terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Um Elefante Branco Chamado Cinema Teatro Joaquim de Almeida

Houve um grupo de cidadãos de Montijo que se empenhou e desenvolveu todos os esforços para que o Cinema Teatro Joaquim de Almeida, que, depois do seu encerramento, correu o risco de se transformar numa discoteca e, posteriormente, em local de culto de uma conhecida seita, revertesse para o património municipal.
Salvaguardar um local de afectos e de boas memórias e um património ímpar da cidade, que tão carecida esta(va) de um “centro cultural”, foram algumas das razões que nortearam o grupo de cidadãos, que se denominou de “Amigos do Cinema Teatro Joaquim de Almeida - ACITEJA”.
     Quando o PS ganhou as eleições e Maria Amélia Antunes foi eleita presidente da Câmara Municipal de Montijo acalentou-se a esperança que o velho cinema fosse transformado numa sala funcional e posta ao serviço da comunidade.
Quem conhecia o edifício sabia que não seria viável a sua exploração, mesmo com fundos municipais, se não fossem introduzidas alterações profundas na sua utilização e gestão, atendendo aos elevados custos de manutenção.
Contudo, a presidente da câmara limitou-se a recuperar o edifício, mas de modo incompleto uma vez que deixou de ser uma sala de cinema.
Constata-se, hoje, que a recuperação do cinema não foi acompanhada de um programa que tivesse proporcionado o efectivo uso daquele edifício pela comunidade e que, em termos de gestão financeira, permitisse uma aplicação proporcional e adequada dos recursos municipais.
Apostou-se, antes, numa visão retrógrada e reaccionária da cultura, cerceando-se, de início, a utilização da sala do cinema aos agentes culturais concelhios, e investindo-se, quase em exclusivo, em espectáculos para um público muito restrito.
Ultimamente, o cancelamento, amiúde, de espectáculos anunciados para aquela sala de espectáculos, que já vinha acontecendo, espaçadamente, há algum tempo, evidencia o resultado de uma incompetente política cultural, que, ao longo destes anos, não conseguiu dinamizar aquele espaço dando-lhe a dimensão almejada pelos montijenses.
As elevadas despesas com a organização dos espectáculos, que poucos espectadores atraem e cativam, com a electricidade e a manutenção do espaço, a par de uma estrutura organizacional obsoleta transformaram o Cinema Teatro Joaquim de Almeida num sorvedouro dos recursos da autarquia.
Os custos da manutenção do Cinema Teatro Joaquim de Almeida devem ser tão elevados que a Biblioteca Municipal Manuel Giraldes da Silva se viu privada dos periódicos e dos jornais diários, assim como da actualização do seu espólio, porque, no que tange à cultura, o empenho do executivo do PS concentra-se em manter as portas abertas daquele que se transformou no elefante branco de Montijo – o Cinema Teatro Joaquim de Almeida.

Ruky Luky







  




A Câmara Municipal do Montijo e a Assembleia de Freguesia de Montijo opõem-se à supressão de carreiras da ligação fluvial Montijo-Lisboa-Montijo

A Câmara Municipal do Montijo e a Assembleia de Freguesia de Montijo opõem-se à supressão de carreiras da ligação fluvial Montijo-Lisboa-Montijo proposta pelo grupo de trabalho, nomeado pelo Governo, para reformular a rede de transportes públicos e simplificar o sistema tarifário da Área Metropolitana de Lisboa.
A proposta apresentada elimina 46 carreiras aos sábados, domingos e feriados e 18 carreiras nos dias úteis e pressupõe a manutenção da ligação fluvial Montijo-Lisboa-Montijo apenas em dias úteis e nos períodos de ponta, entre as 6h00 e as 9h30 e as 17h00 e as 20h00, o que coloca em causa a mobilidade dos cidadãos.







sábado, 24 de dezembro de 2011

Retrato do Hospital de Montijo

«(…) Não foi consensual a opinião da população acerca do funcionamento deste centro hospital [Barreiro/Montijo] que parecia ter, à partida, todas as condições para servir condignamente quem o utiliza, principalmente os residentes  dos concelhos de Montijo e Alcochete e dos concelhos limítrofes. As críticas mais desfavoráveis referem-se ao Serviço de Urgências dos dois hospitais referindo a falta de urbanidade, delicadeza no atendimento e na demora correspondente, uma deficiente articulação entre os dois hospitais que servem um considerável número de habitantes.
Em relação ao hospital de Montijo o acesso não será muito fácil e as medidas ultimamente tomadas vieram agravar os cuidados imediatos, com elevados custos nas deslocações para uma população a viver com muitas dificuldades económico-financeiras no seu dia a dia. Mesmo relativamente ao pessoal hospitalar há um certo desencanto, uma certa desilusão, até um certo impasse nas suas carreiras profissionais e uma sensação de instabilidade para o futuro, resultante do encerramento de serviços, na transferência do pessoal e do incumprimento do que fora prometido, nomeadamente a manutenção da urgência durante 24 horas diárias e a criação de novas valências em regime de consulta externa.
A Liga dos Amigos do Hospital do Montijo tem sempre lutado pela valorização e dignificação do hospital procurando uma certa complementaridade e é pois com satisfação que registamos a criação da Cirurgia do Ambulatório, renovando os desejos da sua utilidade e eficácia.
Desejamos ainda que não se esvazie o hospital do Montijo dos bons profissionais que possui e que a Urgência seja revista e valorizada e não embarcar em grandes aventuras que aparecerão (…)»

(Trecho retirado do editorial assinado pelo Dr. Manuel Barroso da Silva, no boletim “O Assistir”, de Dezembro/2011, e que publico com o devido respeito pelo médico e intelectual por quem nutro elevada estima e consideração. As frases a negrito são da minha responsabilidade.)

Consulta de Pediatria no Hospital do Montijo

As Consultas de Pediatria até agora realizadas apenas no Hospital Nossa Senhora do Rosário, estão já a ser agendadas também para o Hospital do Montijo, em função da sua área de residência.
A abertura desta consulta enquadra-se num plano de rentabilização de recursos do Centro Hospital Barreiro Montijo, potenciado sinergias entre as duas unidades hospitalares, com particular investimento e desenvolvimento em toda a área do ambulatório, no Hospital do Montijo.
Esta é uma perspectiva que vai para além de assegurar qualidade em saúde, promovendo uma cultura de resposta às necessidades globais e integradas de cada criança ou jovem e respectivas famílias, melhorando as condições de acesso, com o exercício de uma pediatria de excelência, sempre que possível em proximidade da área de residência.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Barco Está de Saída?

“ A grande batalha é dotar o centro e a periferia de carreiras urbanas de e para o Seixalinho e, se isso não for conseguido, não nos calaremos”

     Maria Amélia Antunes, Presidente da Câmara Municipal do Montijo, 7.12.2001

Quando se anunciou a eventual deslocalização do histórico cais (dos Vapores) para o Seixalinho, um grupo de cidadãos pediu prudência, estudos e reflexão, antes que fosse tomada qualquer decisão, atendendo ao forte impacto que tal medida causaria nos destinos da vida comunitária. Em vão, à decisão baseada na ciência e na sensatez, optou-se pela via fácil e nefasta do empirismo, na prossecução de uma política baseada no facto consumado, com todos os inconvenientes e prejuízos para o Montijo, que se (re)conhecem.
Não se trata de “chorar sobre o leite derramado”, mas, sim, em clima de tolerância e respeito pelas ideias do próximo, interrogar publica e serenamente os nossos dirigentes autárquicos sobre a sorte e o destino das promessas que fizeram aos montijenses. É um direito dos munícipes, interrogar, é um dever dos autarcas, prestar contas.
Quando, em Maio de 2000, a Senhora Presidente da Câmara, Drª Maria Amélia Antunes, anunciou a deslocalização do cais, fê-la depender de três condições.
Segundo a autarca, a transferência só se efectuaria quando o acesso ao cais fosse feito por uma circular externa, houvesse um interface de transportes para a periferia da cidade, porque, para o interior da cidade, explicava a autarca, e citamos, «nós preconizamos transportes não poluentes a gás ou a electricidade, com uma frota de 10 a 15 autocarros», e fosse recuperada toda a zona ribeirinha.
Mais tarde, ao ver «com sentida emoção e agrado (iniciarem-se) as obras do novo terminal rodofluvial do Seixalinho», a Drª Maria Amélia Antunes reincidiu na promessa de que, com a construção do cais, «o interior da nossa cidade será servido por uma rede de transportes em mini-autocarros, capaz de satisfazer mais e melhor os utentes da Transtejo».
Saliente-se que, já em Fevereiro de 2001, a autarca tinha prometido que «em Junho ou Julho já existirão a funcionar mini-bus à experiência no seio da cidade», que, como se sabe, nunca se concretizou.
Noutros documentos, a edil não deixou de reafirmar a promessa da construção de um interface multimodal de transportes no Cais do Seixalinho, vital para o concelho, a criação de um sistema de transportes rápido a ligar ao Seixalinho e que, devido à transferência do cais, toda a zona ribeirinha beneficiaria de uma intervenção geral na mesma linha do Parque das Nações.
Ora, é sabido que a deslocalização do cais se operou sem que fossem respeitadas aquelas condições ou, sequer, salvaguardada a sua execução a curto prazo.
O Cais do Seixalinho é, em si, pelas más condições que oferece e por não ter captado os cinco mil novos utentes diários da carreira para Lisboa, conforme fora previsto pela autarquia, nem aumentado o número de passageiros em mais de 50%, logo no primeiro ano [quedou-se pelos 7%, apesar do boom urbanístico do Montijo e concelhos limítrofes], conforme sustentou a Transtejo, um flop por excelência.
Segundo a comunicação social, o Governo estuda uma proposta que visa reduzir as ligações Montijo/Lisboa/Montijo às carreiras das horas de ponta e suprimir todas as outras assim como as ligações aos fins-de-semana por serem extremamente deficitárias.
A notícia parece não ter preocupado nem a população nem a generalidade dos autarcas. A população, à excepção dos utentes, já não sente o barco como seu, porque a deslocalização do cais para o Seixalinho quebrou um vínculo histórico cerzido ao longo de séculos. Os autarcas enredam-se em batalhas de alecrim e mangerona.
O barco pode estar de saída, depende de cada um de nós a sua amarração ao Montijo, de modo que sirva os reais interesses do concelho.

Ruky Luky

O Triste Natal de Montijo!

No calendário cristão, o dia 25 de Dezembro, em que, simbolicamente, se comemora o nascimento de Jesus Cristo, esse Menino feito Homem, que pela dimensão do seu gesto deu outro sentido à vida de uma parte significativa da humanidade, é uma data maior.
O Natal é assim, na sua essência, um momento de reflexão e de santa comemoração, mas também de exaltação dos princípios cristãos da Concórdia, do Perdão, do Amor e da Liberdade, porque, segundo o apóstolo Paulo, Cristo libertou-nos para a Liberdade.
Quem comemora o Natal não pretende reduzi-lo a um dia, mas, sim, buscar nesse dia a inspiração para os dias da vida.
Há anos, um pecador do rebanho do Senhor, de seu nome de baptismo Emídio Tobias, com dedicação e devoção ao Menino, erguia, na Praça da República, um presépio todo ele feito de respeito e exaltação ao Nascimento do Filho de Deus, e outros pecadores, homens simples, mas com um profundo sentido da vida e dos seus valores, perfumavam a Praça da República de rosmaninho, que iam colher por esses campos fora, tocando aquele local com o espírito de Natal.
Depois, o Montijo foi perdendo as suas tradições devido à acção do Partido Socialista e dos seus líderes locais.
Este ano, a Praça da República agoniza. Nada ali nos lembra o Natal.
Declarou a Presidente da Câmara, na sessão da Assembleia Municipal, de 19 de Dezembro, que Montijo não se engalanara para receber a boa-nova natalícia porque o natal está no coração de cada um.
Não se entende, então, por que é que, nos anos anteriores, a Praça da República e outras artérias da cidade se iluminaram na quadra natalícia. Não residia, então, o Natal no coração de todos nós? E onde colidem ou se incompatibilizam a devoção privada e o festejo público?
Tenho uma dúvida, que passo a partilhar. Se o PS tivesse ganho as eleições legislativas teriam sido as ruas e as praças de Montijo lançadas nesta apagada e vil tristeza natalícia?

Ruky Luky

sábado, 17 de dezembro de 2011

Aviso à Navegação

Ruky Luky declara por sua honra que habita em Rui Aleixo.

Rui Aleixo declara que Ruky Luky frequenta um cérebro pouco recomendável.

Ruky Luky
Rui Aleixo

Montijo e a Reforma Administrativa (I)

O Governo, através do Gabinete do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, convida-nos para o debate da Reforma da Administração Local, sustentado no “Documento Verde da Administração Local – Uma Reforma de Gestão, uma Reforma de Território e uma Reforma Política” e na Resolução do Conselho de Ministros n.º 40/2011, que aprovou os princípios orientadores e os eixos estruturantes da reforma da administração local autárquica.
O Documento Verde transporta no seu seio uma contradição porque, por um lado, pretende lançar o debate político e estabelecer os princípios orientadores e os critérios-base da Reforma e, por outro, define, desde logo, alguns desses critérios-base, antecipando-os ao «debate construtivo» de que o Governo se diz apologista
Embora esteja minado por essa contradição, O Documento Verde pode, ainda assim, ser tomado como ponto cardeal a orientar uma jornada que, pelo seu carácter democrático, deverá ser sempre lúcida e prenhe de serena inquietação, que nos permitirá questionar, debater, procurar e propor soluções.
Afirma o Documento Verde:
«Na Organização do Território, a redução do número de freguesias assume-se como uma prioridade, devendo ser encarada como um verdadeiro instrumento de política autárquica, capaz de melhorar o funcionamento interno da Administração Local (…) Projecta-se encontrar um novo mapa administrativo, reduzindo significativamente o número de Freguesias, dando-lhes escala, dimensão e novas competências, e apostando nas políticas de proximidade».
O Município Montijo está dividido em duas partes distintas, separadas cerca de 40 km e interseccionadas por outros dois concelhos. Para se alcançar a parte leste do Município é necessário atravessar os concelhos de Alcochete e Palmela para depois nos encontramos de novo na jurisdição do Município montijense.
Esta situação anómala recomenda que a preocupação primeira seja a de se não desenhar um novo mapa administrativo começando pela redução do número de freguesias.
No caso de Montijo, será aconselhável que o seu mapa administrativo seja gizado depois de se definirem as suas fronteiras, uma vez que “a continuidade geográfica” é um dos critérios estabelecidos no Documento Verde.
O Montijo deve exigir uma redefinição das suas fronteiras sem prejuízos para as populações e para as finanças municipais, ouvindo as populações, e referendando qualquer decisão que venha a ser tomada.
Assim, extinguir freguesias sem que esteja traçada a divisão regional do País, onde se enquadrarão os concelhos e nestes as freguesias, é, com o devido respeito por utilizar um plebeísmo, «pôr o carro à frente dos bois.»
Se, por mera hipótese de debate, se aplicassem os critérios do Livro Verde veríamos extintas, no Montijo/Oeste, três das suas quatro freguesias, resistindo aos critérios a Freguesia de Montijo, extinguindo-se as freguesias do Afonsoeiro, da Atalaia, de Sarilhos Grandes e do Alto Estanqueiro/Jardia.
Aceito que, atendendo à história e, agora, à nova tipologia das freguesias, fossem instituídas, na zona Oeste do concelho,duas freguesias, uma de Área Predominantemente Urbana, que englobaria as actuais freguesias de Montijo, Afonsoeiro e Atalaia, e outra de Área Maioritariamente Urbana, constituída pelas freguesias de Sarilhos Grandes e Alto Estanqueiro/Jardia. No que respeita à zona Leste, não me repugna aceitar o quadro actual ou que se fundam as duas freguesias de Pegões. Porém, num caso ou noutro, as populações deverão ser ouvidas em referendo. 
A criação de novas freguesias, com as dimensões e escala defendidas no Documento Verde, postula que, previamente, e para que se ajuíze prudentemente a decisão a tomar, se esclareçam as seguintes questões:
1.       Se a Freguesia ganha uma escala acrescida que novas atribuições e competências lhe serão atribuídas?
2.       Que regime financeiro a sustentará?
3.       Quantos trabalhadores integrarão o seu Mapa de Pessoal?
4.       Que solução há para os trabalhadores que, eventualmente, sejam excedentários?
À generalidade destas questões não responde o Livro Verde.
Embora reclame por «um choque reformista», O Documento Verde perfilha e insiste na concepção de que a freguesia é um município secundário ou subunidade municipal, não prevendo um quadro de atribuições e competências próprias, continuando a mitigar, assim, a efectiva autonomia daquela autarquia.
E ao declarar que «a transferência de competências do Município para as Freguesias deverá ser suportada exclusivamente pelo orçamento do Município, mediante a reorientação de parte da verba dos Fundos Municipais» o Documento Verde demonstra, afinal, que “é (sempre) preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma”.
No jogo político, sabemos bem, em Montijo, pelo exemplo de ostracização da freguesia de Sarilhos Grandes (CDU) pelo executivo municipal (PS), que a transferência de competências do Município para as Freguesias depende sempre da vontade do partido político vencedor das eleições e do modo como perspectiva as relações institucionais com os outros órgãos autárquicos dirigidos por forças políticas diferentes.
No que respeita à Freguesia, o Documento tem um único e real objectivo: Extinguir o maior número destas autarquias, obnubilando que elas estão profundamente radicadas nos costumes do País e que correspondem, na generalidade dos casos, a uma verdadeira necessidade pública.
O legislador do Decreto de 6 de Agosto de 1892 escreveu no seu preâmbulo que «A descentralização administrativa é excelente como escola prática de liberdade, porque é só aí que o cidadão moderno se forma e educa convenientemente para os grandes direitos que tem de exercitar e para os grandes deveres que tem de cumprir»,
Então, levando em consideração as especificidades locais e a existência de diferentes tipologias de território, deve ser reconhecida à Freguesia um quadro de atribuições e competências próprias que lhe permita reforçar a prestação do serviço público, aumentar a eficiência da sua acção e concretizar efectivamente os princípios da descentralização e da subsidiariedade.
Reforçar-se-á a democracia, ganhará Portugal.

Ruki Luki








sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

José Joaquim Fialho Mota Caria [14 de Dezembro de 1926 – 3 de Agosto de 2011]

Eu fui a asa de um Sonho,
Pausas,
Silêncios
E Nada!

        J.J.Caria

 José Joaquim Fialho Mota Caria nasceu, em Aldegalega do Ribatejo, em 14 de Dezembro de 1926, às nove horas e trinta minutos, na Rua Tenente Valadim.
Filho de Joaquim Freire Caria, renomado comerciante de Montijo, e de Maria José Mota Caria, doméstica, fez os seus estudos primários, em Montijo, no Colégio Esperança, de Alice e Bernardo Costa, professores primários oriundos dos Açores.
Terminados os estudos em Montijo, José Joaquim Mota Caria ingressou na Escola Académica de Lisboa, onde concluiu o Curso Comercial. Posteriormente, frequentou, durante dois anos, o Instituto Comercial de Lisboa, cujo curso não concluiu.
Em 1950, concluiu o curso de enfermagem da Escola Artur Ravara (Hospital dos Capuchos). Naquele ano, no dia 14 de Dezembro, casou-se com Helena Josefa Taborda, na Capela do Senhor dos Aflitos, propriedade da sua família.
Empresário de seguros, na área de acidentes de trabalho, desenvolveu uma profícua actividade, tornando a sua Clínica de Acidentes de Trabalho uma das mais prestigiadas de Montijo.
Toda a sua actividade profissional é dedicada aos seguros, que abraça com competência e dedicação até ao fim dos seus dias, apesar de, formalmente, se ter reformado em 1993.
Entre 1964 e 1971, exerceu o cargo de vereador da Câmara Municipal de Montijo, nos mandatos de António João Serra Júnior e Francisco António Faria, tendo sob sua responsabilidade os pelouros da Cultura, a Comissão de Toponímia, de que era presidente, e a ligação, como delegado da Câmara, à Comissão das Festas de S. Pedro.
A José Joaquim Mota Caria e ao seu acrisolado amor por Montijo, se fica a dever, também, a doação ao Município da imagem do Cristo crucificado, peça de valor incalculável esculpida em marfim, trabalho indo-português do Séc. XVII, que constitui, hoje, a peça mais rica do seu património, única no País, inigualável na Europa, e que tem sido admirada pelos mais talentosos especialistas de arte sacra.
Serenamente, José Joaquim Mota Caria passeava pelas ruas da sua cidade deixando transparecer, como um dia confessou, «a serenidade própria dos que crêem, dos que têm Fé, essa força que dá intenção, rumo e propósito à minha vida. [Porque] Deus é a chave de todas as respostas… e a vida é a fonte de todas as perguntas!»
Foi nas récitas organizadas pelo Colégio Esperança que José Joaquim Mota Caria começou a manifestar os seus dotes para o espectáculo, nomeadamente, como actor e comediante. Como uma vez confessou, «Já nessa altura, estava sempre em palco.»
O poeta recorda: «Era preciso haver dois carolas, que, pelo gosto pela arte, conseguissem congregar, para uma ocupação de tempos livres verdadeiramente construtiva, os elementos necessários à sua construção. Depois de um trabalho intenso de actividade cénica realizado pelo Sr. Humberto de Sousa e pelo Dr. Manuel Paulino Gomes Jr., os quais realizaram conjuntamente «Festa Rija» (1941), revista que punha a descoberto os amadores do Montijo, surge o Grupo Cénico, da autoria do Sr. Humberto de Sousa, que compunha a música, e minha, que escrevia tudo o que não era música. O Sr. Humberto de Sousa veio a falecer em 1 de Julho de 1962 e, o que é um facto, é que não havia ninguém à altura de o substituir.»
A conjugação dos esforços de José Joaquim Mota Caria, de Humberto de Sousa e de uma plêiade jovens, cujos nomes não compete aqui evocar, e a compreensão das suas famílias, num tempo marcado por um forte conservadorismo, lançaram uma lufada de ar fresco sobre o Montijo, e os seus espectáculos transformaram-se em autênticos “terramotos” culturais, com o epicentro no riso demolidor que provocava o saudável e bom humor do Grupo, cujos programas alertavam: «Os intervais podem ser preenchidos com “Gaitadas” que não faz mal nenhum, até engorda!»
O estrondoso sucesso obtido pelo Grupo vai prolongar-se durante uma década, numa acção continuada de espectáculos onde imperam o bom gosto, o bom humor e o bem representar. Em todos José Joaquim Mota Caria participou, em todos foram representados textos seus.
Em 24 de Dezembro de 1951, no Salão de Festas do Clube Desportivo de Montijo, o GCM apresentou o primeiro espectáculo da série «Parada da Alegria», que mantinha a estrutura dos espectáculos anteriormente apresentados, à qual foi acrescentada a organização de concursos que faziam interagir aos espectadores com o Grupo Cénico.
A receita era simples: bom humor, apresentado entre poesia, concursos e canções, e acompanhados pela Orquestra Eldorado, orquestra privativa do Grupo Cénico Montijense, dirigida por Humberto de Sousa, compositor e pianista, e que contava com o talento de José Ribeiro Vintém, bateria, António Onofre, contrabaixo, Mário Gouveia, clarinete, António dos Santos, trompete, e José Gouveia, sax–tenor.
José Joaquim Caria (letra) e Humberto de Sousa (música), num rasgo de intensa inspiração, criaram «O Fado de Montijo», que se transformou no autêntico “hino” da terra. Entoado, em estreia, por José Vintém, no mês de Março de 1955, no Café Portugal, em Montijo, ganhou projecção nacional pela voz de Moniz Trindade.
De finais da década de quarenta a início da década de sessenta, escreve essencialmente para o teatro amador.
Tendo adoecido gravemente, em Março de 1961, abandona o teatro e, nesse mesmo ano, Mota Caria revela-se um poeta de apurada sensibilidade. São desta época alguns dos seus melhores poemas, que, mais tarde, viriam a figurar no seu livro “Refracção”, publicado em Dezembro de 1973.
«Nasce-se poeta! É uma fatalidade anímica. A Poesia situa-se, perigosamente, na gloriosa fronteira entre o génio e a loucura», declarou José Joaquim Caria.
José Joaquim Mota Caria deixou uma obra poética que se resguarda em três livros – Refracção, 1974; Pedras Soltas, 1978; e Mosaicos, 1985, vasto painel de quadras, escritas ao sabor da vida, sugerindo cada uma delas «um comentário, uma súplica, uma crítica, uma denúncia… ou, no fundo, talvez uma confissão», como prefaciou Américo Leite Rosa.
O poeta deixou-nos uma obra feita de reflexão, como se o homem, tendo parado um dia para reflectir, se tivesse feito poeta, tecendo os seus versos com a fímbria das suas doridas e esfarrapadas emoções.
Pausa para reflexão e fuga. Tempo presente e tempo passado. Fuga de si, não para outros horizontes, mas para o horizonte inalcançável de si próprio, como se tivesse quebrado as amarras que o ligavam ao exterior e tivesse partido, buscando na praia dos seus sonhos, entre frustrações e anseios, o ser que o tempo abalou. Nessa viagem, o poeta desvenda-nos os labirintos onde flui a vida que (se) transfere palavra a palavra, verso a verso, para a sua obra.
É o poema feito catarse ou, parafraseando Pradelino Rosa, «perdido no Universo, o poeta recupera o seu ser que o tempo tirou. E em si recupera toda a constelação. Esculpe em eterno o que a vida tinha esculpido em efémero. É, pois, a omnipresença da vida o seu tema único, eterno, manifestado de mil formas. Seu anseio mais estremecido é ser, continuar a ser, nunca deixar de ser.»
Tão discretamente como viveu, José Joaquim Fialho Mota Caria partiu, no dia 3 de Agosto. A cidade distraída não lhe prestou as honras do luto.
É dever de todos guardar, na memória da nossa colectividade, o nome dos Nossos Maiores, honrando Montijo, a sua História e as Gentes que a vão escrevendo.
Escreveu Kakuzo Okakura: «Os que são incapazes de sentir em si mesmo a pequenez das grandes coisas estão aptos a subestimar nos outros a grandeza das pequenas coisas.»
 

Poemas de J.J. Caria



Pela porta de um café
Entra o homem,
Indeciso,
Que ninguém sabe quem é.
Olha em volta, procurando,
Inquieto,
Mas ninguém sabe porquê.
É Outono!
E o homem traz com ele,
Dentro dele,
A intranquilidade
Que o vento lhe transmitiu.
Por isso o homem olhou
À sua volta e não viu,
Hesitou,
Tornou a olhar
E saiu…



O dia de hoje parou às onze e meia!
E eu vi ficar o tempo pendurado,
Encharcado em tédio,
Pingando lentamente nos meus nervos
Gotas amargas de melancolia…
O dia diluiu-se todo em mim,
Senti-o acomodar-se no meu peito
E passei a ser o próprio dia!

  

Eu queria que arrancassem todos,
Um a um,
Os nervos do meu corpo!
E, em seu lugar,
Deitassem nos sulcos vazios
Da minha carne
O bálsamo da serena aceitação da vida.
Uma vida simples e calma,
Duma calma tamanha
Que eu julgasse ter em mim
A estranha serenidade
Dum pôr-do-Sol na montanha!  



Como eu gostava de viver sem Alma,
Ser vazio de tudo o que é Humano
Numa ausência total de Me sentir,
E quando alguém falasse à minha volta,
Não entender os sons somente ouvir!
Pedra triste no alto da Montanha,
Indiferença total de coisa bruta
Despida de emoções e sentidos,
Ouvir gemer o vento nos penhascos
E não saber sequer
Que são gemidos!
Ânsia brutal de me expulsar de Mim,
Repúdio absoluto de me querer,
Abandono integral de Me encontrar,
Como um rio que corre doidamente
A fugir de si próprio
Até ao mar!



Gosto de ficar sentado…
Numa pedra, num banco,
Em qualquer lado
Onde tudo o que é meu
Possa ficar sentado.
Eu,
Os meus sentidos,
As minhas incertezas,
Em equilíbrio estável!
Tudo quieto e caldo,
Sem ver nem ouvir
O que se passa ao lado.
É assim que eu penso que é ficar sentado!
Depois,
Olho-me longamente,
De fora p’ra dentro,
Numa introversão preguiçosa
De quem está cansado,
E sinto mais ainda a lúcida certeza
Da imensa vontade
De ficar sentado!



  Aqui é Montijo

É de madrugada…
Serena, embalada
Na esperança que é,
A Vila ainda dorme
Na certeza enorme
D’um sonho de Fé!
Já paira sobre ela
A doce aguarela
Do dia nascente,
Apaga-se a Lua
E anima-se a rua
Com a vida da gente.
Há vultos que passam
Conversam, chalaçam,
Na santa alegria
Da rústica gente
Que parte contente
P’rá faina do Dia.
Os burros e enxadas
Tocam nas calçadas
Velha sinfonia…
Sua vida encerra
A História da Terra
Que já se esquecia!
Pescadores no rio
Eterno desafio
À força do Tejo,
Enfrentam revezes
Que a maré às vezes
Não vai a desejo!
O Sol despontou,
A Vila acordou
E parece gritar:
- Sacode a preguiça
Que o pó da cortiça
Já anda no ar!
Sirenes uivando,
Gritando, chamando
O operariado,
Que passa ligeiro,
Sereno e ordeiro
Na rua, apressado.
Guiando o seu rumo
Penachos de fumo
Subindo em espiral,
São o símbolo imenso
Do trabalho intenso
Da vida local.
Energia dinâmica
Trabalha a cerâmica
A Indústria geral,
Cortiça – a Rainha
Chacina velhinha
Não tem rival!
Trabalho e progresso
Não há retrocesso
Na vila fremente,
Aumenta o valor
Cada vez maior
Em ritmo crescente.
Homens trabalhando,
Máquinas arfando,
Pulmões industriais,
Mais vitalidade,
Poder e Vontade
Que em terras iguais.
E todo o rumor
Do intenso labor
Se transforma num brado,
Ecoando vibrante
Feliz triunfante,
Poderoso e sagrado!
E o brado potente
Que eu lanço contente
E com regozijo,
É um Hino de Amor,
Progresso e Labor:
AQUI É MONTIJO!

  José Joaquim Mota Caria

 Ruky Luky

A AGONIA DO PARQUE MUNCIPAL

O Parque Municipal Carlos Hidalgo Loureiro, orgulho dos montijenses, e, durante largas décadas, a sala de visitas de Montijo, está lançado, há uns anos a esta parte, a uma “apagada e vil tristeza” por incúria dos políticos, apesar da boa vontade dos seus bons jardineiros.

Dói vê-lo desprezado, sem canteiros dignos como já os teve, sem uma bica para as crianças beberem água, sem regras, cuja ausência põe em risco a segurança das crianças, em suma, sem o cuidado e manutenção constantes e rigorosos que bem merece, e já os teve, o sítio mais aprazível de Montijo.

Datam de 1930, as primeiras notícias sobre a eventual construção e um parque municipal, que pudesse receber todos quantos visitassem a vila de Montijo.

O Parque, como Roma e Pavia, não se construiu num só dia. O aspecto que hoje apresenta foi recortado ao longo de cerca de trinta anos.

Em 1952, a Câmara Municipal de Montijo deliberou mandar proceder ao estudo do arranjo e transformação geral do Parque Municipal e «que fosse alterada a denominação que vulgarmente se dá de Parque Municipal para “Parque Municipal Carlos Loureiro”, como homenagem a Carlos Hidalgo Gomes Loureiro, por ter sido o impulsionador e realizador de tão importante melhoramento para a vila de Montijo.»

No ano seguinte, a Câmara Municipal deliberou construir o Palácio da Justiça (Tribunal) a norte do Parque Municipal, porque a grandiosidade e o valor arquitectónico do Palácio da Justiça impunham a escolha de um lugar condigno. Naquele ano, deliberou também ampliar o Parque, por considerar que a implantação do Palácio de Justiça resultaria a mutilação de parte do Parque.

Quatro anos depois, em 1956, a autarquia aprovou o projecto de ampliação e remodelação do Parque Municipal, de autoria do Professor Caldeira Cabral, que previa a utilização do campo de jogos do Aldegalense, não só para ampliação da área ajardinada, mas também para instalações desportivas, como se veio a concretizar, após a expropriação do terreno, em 1958, por impossibilidade de acordo com o proprietário.

Iniciada a obra de remodelação, em 1960, por fases, ficou praticamente concluída em 1964.

Houve então o cuidado de se construir uma área reservada exclusivamente às crianças.

O Parque Municipal foi um local seguro de diversão e convívio.

Urge, hoje, que as autoridades administrativas tenham a inteligência e a coragem de (re)visitar o Parque Municipal e de tomar as medidas necessárias para o revigorar e o transformar, de novo, em local seguro, para que, com o orgulho, os montijenses se revejam na sua sala de visitas.

Não podemos permitir que a agonia do Parque Municipal Carlos Hidalgo Loureiro seja o prenúncio da sua morte.


Ruky Luky



Montijo e tanto (a)mar...

Montijo... Daqui se aparelharam as caravelas que partiram desvirginando o mar.
Por aqui passaram as mais desvairadas gentes.
Na margem do Tejo me situo e parto sereno nesta aventura de dar luz a um novo blog.
Tanto mar... uma vida para navegar.

Ruky Luky