A Cunha do
Administrador do Concelho
Edifício da Gazeta do Sul. Av.ª D. Afonso Henriques/R. João XXIII, Montijo. |
A «Gazeta
do Sul – Semanário Regionalista» começou a ser publicado em 1 de Julho de 1930, em Vendas Novas, mudando a sede para Montijo em 1935.
Sob
a direcção de Alves Gago, a Gazeta do Sul tornou-se num dos jornais regionais de
maior expansão no País e com forte impacto nas comunidades portuguesas no
estrangeiro.
O
apoio e consideração que granjeou dos seus assinantes e leitores permitiu-lhe
edificar sede própria, onde foi instalada também a oficina gráfica.
Embora
tivesse mantido uma prudente distância em relação ao poder político, não deixou
de cativar a atenção do Administrador do Concelho, que pretendeu ganhar os favores
do jornal, como se alcançará pela leitura do ofício que, adiante, se publicará.
A
iniciativa do Administrador do Concelho, que presumimos ter sido desconhecida
do então director do jornal, não ecoou junto das instâncias superiores. A
Gazeta do Sul não preencheria, talvez, os requisitos ideológicos exigidos por
lei para obter a publicação de anúncios dos serviços públicos, porque não seguia
os ditames do Estado Novo, e, por outro lado, o Administrador do Concelho
reconhecia que um destacado membro do Partido Democrático era o secretário (chefe)
da Redação
Ao
mudar-se para Montijo, «A Gazeta do Sul» passou a contar com um leque plural de
colaboradores, entre os quais se tomam como exemplos, o Dr. Jorge Antunes, apoiante
do Estado Novo, e o Dr. Paulo Gomes, proeminente figura republicana, por
representarem os extremos de uma paleta ideológica variada.
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Ofício
dirigido pelo Administrador do Concelho de Montijo ao Director da Secretaria de
Propaganda Nacional, em 1936:
«Publica-se
nesta vila, semanalmente, um jornal que se intitula “Gazeta do Sul”, que é o
periódico de mais expansão em toda a região do Ribatejo Sul e faz ainda uma
edição para a vila do Barreiro.
Não
ignora V.Ex.ª, decerto, haver ainda nesta região e mesmo nesta vila, grande
número de elementos políticos de antigos partidos e embora o jornal em questão
não tenha, até agora, acusado um ideologia definida, visto que nele têm
colaborado indivíduos de todas as cores políticas, é de recear que muito em
breve seja absorvido por elementos nocivos, especialmente do antigo partido
Democrático, do qual um elemento de destaque já se encontra como secretário da
Redação. Para mais, como a vida dos jornais da província nem sempre é
desafogada, especialmente para quem deles vive, como sucede no caso presente
com o Director e Proprietário da “Gazeta do Sul”, facilmente se compreende como
poderão conduzir pessoas que o auxiliem materialmente, a verdade é que há um
tempo a esta parte o jornal tem vindo sucessivamente melhorando de forma
considerável.
Desta
maneira, tomo pois a liberdade de sugerir a V. Ex.ª a vantagem de oferecer ao
proprietário da “Gazeta do Sul”, qualquer subsídio com que o orçamento desse
secretariado possa contribuir, no sentido de termos ao serviço do Estado Novo
este elemento de valor, que está em risco de perder-se. Escusando lembrar a
discrição com que tal proposta deve ser feita.»
A
história da Gazeta do Sul, que foi extinta em 1990, está por contar e merece
ser contada. Registamos, hoje, um pequeno episódio do seu rico percurso.
Ruky Luky
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