segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Os Coretos de Montijo

1.   Coretos da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro

Coreto amovível construído em 1903 para as Festas do Divino Espírito Santo. Obra do mestre-carpinteiro José Rodrigues Pancão.

Foi no século XIX, que o coreto, que começou por ser um simples estrado coberto de folhagem, se transformou num dos principais elementos do mobiliário urbano das povoações, tornando-se símbolo de uma cultura urbana que se começava a definir.

A Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro começou por armar o seu coreto, no centro da Praça (da República), na Páscoa e a desmontá-lo em Outubro, animando as festas do calendário litúrgico e os serões populares.

Em 1873, o coreto, embora amovível, assentava já sobre uma base de pedra, como se adquire do pagamento que aquela associação realizou com a «despesa de armar o coreto e mudança de pedras do dito 18$000».

Coreto em forma de galeão colocado junto ao Cais das Faluas, nas Festas do Divino Espírito Santo, em 1903. Foi uma iniciativa de António Pedro da Silva, proprietário do estaleiro de construção naval da então Vila de Aldegalega.
Aquele tipo de coreto manter-se-á até 1895, momento em que a Câmara Municipal de Aldegalega insistiu com a Sociedade Filarmónicas para que construísse um novo coreto, «atendendo ao estado pouco decente» que patenteava o que estava erguido na praça.

Quatro anos depois, com o apoio do seu próprio cofre, de uma subscrição pública e da autarquia, a associação inaugurou o seu novo coreto.

Em 1914, o coreto foi sujeito a obras de restauro e, em 1917, a Câmara Municipal de Aldegalega municipalizou o coreto.

Coreto da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro construído em 1899. Festas do Divino Espírito Santo 1903.
Mudam-se os tempos… mudam-se as políticas.
Em 1925, a Sociedade filarmónica 1.º de Dezembro viu deferida a autorização para construir um coreto no «centro da praça (da República)», e no dia 1 de Agosto daquele ano, a Comissão Pró-Coreto procedeu ao lançamento da 1.ª pedra. Um ano mais tarde, no dia 8 de Agosto, procedeu-se à inauguração do coreto com um vasto programa cultural, que se estendeu por oito dias.
Coreto da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro.São visíveis o gradamento exterior e a inscrição S.F.1.º D.
O coreto, que ainda hoje pode ser admirado na Praça da República, é caracterizado pela forma octogonal do embasamento de pedra, com uma guarda de balaústres de marmorite, e pela cobertura metálica em forma de cúpula assente numa estrutura de pilares de ferro. No forro interior foi colocado o brasão da Sociedade e no pavimento gravado seu nome e a data da inauguração.

A introdução de uma cúpula sobre a cobertura metálica ficou a dever-se ao mestre-serralheiro Virgílio Martins Costa que, julgando o projecto inicial muito modesto, resolveu enriquecê-lo com um adorno semelhante às cúpulas da Praça de Touros do Campo Pequeno de Lisboa, pintando a cobertura e a cúpula de vermelho, respeitando as cores da praça de touros de Lisboa.
 
O coreto foi municipalizado em 1950. Os balaústres são de cimento e o gradeamento que protegia o coreto foi retirado em 1943. Foto de 1994.
Em 1943, devido às obras de remodelação da Praça da República foi retirado o gradeamento exterior que protegia o coreto.
Em 1982, o coreto foi beneficiado com a recuperação da cobertura, pela substituição dos balaústres de marmorite por outros de cimento, obra executada por José Luís da Costa Horta (Maxinó).
15 anos mais tarde, sofreu novas obras de beneficiação. A cúpula foi pintada de verde, o pavimento foi substituído e foi instalado um moderno sistema de iluminação. As obras foram realizadas por Cipriano Moreira da Costa.
Registe-se, como mera curiosidade, que José Luís da Costa Horta e Cipriano Moreira da Costa são descendentes em linha recta de Virgílio Martins Costa, o construtor do coreto.

O coreto municipal com o aspecto que lhe foi conferido pelas obras realizadas em 2001.
Em 2001, o coreto foi sujeito a obras de alteração realizadas pela empresa Carlos Correia Gomes, Construções Ld.ª, que lhe conferiu o aspecto com que hoje se apresenta. Os balaústres de cimento foram substituídos por gradeamento metálico, parcialmente amovível, e a cúpula voltou a ser pintada de vermelho.
O coreto é, desde a década de cinquenta, propriedade municipal.

A introdução de uma cúpula sobre a cobertura metálica ficou a dever-se ao mestre-serralheiro Virgílio Martins Costa que, julgando o projecto inicial muito modesto, resolveu enriquecê-lo com um adorno semelhante às cúpulas da Praça de Touros do Campo Pequeno de Lisboa, pintando a cobertura e a cúpula de vermelho, respeitando as cores da praça de touros de Lisboa.

(Cont.)

Ruky Luky

 

 

 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Íamos os 4

  Íamos os quatro despreocupados pela alameda, num dia soalheiro de fim de tarde, quando o sol já acetinadamente manso ainda aquece, mas já não queima: Helena, a infanta, a empurrar um carrinho; Francisco, o moço; Rita, a mãe, e eu, o avô.
Caminhávamos esquecidos do tempo e saboreávamos apetitosos gelados entre muitos dedos de conversa e de franco convívio.
Helena, a infanta começou a correr.
Francisco, o moço, cuidadoso tio, partiu atrás da menina.
Rita, a mãe, continuou a conversar comigo.
Assim passámos a ir os quatro:
Helena começou a correr.
Francisco apressou o passo.
Rita partiu preocupada.
Eu fiquei sozinho.
Mais adiante,
Francisco encontrou a Helena e a Rita apanhou os dois.
Seguiram os três, que a vida é assim mesmo.
Olhavam para trás, sorriam-me e acenavam e brincavam.
Avançavam cada vez mais e eu cansado ia ficando.
Olhavam para trás, sorriam-me e acenavam.
Olhavam para trás e eu já não via se eles se riam, mas acenavam-me.
Acenaram-me, mas eu já não estava.
Ruky Luky



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fábrica de Loiça de Sacavém


Painéis de Azulejos da Fábrica de Loiça de Sacavém, em Montijo


A Fábrica de Loiça de Sacavém foi uma importante unidade industrial, que terá sido instituída em 1850, por Manuel Joaquim Afonso, embora só tenha começado a laborar seis anos mais tarde.
A fábrica foi, posteriormente, adquirida por um cidadão inglês, que introduziu novas técnicas de produção oriundas da Grã-Bretanha.

Atendendo à qualidade alcançada pelos seus produtos, D. Luís I concedeu o privilégio de a fábrica se poder intitular Real Fábrica de Loiça de Sacavém.
Para além disso, nos últimos anos da sua vida, o rei-consorte D. Fernando II executou e pintou várias peças cerâmicas naquela fábrica.
Nas primeiras décadas doséculo XX, o pintor Jorge Colaço executou na fábrica os azulejos para diversas das suas mais significativas obras: a Estação de S.Bento, no Porto (1903), o Palace Hotel do Buçaco, no Luso (1907), o Pavilhão dos Desportos, em Lisboa (1922), ou a Casa do Alentejo, também na capital.
Após o 25 de Abril de 1974, a Fábrica de Loiça de Sacavém entrou num conturbado período, tanto a nível laboral, como financeiro, acabando por encerrar em 1983.
A qualidade da cerâmica produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém rivalizou com as melhores faianças produzidas no País, tornando-se célebre o slogan: «Sacavém é outra loiça!».
No Montijo, há alguns quatro painéis de azulejos da Fábrica de Loiça de Sacavém a adornarem a fachada de um dos seus imóveis, datados da década de 50 do século XX.


 
 Ruky Luky









terça-feira, 14 de agosto de 2012

27.º Aniversário da Cidade de Montijo

As Lágrimas Amargas da Minha Cidade

 1998 anunciou-se como o ano de todas as esperanças num futuro ridente para Montijo, mas, por falta de engenho e de arte, transformou-se no marco da pior de todas as transformações que uma cidade pode sofrer – a perda da sua alma e identidade e a sua constituição em dormitório.

Após a vitória eleitoral, Maria Amélia Antunes teve quem, que imitando o escravo romano, lhe foi lembrando, na hora do triunfo, após a vitoriosa batalha eleitoral: «Lembra-te que és uma mulher. Cuidado! Não caias (cave ne cadas).»

Era o modo de, perante as aclamações que a população sempre dispensa aos vencedores, abater o orgulho que pudesse inspirar a autarca, apelando-se, assim, à humildade democrática na gestão do município.

O poder é um perfume subtil e sedutor, mas forte e embriagador, que mina os incautos seduzidos e mortificados pela vã e passageira glória.

Cedo foram afastados todos quantos por genuína vontade de mudança e de desenvolvimento de Montijo apoiaram livre e criticamente a batalha eleitoral de Maria Amélia Antunes, e substituídos por uma principesca e submissa corte. Cedo se começaram a imitar os piores vícios da anterior gestão comunista.

Montijo foi beneficiado com condições políticas, financeiras e económicas como nunca tinha usufruído, pelo menos, nos últimos 150 anos da sua história.

Um poder político maioritário e da mesma coloração ideológica do poder central; investimentos avultados na área da construção civil e nas infra-estruturas realizados por investidores privados; arcas municipais repletas pelas taxas pagas pela construção civil e pelo apoio constante do governo central; uma oposição débil; o silenciamento do único jornal plural concelhio a par de uma forte aposta na propaganda política, são alguns dos elementos a considerar.

O momento era ímpar e grandioso e exigia lucidez e inteligência suficientes para se ter avaliado que as tarefas a realizar eram ciclópicas e que só poderiam ser levadas a bom porto com a colaboração/participação de todos.

Porém, contraditoriamente, Montijo viu rasgar-se o seu tecido social, fenecer a sua actividade económica e minimizarem-se os seus agentes culturais e desportivos.

Agrilhoada a sua alma, a Cidade regrediu e transformou-se em mais um dormitório da Área Metropolitana de Lisboa.

Montijo testemunhou a ascensão da prepotência e do nepotismo corolário da ausência de humildade democrática e de sentido de missão e de dever públicos.

Estrangulou-se a Liberdade e sem Liberdade não há progresso, porque, como registou o poeta, «A Liberdade é para o brilho das consciências o que o Sol é para a vida da Natureza.» (1)

As horas de mor tormenta deveriam ter sido preenchidas com plena serenidade, farol da tolerância, essa tolerância que «é, antes de mais, o respeito profundo pelos direitos e liberdades dos outros, mas também o resultado de um sentimento de benevolência pelo próximo». (2)

O monolitismo político instalou-se na Polis e de mãos dadas com a mediocridade anatematizou quem ousou dizer não.
Amordaçou o debate de ideias, burocratizou a cultura, aliou-se ao obscurantismo como forma de sobrevivência política, utilizou o medo como espada, ignorando que «Cultura e liberdade identificam-se – sem cultura não o pode haver liberdade, sem liberdade não pode haver cultura [porque] a cultura deve em primeiro lugar dar a cada homem a consciência integral da sua própria dignidade» (3) e, por outro lado, que «Com o tempo, o espírito acaba sempre por vencer a espada.» (4)

A Terra segue, assim, exangue sob o som das trombetas da injustiça e do medo, num tempo em que «os dias que vão passando dizem à boca pequena que até o silêncio chora.» (5)

O PS/Maria Amélia Antunes foram a negação de rei Midas – tocaram em Montijo e transformaram o seu ouro em pechisbeque, e assim se apresenta, hoje, Montijo, como um dormitório, como uma cidade que, em determinados períodos, se assemelha a uma cidade-fantasma pela ausência de vida que patenteia e, sobretudo, por ter perdido a sua alma.

Passa, hoje, o 27.º aniversário da cidade de Montijo sem qualquer cerimónia, por mais modesta que fosse, a assinalar a data. Não é um sinal dos tempos de crise que vivemos – ali, os nossos vizinhos alcochetanos estão a celebrar com “pompa e circunstância”, as Festas do Barrete Verde -, mas, sim, da incompetência que tem sido apanágio do governo municipal que lançou o Montijo para uma das suas maiores crises históricas, atoleiro donde tão cedo ou nunca se libertará. Morta a alma de uma cidade como ressuscitá-la?

O sonho de 1998 transformou-se num pesadelo a lançar as suas trevas para o futuro.


«Minha terra está sangrando
As aves morrem de pena
Mais penas tem quem cá mora;
E os dias que vão passando
Dizem à boca pequena
Que até o silêncio chora.

Órfãs de lua e de estrelas
As noites vestem de luto
Por madrugadas chorando
O vento recusa as velas
Esperanças não as escuto
Minha terra está sangrando.»
            João Dias


Chora, terra bem-amada, mas ergue-te na força da tua vontade.

 Ruky Luky

1.     Joaquim Serra
2.     Latino Coelho
3.     Bento de Jesus Caraça
4.     Napoleão
5.     João Dias




sábado, 11 de agosto de 2012

Retina - Capítulo I

À Conquista do Próprio Lar
A Madeira, considerada um jardim no meio do Atlântico, tem presenciado, nos últimos anos, um aumento exponencial na construção tanto de habitações como de empreendimentos turísticos, apenas ligeiramente atenuado pelo declive da ilha. Só as Desertas (ao fundo) aparentam ter uma luz de esperança que as permite escapar ao flagelo da construção desenfreada que afeta a rainha do arquipélago.
Francisco Soeiro Aleixo

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Boas Férias

Boas Férias
              A procura da simplicidade na captação da fotografia 
            acompanha a história do fotografia. Quando lançou o
            "caixote" «Brownies", a Kodak "embrulhou-o" no slogan :
            «Carregue no botão, nós fazemos o resto».
               Carregue no botão e boas férias. 


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Memórias de um pescador

António João Coelho de Sousa [Marcelino]



António João Coelho de Sousa, uma vida ligada ao Tejo
Este rio, que eu bem conheço… Parece que não fiz outra coisa na vida a não ser viver no rio. Ainda andava na escola e já ia à pesca com o meu pai. Porque gostava muito. O que eu gostava mesmo – e continuo a gostar – é do rio, da pesca e das suas artes. Não há nada nesta faina que eu não tenha aprendido. Navego neste rio, que o conheço como as minhas mãos, desde que me conheço…
A Campanha… O meu bisavô foi pescador. Aos 85 anos ainda pescava. O meu avô, Marcelino de Sousa, foi um dos fundadores da Sociedade Cooperativa União Piscatória e o meu pai, António João de Sousa, foi um dos animadores das Festas dos Pescadores, em 1950. Eu bem posso afirmar que nasci e vivo no rio. As minhas brincadeiras preferidas eram no rio e aos dez anos já partia para a faina com o meu pai, na sua campanha.

A campanha tinha normalmente 14 homens. O meu pai chegou a andar com uma campanha de 14 homens e 17 rapazes ao rabisco.

Havia regras a cumprir. Nas refeições, enquanto durasse a faina, normalmente 10 a 12 dias, comíamos todos do mesmo alguidar. Os rapazes que andavam ao rabisco tinham de pagar o seu próprio pão e não tinham direito a beber vinho.

Quando a campanha partia, levava, normalmente, o bote-mãe, os botes-enviada, as canoas das redes e as caçadeiras (lanchas de transporte). Cada homem levava as suas próprias redes. Como não havia meios para conservar o peixe apanhado os botes-enviada transportavam-nos logo para terra para serem vendidos.

No final da faina, juntava-se todo o dinheiro e fazia-se a repartição da seguinte maneira: primeiro, tirava-se o dinheiro da Associação (SCUP) e do padeiro, que era para pagar o avio feito na Associação e no padeiro. Da Associação nós levávamos o bacalhau, as batatas, o azeite, o vinho, o vinagre, a lenha, as cebolas, e os alhos, que eram ali vendidos. Depois, o restante dinheiro era divido por partes, assim: 1 homem - 4 partes; Quinhão das redes – 2 partes; Bote-mãe – 4 partes; Bote-enviada – 3 partes; Canoa de redes – 1 parte; Caçadeiras – 10% a 15% do quinhão das redes.

«Tapa-esteiros» ou «cerco», arte da pesca praticada, em Montijo, até ao final da actividade piscatória, na década de 90.

Por este rio acima… Ao longo do esteiro íamos até Cacilhas e subíamos o rio até Pancas. Ainda usei o “tapa-esteiros” nos Olivais, Poço do Bispo e por ali além. Nesse tempo, sim, valia a pena. Só para se fazer uma ideia do rio, aí há trinta anos, basta dizer-lhe que, quando as corvinas começavam a roncar faziam tal barulho que superava o das máquinas e era de tal modo ensurdecedor que ficávamos com a cabeça a zunir. Acredite, que não exagero. O rio estava cheio de corvinas, tantas como pedras há numa calçada. E não eram só corvinas. O rio era generoso no que nos dava e tudo era bom. As ostras, por exemplo, eram sadias, saborosas, cheias de miolo. Quem não as conheceu assim como eu e os meus companheiros ainda as conhecemos, terá, talvez, dificuldade em acreditar que se apanhavam ostras com meio quilo de miolo.
Botos… Golfinhos… Se os vi…Havia muitos, na Doca do Alfeite, onde era proibido pescar. Eles andavam por ali porque sabiam como eu que havia muito peixe. Não havia dia nenhum que, em grupos, os golfinhos não subissem até ao Montijo. Com a poluição desapareceram as algas, as ostras e os botos. Foi um desaparecimento quase simultâneo.

Canoas atracadas no Cais dos Vapores- 2012

O rio e as artes da pesca… Ainda me recordo de ter visto construir aqueles barcos, nos estaleiros de Montijo. Ali, enterrados [no lodo] estão o “Passarinho”, o “Espantalho”, o “Teimoso” e a “Flor de Montijo”. Você já reparou que a Moita, o Seixal e Alcochete, entre outras localidades, têm barcos daqueles a navegar e só Montijo e Lisboa é que não?

Naquela altura o rio era bonito, com centenas de embarcações à vela. O tejo ficava todo embandeirado. O transporte de mercadorias era feito pelo rio e ficou-me na recordação o bote “Carlos Alberto”, do Izidoro, que fazia abastecimento até Salvaterra.

Não quero errar, mas não andarei longe da verdade se disser que, entre 1940/1950, havia perto de 400 pescadores e 30 ou 40 catraios.

Usávamos várias artes, que foram sendo proibidas ou esquecidas, como o candeio, o tresmalho ou tramalho, as redes singeleiras, o arrasto, a pesca à chincha, entre outras. O rio era rico, cheio de corvinas, charrocos, salmonetes de todo o tamanho, douradas santolas, camarão e ostras, a valer, raias, em grande abundância até à zona das lezírias, e tantos outros peixes…

Hoje? Nem robalos, nem enguias, nem patruças… Lá se vai pescando uma ou outra coisinha, mas a vida está má. Há dias – e tantos são – que o que se pesca não paga as despesas.

Apetrechos de pesca - Cais dos Vapores, 2012

Lubélia Maria… A minha embarcação é a mais antiga do Tejo, dentro do seu género. Está registada na Delegação Marítima há 120 anos. Nem sempre se chamou «Lubélia Maria». Quando a minha família a comprou chamava-se «Maria Luísa», mas após a reparação a que foi submetida, mudámos o nome para «Merlinda» e, com o nascimento da minha filha, resolvi dar-lhe o nome com que baptizara a minha filha, «Lubélia Maria».

Era um barco à vela, como os catraios. Em 1948 ou 1949, foi-lhe aplicado um motor fora-de-bordo, que só se começou a vulgarizar a partir de 1955. Em 1964, tornou-se foi a primeira canoa com motor a bordo, no Tejo.
Ali, enterrados [no lodo] estão [estavam] o “Passarinho”, o “Espantalho”, o“Teimoso” e a “Flor de Montijo”. Você já reparou que a Moita, o Seixal e Alcochete, entre outras localidades, têm barcos daqueles a navegar e só Montijo e Lisboa é que não?
Uma classe pobre… Sempre fomos uma classe pobre. Não houve trabalhador nenhum que não tivesse de trabalhar até morrer. Poucos conseguiram amealhar para comprara a sua própria casa. E foram as privações que os pescadores passaram que levaram um pequeno grupo deles a constituir a Sociedade Cooperativa União Piscatória, que, tanto quanto eu sei, foi a única do seu género no País. A Sociedade Cooperativa permitiu que os pescadores se aviassem e abastecessem as suas famílias fazendo as contas ao voltarem da faina.

No Inverno, por questões de segurança, os pescadores procuravam outra ocupação. Trabalhavam então nos transportes, na agricultura ou na chacinaria. Não fugi a este destino, pois também trabalhei nos transportes e na chacinaria. Mas, felizmente, o rio e a vida não foram maus para mim.


Nota: António João Coelho de Sousa, nascido no ano de 1934, em Montijo, é o último elo de gerações sucessivas de pescadores.

No início da década de 90, por imposição do Regulamento 402/86 da Comunidade Europeia, a generalidade dos pescadores de Montijo teve de proceder ao abate físico das embarcações de pesca com um comprimento, entre perpendiculares, inferior a 9 metros, iniciando-se, assim, o processo que levou, praticamente, ao fim da faina piscatória, em Montijo.

António João, ou Marcelino, como também é conhecido em homenagem ao seu avô, testemunha o fenecimento do rio, que foi riquíssimo, mesmo neste braço que embeleza Montijo. No início do século XX, havia tantos botos (golfinhos) no esteiro, que dizimavam os peixes, que os pescadores tiveram de pedir apoio às autoridades para combaterem tão poderoso concorrente. Por outro lado, tornaram-se lendárias as ostras de Aldegalega, que eram exportadas para alguns países europeus.

O texto foi composto a partir da entrevista que o «Pescador», como o tratam os seus amigos, concedeu à “Nova Gazeta”, em 1991.

Guarde-se, então, esta memória, para mais tarde recordar, quando as corvinas voltarem a povoar o rio…

Ruky Luky




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Pátios de Montijo

Vila Correia


Vila Correia é o nome do pátio localizado no término da Rua do Alm. Gago Coutinho

A entrada do pátio

A proximidade das habitações originou fortes e originais laços de vizinhança.



Apesar de ser constituído por casas singelas e habitado por uma população de fracos recursos económicos, é notório o esmero na conservação do pátio, bem traduzido no cuidado como são tratadas as plantas. Permita-se a nota: não há um papel no chão.

 Flor "colhida" num recanto à entrda do pátio

Vila Correia recebe-nos num recanto extremamente acolhedor e aprazível. Ali, deve viver gente sensível e de bom gosto.


Ruky Luky