuga para o Egipto - Sagrada Família


Fuga para o Egipto - Repouso da Sagrada Família
Ouçamos, de novo, José Meco, que nos descreve agora a Capela de Nossa Senhora da Purificação/Nossa Senhora de Fátima:

«O retábulo de talha de «Estilo Nacional» é modesto. Na base das paredes laterais desta capela, encontram-se, contudo,dois pequenos e interessantíssimos painéis com 9X9 azulejos cada, atribuíveis sem qualquer dúvida à primeira fase de Manuel dos Santos (certamente anteriores à data de 1708 nos azulejos da capela-mor) e, no género, das composições mais miniaturais do pintor.

Os dois painéis apresentam cenas da Fuga para o Egipto. No da esquerda, vê-se junto de um regato a Sagrada Família, a Virgem a cavalo com o Menino ao colo, acompanhados por São José a pé, passando junto de uma árvore. Sobre alguns arbustos, no lado esquerdo, avista-se um castelo abandonado com casebres encostados. No horizonte, uma queda de água e montanhas escarpadas, distantes e esfumadas.

No painel da direita, com o Repouso durante a Fuga, a Sagrada Família está sentada à sombra de árvores na margem de um regato. O Menino segura uma cana de pesca, enquanto São José o ensina a pescar e a Virgem guarda um cesto com peixes. Três anjinhos assistem.

É especialmente belo o painel da pesca, pela espantosa capacidade do pintor em exprimir a intimidade da cena.»

Depois da capela, devem ser assinalados os painéis de azulejos figurando

S. Joaquim, Santa Ana e a Virgem Maria
e a
Descida do Espírito Santo
Ao lado da porta que dá acesso ao coro há um quadro azulejado que, segundo alguns autores, estampa a Morte de Nossa Senhora. Permitam-me algumas reservas a esta interpretação.


A Morte de Nossa Senhora?
O coro é igualmente forrado de azulejos azuis e brancos.

Os balaústres torcidos em pau-santo, que resguardam as capelas das naves laterais, devem ser «as grades de pao do Brazil» a que se refere a Visitação da Ordem de Santiago de 1609.

Ruky Luky


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Igreja do Divino Espírito Santo - Montijo
A mão do Povo a fez (4)


Capela-Mor
Admirando a Capela-Mor

A Capela-Mor é de abóboda em alvenaria de características manuelinas, cujas chaves de pedraria ostentam ao centro um vaso florido e nos bocetes secundários motivos vegetalistas. A Visitação de 6 de Junho de 1534 já se refere à abóbada nos seguintes termos: «visitamos a capella moor a qual esta ora novamete fecta de daboboda dallvenaria co as chaves de pedraria tem o alltar dallveneria.». Tendo a Igreja sofrido obras de remodelação entre 1528 e 1534, a abóbada é uma construção dessa altura.


Abóbada em alvenaria de características manuelinas


Aspecto do altar-mor sem a tela

Azulejos do século XVIII revestem parcialmente as paredes laterais, representando, o da direita, o Castigo dos Blasfemos e, o da esquerda, a Apanha do Maná no Deserto.

Apanha do Maná no Deserto

Castigo dos Blasfemos
José Meco descreveu, assim, a Capela- Mor:

«A capela-mor é um resto de igreja anterior que apresenta uma interessantíssima estrutura renascentista, com arco triunfal delicadíssimo e uma curiosa abóbada nervada e estrelada, com fecho central e outros envolventes. O retábulo de talha dourada é o melhor exemplar do género nesta igreja, com a boca do trono tapada por uma tela atribuída ao pintor Diogo Teixeira.

Os azulejos revestem parcialmente as paredes. Nos rodapés, com cinco azulejos na altura, alguns meninos brincam com grinaldas abundantemente floridas, obra muito característica e interessante do monogramista P.M.P.

Sobre estes rodapés, dois painéis figurados estão envolvidos pela cercadura que se prolonga, por uma barra de dois azulejos de altura, sobre as portas laterais da capela-mor. Encontra-se nestas barras a «ANNO 1708», repartida pelos dois lados.

Os dois notabilíssimos painéis apresentam Moisés com o característico par de raios de luz a irradiar a cabeça. O da direita representa o Castigo dos Blasfemos e o da esquerda Apanha do Maná no Deserto; este é uma das composições de realização mais vaga e difusa da azulejaria portuguesa, excepcional pelo tratamento dos brancos predominantes, em nada inferior ao conseguido por pintores da Holanda.

Penso, com algumas reservas, que estes painéis sejam de Manuel dos Santos, que não só os teria realizado num espaço de tempo muito curto como ensaiaria uma forma nova e mais pictural de expressão artística.

Apesar de rápida, a pintura é belíssima, os leves apontamentos e pinceladas dados com enorme sensibilidade, o esmalte de qualidade superior. Por estes motivos, os painéis da capela-mor da Igreja do Montijo mereciam uma maior divulgação

Anexa à capela-mor está a sacristia, onde são dignos de admiração o tecto de madeira, divido em quatro painéis com pinturas, tendo ao centro o emblema da Ordem de Santiago, o arcaz, de madeira do Brasil, com ferragens amarelas, e o lavatório, em mármore rosa. Numa das almofadas da porta está inscrito 1634.

O orago da freguesia é o Divino Espírito Santo e o retábulo seiscentista do altar-mor representa o Pentecostes (Descida do Espírito Santo).
Ruky Luky



















Igreja do Divino Espírito Santo - Montijo
A mão do Povo a fez (3)

Depois de admirados o painel do Espírito Santo pairando sobre a Arca da Aliança e o altar de Nossa Senhora da Piedade, publica-se, agora, para encerrar a parte da visita iniciada ontem, as imagens do painel representando a Fuga para o Egipto, e ladeando o arco cruzeiro, que anuncia a capela-mor, dos dois pequenos altares de talha dourada, que guardam as imagens de Cristo-Rei, do lado da Evangelho, e de São Pedro, do lado da Epístola.
A visita prosseguirá, depois, à Capela-mor.


Fuga para o Egipto



Altar do Cristo-Rei



Altar de S.Pedro
Ruki Luki

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Igreja do Divino Espírito Santo - Montijo
A mão do Povo a fez (3)


O Interior da Igreja


Franqueada a porta, a Igreja recebe-nos num espaço majestoso marcado por três naves divididas por oito colunas de fustes redondos e capitéis da ordem toscana, sob arcos de volta inteira e duas mísulas na parede do arco de cruzeiro.

3.      Admirando as naves

Franqueada a porta, a Igreja recebe-nos num espaço majestoso marcado por três naves divididas por oito colunas de fustes redondos e capitéis da ordem toscana, sob arcos de volta inteira e duas mísulas na parede do arco de cruzeiro.

Capela baptismal
Flectindo para a esquerda, próximo do guarda-vento, deparamos com a capela baptismal, que tem na parede do fundo um painel de azulejos representando S. João Baptista baptizando Jesus Cristo no rio Jordão.

S. João Baptista baptiza Jesus Cristo no rio Jordão.

4.      Caminhando pela nave do lado do Evangelho

As paredes das naves laterais surpreendem-nos pelo conjunto de azulejos que as revestem, representando quadros da vida da Virgem.
Caminhando, na nave lateral, do lado do Evangelho (lado esquerdo de quem entra), em direcção à capela-mor, podemos admirar:


Circuncisão

 Anunciação
Precedida de uma pequena balaustrada setecentista, abre-se a Capela de Nossa Senhora da Conceição, tendo no arco da sua marcação a seguinte legenda:
ESTA CAPELA DA MADRE–DEOS . FIZERÃO . HOS MARIAMTES . DESTA VILA 1575  
Capela de Nossa Senhora da Conceição
Admirada a capela, os nossos olhos são atraídos por

Painel do Espírito Santo pairando sobre a Arca da Aliança
Altar de Nossa Senhora da Piedade
Depois do altar há outro painel digno de admiração representando a Fuga para o Egipto.
Ladeando o arco cruzeiro, que anuncia a capela-mor, dois pequenos altares de talha dourada, guardam as imagens de Cristo-Rei, do lado da Evangelho, e de São Pedro, do lado da Epístola.
Porém, por problemas surgidos no computador não nos é permitido publicar as imagens, que faremos na continuação da visita.

Ruki Luki


“IR ATÉ À MARÉ”

Um “rancho” de Descarregadores de Mar e Terra dedicava-se, como o seu nome indica, às tarefas de carga e descarga dos mais variados volumes, principalmente fardos de cortiça e sacas de cereais.
É 24 de Abril de 2012.
Amanhã faz 38 anos que Portugal mudou.

Não sei muito sobre os pormenores da história do Montijo.
Mas nasci aqui e sempre aqui vivi.
Fui testemunha das transformações que foram ocorrendo.

Nasci no Bairro Serrano.
Parte da minha infância passei-a brincando na rua. O meu amigo Alexandrino era o meu principal parceiro de brincadeira.
Rondávamos parte do dia junto da taberna do Joaquim Foni, era assim que a conhecíamos. O edifício ainda existe, na que é agora a Rua das Forças Armadas, outrora 28 de Maio.
A taberna era frequentada, durante o dia, principalmente por um “rancho” de Descarregadores de Mar e Terra.

 Um “rancho” de Descarregadores de Mar e Terra era constituído por um grupo, mais ou menos homogéneo, de homens que se dedicavam, como o seu nome indica, às tarefas de carga e descarga dos mais variados volumes, principalmente fardos de cortiça e sacas de cereais.
Essas mercadorias chegavam e partiam do Montijo, na sua maioria por via fluvial, em fragatas e batelões, e que depois circulavam na nossa agora cidade até aos seus destinos, em carroças e galeras. As galeras eram carroças maiores, com quatro rodados e puxados por uma parelha de cavalos.
Estamos em finais dos anos 50.

Vou até à maré, diziam.Ir até à maré significava ir até junto do rio, tentar adivinhar movimento, tentar avistar fragatas ao longe. Talvez isso pudesse trazer trabalho
Havia um Sindicato dos Descarregadores de Mar e Terra que funcionou muito tempo nessa mesma rua vindo, depois a mudar para a Rua Miguel Pais.
Esses homens trabalhavam quando havia algo para carregar e descarregar. Fora isso, permaneciam na taberna,
Jogavam os mais capazes à sueca, à copa e à bisca de 9. Os outros à ronda e ao “acuso”.
Jogava-se também à bisca de 6 ou de sinais, onde dois “mandantes”, recebiam os sinais dos parceiros e comandavam as vazas. Para nós, a astúcia e os truques estratégicos desses mandantes deixavam-nos fascinados.
Bebiam-se copos de vinho, de aguardente ou “traçadinhos”, uma mistura de aguardente e vinho abafado.
Bebia-se fiado.
O Tio Joaquim, que nunca vi traçar um número, tinha os seus próprios algarismos, constituídos por bolas, cruzes e traços. Nas faces das pipas, a giz, ia registando com a sua grafia a dívida de cada um.

Estes homens ganhavam à peça. Tanto por fardo, tanto por saca, etc.
Quando chegavam ou partiam mais fragatas, ganhavam mais. No inverso, ganhavam menos, ou nada.
Havia um chefe, naquele caso o dono das carroças e galeras, que seleccionava a quantidade de homens necessária ao desempenho das tarefas, contabilizava o que cada um ia acumulando e pagava, normalmente no final da semana.
Nesse dia de receber, parte do dinheiro servia para pagar os fiados e o Tio Joaquim lá apagava a totalidade ou parte das bolas, cruzes e traços de cada um.

Os mais afortunados faziam-se transportar numa bicicleta ou calçavam alpargatas, os outros andavam a pé e descalços.
Existia também uma hierarquia: Os mais velhos e assíduos constituíam o núcleo do rancho. Eram normalmente os que eram mais vezes escolhidos, trabalhando por isso mais vezes, logo ganhando mais. Os outros, ficavam “às deixas”. Se fosse hoje, dir-se-ia estar no fundo da escala social.

Quando as bolas, cruzes e traços do tio Joaquim ameaçavam ultrapassar os extremos das pipas, acabava-se o fiado para o devedor, e ele deixava de jogar às cartas passando a fazer parte, tal como eu e o Alexandrino, do círculo de espectadores.
Eram esse que, por vezes cansados de nada fazerem, se levantavam e saíam.
Vou até à maré, diziam.

Ir até à maré significava ir até junto do rio, tentar adivinhar movimento, tentar avistar fragatas ao longe.
Talvez isso pudesse trazer trabalho.
Talvez pudessem abater parte do fiado.
Talvez levar algum dinheiro para casa e abater também parte do rol na mercearia.

Alguns destes homens foram chamados a combater na guerra colonial.
Outros, subiram na tal escala social e foram trabalhar para as fábricas.
Uma grande parte emigrou, por vezes a salto.

Cresci e brinquei junto a esta taberna.
Conheci estes homens que comigo brincavam e me ensinavam “a escola toda”.
Aprendi a respeitá-los.

Ouço por vezes dizer que antigamente é que era bom. Que havia trabalho para todos.
Havia trabalho, mas não era para todos.
E a miséria era muita.
Vou até à maré, diziam os excluídos do Tio Joaquim.
Mas os tempos eram outros, dirão alguns, em todo o lado era assim!
É mentira.

Muitos dos que emigraram regressavam passados poucos anos com uma vida diferente. Vestidos, calçados e ao volante dos Simcas e Renaults da altura, comprados em segunda mão.
Contavam como foi difícil o início mas como foram apoiados na escolha de uma casa e como dispunham de escolas para os filhos e todo um apoio social para a família.

Senti vontade de falar destes homens nas vésperas de mais um dia 25 de Abril.
Gostava que ninguém mais precisasse de, como eles, “Ir até à maré”

 24 de Abril de 2012

Manuel Barrona




terça-feira, 24 de abril de 2012

Igreja do Divino Espírito Santo
A mão do Povo a fez (2)


Igreja do Divino Espírito Santo - 1906. É patente o gradeado à fente da porta principal e os cunhais com a forma primitiva. A actual resultou da campanha de obras de 1999, que descobriu a pedra no seu formato original. Na fachada, do lado esquerdo, vê-se uma mancha escura semelhante a uma garrafa. Era um objecto que prendia a corda do sino, que era tocado sempre que havia algum acontecimento, nomeadamente, incêndios.


Continuamos a nossa visita à Igreja Matriz do Divino Espírito Santo. Convido-vos a entrar, respeitosamente, na Casa de Deus edificada pela mão dos Aldeanos.

O interior da Igreja

1.      Admirando o vão do coro

Ultrapassados os três degraus entra-se no vão do coro, que antecede o guarda-vento.



Aqui a atenção vai para o revestimento azulejar tipo “tapete” existente na abóbada



Em que se destaca, ao centro, um embutido cerâmico figurando Nossa Senhora do Rosário, datado de 1645

E lateralmente, para os painéis de azulejos que vestem as paredes representando, o do lado esquerdo da entrada, a


Coroação da Virgem
                                                          
E, o do lado direito, o

Casamento da Virgem
São ainda dignas de registo, as imagens, em baixo, que ladeiam a Coroação e o Casamento, além de outros pequenos pormenores dos painéis.








Pormenor do painel representando o Casamento da Virgem. A cumplicidade testemunhal em dia de núpcias.

Num espaço tão pequeno como é o vão do coro, tanta riqueza de cultura! Temos ou não uma belíssima Igreja? É um tesouro que bem devemos conhecer para melhor e mais profundamente o amarmos.  

A visita prosseguirá.

Ruky Luky