terça-feira, 26 de março de 2013

Manuel Giraldes da Silva

Musas e Poesia

No sonho do homem cabe
Todo o domínio que quer;
Mas desvendar nunca sabe
A alma duma mulher...


As cartas de amor mais belas
Marcam as almas melhor...
As minhas nem sabes delas
As tuas sei-as de cor!...

Quando Deus criou o mundo
teve um sonho de grandeza:
Foi com desvelo profundo
Pôs na mulher a beleza.

Meu amor, quando chegares,
Não batas, não digas nada,
Porque assim que tu entrares
Fica a casa iluminada.

Mas só te quero pedir
Que não entres de repente...
Pois tanta luz a fulgir
Até quase cega a gente...
 

Se vens de branco vestida,
Da cor que a candura atesta
Tão simples, nada garrida...
Eu dou-te um beijo na testa.

Se vens de preto, elegante,
Pisando com distinção...
Em curvatura galante,
sorrindo, beijo-te a mão.

...Mas se é vermelho de cor,
A minha alma fica louca,
E dou-te ardente d'amor
Um longo beijo na boca.

Cativa?!...ousas dizer!
Cativa, diz, de quem?
Se cativo do teu ser
Ando cativo também!





À tua porta bati
Perdido no meu caminho,
E bem feliz me senti
Da esmola do teu carinho.
 

Não prendam nem um momento
As aves são p'ra voar.
É ave meu pensamento
Deixem-no livre sonhar.

O verso quando se sente
Não custa nada a escrever
É como a água corrente
Que desliza sem saber.


Manuel Giraldes da Silva [27.05.1898 - 37.11.1974] , poeta popular montijense,foi também um admirável fotógrafo amador.
Nesta publicação legendamos fotografias de amigas suas, captadas na década de 20, com com algumas quadras que o poeta escreveu alguns anos mais tarde.
As fotografias foram reveladas pelo autor, que dispunha de uma banal máquina fotográfica.
As obras de Manuel Giraldes da Silva, a poética e a fotográfica, bem merecem ser divulgadas.

Ruky Luky




quinta-feira, 21 de março de 2013

Aspectos do Palácio de Rio Frio

Manuel Giraldes da Silva, Fotógrafo
[Pinhal Novo, 27.05.1898 – Alcochete,27.11.1974]

O Palácio de Rio Frio foi mandado construir por António Santos Jorge, em 1918. É um projecto do arquitecto José Luís Monteiro. O Palácio está decorado com azulejos de Jorge Colaço.
Manuel Giraldes da Silva, cujo legado impulsionou a instituição da Biblioteca Municipal de Montijo, foi, além de cultor das letras, fotógrafo amador.

Trabalhador e residente na Herdade de Rio frio, foi um observador privilegiado da vida naquela que foi uma das maiores propriedades da Europa.

No seu álbum fotográfico intitulado “Rio Frio”, Manuel Giraldes da Silva registou vários aspectos daquela localidade e do interior do Palácio, alguns dos quais reproduzimos.
São cópias modestas, feitas de modo artesanal, mas que respeitam, dentro do possível, o original.
As fotografias foram capatadas entre os anos de 1926 a 1928.

Como fotógrafo amador, Manuel Giraldes da Silva emprestou as suas obras para servirem de motivo dos azulejos que ornamentam a estação dos Caminhos de Ferro de Pinhal Novo e para ilustrarem, entre outras, as seguintes publicações:«Portugal Ilustrado», «História da Tauromaquia» e «Paço de Queluz», de Francisco Gâncio; e «As Mulheres do meu País», de Maria Lamas.
Com esta publicação, e outras que se seguirão, pretende-se não só prestar uma sincera homenagem, mas também revelar a faceta de fotógrafo, que se deve aliar às de bibliófilo, filantropo e poeta, do autodidata que foi Manuel Giraldes da Silva.

 Ruky Luky


quinta-feira, 14 de março de 2013

A Rua do Hospital

 Que foi Rua da Torre

A Rua do Hospital, um dos mais antigos topónimos de Montijo, localiza-se no centro histórico de Montijo, termina na Rua da Misericórdia, mas serve de ligação da Rua Almirante Cândido dos Reis [Rua Direita] à Avenida João de Deus [Rua Nova].
 
 
 
 
 

A existência de uma Albergaria e Hospital, em Aldeia Galega do Ribatejo/Montijo, é já assinalada no século XV. No século XVI, a Albergaria e o Hospital estavam localizados nesta artéria, que se passou a designar, desde então, de Rua do Hospital. É assim uma das mais antigas artérias da cidade.
 
 
 
 
A rua apelidou-se, primitivamente, de Rua da Torre, porque, como esclareceu, no século XVIII, Frei Inácio de Santo Agostinho, «presume-se que o nome Torre que a rua tinha, lhe adviera do facto de nela existirem as primeiras casas sobradas  (com vários pisos) que até então houveram na vila e que eram conhecidas pelo nome de casas da torre.» 


Na década de 90, do século XX, a rua animava-se, ainda, com os residentes e o movimento dos serviços.


Os serviços, que ali existiam, na generalidade, encerraram as suas actividades, e mesmo o venerável sapateiro, de provecta idade, já vai entretendo o tempo com dois dedos de conserva.



Estas duas caras (séc. XV/XVI?) são a imagem de marca da rua


Este edifício, que se presume ser da época manuelina, era uma das atracções da Rua do Hospital e de Montijo. As obras de remodelação a que foi sujeito, com aprovação camarária, alteraram-lhe a fachada, estriparam-lhe as marcas de vetustez e"mataram-lhe a alma".
Nada se perde, tudo se transforma, dizia o famoso cientista. Em Montijo, tudo se perde, nada se transforma.


 


Rua estreita e calma, que convida a um passeio à descoberta de alguns dos testemunhos da velha Aldegalega do Ribatejo.

Fotos: Março/2013

Ruky Luky














 

 
 

 


 
 




domingo, 10 de março de 2013

O Tribunal Judicial de Montijo


 
Quando, na década de cinquenta, a edilidade idealizou a construção de um novo tribunal, preocupou-se em enquadrá-lo na zona do Parque Municpal, sem que este fosse amputado. Foi feliz o autor do projecto, Arquitecto Raul Rodrigues Lima.  [Fotografia: início da década de 80]
 
 
 

No século XVI, Aldeia Galega do Ribatejo [primitivo nome da actual cidade e concelho de Montijo] já tinha juiz ordinário.
No século XVII, recebeu a Ouvidoria, que tinha sido transferida para Alhos Vedros, e, apesar das reformas judiciais realizadas a partir de 1832, a vila manteve sempre a sua comarca, salvo pelo curto espaço de tempo em que, por razões políticas, foi transferida para a Moita, mas que a população contestou. [Fotografia - início do século XX. Edifício onde funcionou o Tribunal, a Câmara Municpal e o Mercado (no rés-do-chão].


 


Segundo o “Jornal do Commercio», de Lisboa, de 23 de Janeiro de 1868, quando em Aldegalega se soube da «demissão do ominoso ministério, as demonstrações de regozijo tinham sido sucessivas, e cada vez maiores; parecia que não havia para este povo ovações que correspondessem à força do seu sentimento, e comemorassem dignamente a sua íntima satisfação, pela restituição dos foros e liberdades, que o despotismo lhe tinha usurpado com inaudito escândalo.»
Conta José de Sousa Rama que «logo que constou oficialmente que o novo governo restituía ao concelho de Aldeia Galega a sua antiga independência, este povo, cujo espírito foi sempre muito liberal e anti-reaccionário, surpreendido por tão agradável quanto inesperada notícia, percorreu de noite as ruas da vila, em manifestações de imenso regozijo, acompanhado de um sol-e-dó. Muitas senhoras se associaram a estas patrióticas manifestações, soltando das janelas entusiásticos vivas à independência da nossa terra, e até algumas chegaram a disparar tiros de espingarda! Como se não houvesse foguetes na vila, grande número de indivíduos saiu com espingardas para a rua, a juntar-se aos manifestantes, e era ver aquele que mais tiros disparava! Um delírio! Felizmente, durante as três noites em que se repetiram essas manifestações, em que toda a população tomou parte, não houve a registar o mais insignificante desastre.»
No dia 22 de Janeiro de 1868, regressaram a Aldeia Galega «os livros da conservatória, única parte do arquivo, que desta administração tinha ido para a Moita, e levados á casa da administração sobre um macho, ricamente ajaezado, e coberto de um pano encarnado, com as armas reais. Se grande tinha sido a dor, pela perda da sua autonomia, grandiosa devia ser a expansão da sua alegria, pela sua restituição.» [Fotografia - 2013]
 
 
 

 




No dia 25 de Maio de 1879, o edifício da cadeia e tribunal foi inaugurado pelo Presidente do Conselho de Ministros, Fontes Pereira de Melo, na presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrade Corvo, do Ministro da Justiça, Couto Monteiro, do Procurador Régio, Faria d’Azevedo e demais entidades locais. [Fotografia - início do século XX]


 

 

 


Embora tivesse sido alvo de várias benfeitorias, mormente em 1937, uma das mais importantes a que foi sujeito, certo é que, setenta e quatro anos decorridos sobre a data da inauguração, o edifício do Tribunal necessitava de obras profundas que permitissem que também ali se instalassem todos os serviços dependentes do Ministério da Justiça. [Fotografia - início do século XX - a porta regista a data do lançamento da primeira pedra para a construção do tribunal e da cadeia. Hoje, ali estão instalados os Paços do Município].
 
 
 
 
Nesse mesmo ano, em Outubro, a Câmara Municipal deliberou que o edifício fosse construído a norte do Parque Municipal porque «a grandiosidade e valor arquitetctónico do Palácio de Justiça impõem a escolha de um local condigno», e adquiriu a Francisco Benito & C.ª o lote de terreno necessário, evitando, assim, que o Parque Municipal tivesse sido amputado.[Fotografia - o edifício do Tribunal de Montijo, à época da sua construção].
 


 O novo edifício do Tribunal – Domus Justitiae -, construído com mão-de-obra prisional, foi inaugurado em 20 de Dezembro de 1959, pelo Ministro da Justiça João de Matos Antunes Varela.
De planta rectangular, apresenta, segundo Joaquim Baldrico, «uma fachada rectilínea marcada por uma colunata central com arcada de expressão verticalizante e austeridade sóbria, que lhe ocupa quase todo o comprimento, percorrido ao nível do primeiro piso por uma varanda(...)». Segundo o mesmo autor, o seu custo foi avaliado em cinco milhões, cento e cinquenta e dois mil, cento e setenta e nove escudos, isto é, um pouco mais que vinte e cinco mil euros, na moeda actual e sem correcção monetária.
 


Alto-relevo do escultor Euclides da Silva Vaz, datado de 1959, que adorna a fachada, do lado poente.
 
Euclides da Silva Vaz esculpiu também os brasões da Justiça e dos municípios de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo que ornamentam a varanda.

 
 

 
 
Alto-relevo do escultor Euclides da Silva Vaz, datado de 1959,que adorna a fachada, do lado nascente.
 
 

Em 2012, o Palácio da Justiça sofreu uma profunda remodelação que não lhe alterou o rosto, mas modernizou o seu interior adaptando-o às novas exigências da administração da Justiça. Voltou a albergar os serviços da justiça, no início de 2013.
 


A sala de audiências está ornamentada com um fresco do artista plástico Jaime Martins Barata [1899 - 1970], que regista o primeiro Conselho Régio de D. João, Duque de Bragança, em Aldegalega, antes de ter sido aclamado Rei de Portugal,  no qual teria nomeado os Ministros e o Conselho de Guerra Pemanente.



Sessão Solene da inauguração do Domus Justitiae de Montijo presidida pelo Ministro Antunes Varela, em 20 de Dezembro de 1959.
Concluía-se a obra cuja construção fora autorizada pelo ministro Cavaleiro Ferreira.

 

Ruky Luky