terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Barco Está de Saída?

“ A grande batalha é dotar o centro e a periferia de carreiras urbanas de e para o Seixalinho e, se isso não for conseguido, não nos calaremos”

     Maria Amélia Antunes, Presidente da Câmara Municipal do Montijo, 7.12.2001

Quando se anunciou a eventual deslocalização do histórico cais (dos Vapores) para o Seixalinho, um grupo de cidadãos pediu prudência, estudos e reflexão, antes que fosse tomada qualquer decisão, atendendo ao forte impacto que tal medida causaria nos destinos da vida comunitária. Em vão, à decisão baseada na ciência e na sensatez, optou-se pela via fácil e nefasta do empirismo, na prossecução de uma política baseada no facto consumado, com todos os inconvenientes e prejuízos para o Montijo, que se (re)conhecem.
Não se trata de “chorar sobre o leite derramado”, mas, sim, em clima de tolerância e respeito pelas ideias do próximo, interrogar publica e serenamente os nossos dirigentes autárquicos sobre a sorte e o destino das promessas que fizeram aos montijenses. É um direito dos munícipes, interrogar, é um dever dos autarcas, prestar contas.
Quando, em Maio de 2000, a Senhora Presidente da Câmara, Drª Maria Amélia Antunes, anunciou a deslocalização do cais, fê-la depender de três condições.
Segundo a autarca, a transferência só se efectuaria quando o acesso ao cais fosse feito por uma circular externa, houvesse um interface de transportes para a periferia da cidade, porque, para o interior da cidade, explicava a autarca, e citamos, «nós preconizamos transportes não poluentes a gás ou a electricidade, com uma frota de 10 a 15 autocarros», e fosse recuperada toda a zona ribeirinha.
Mais tarde, ao ver «com sentida emoção e agrado (iniciarem-se) as obras do novo terminal rodofluvial do Seixalinho», a Drª Maria Amélia Antunes reincidiu na promessa de que, com a construção do cais, «o interior da nossa cidade será servido por uma rede de transportes em mini-autocarros, capaz de satisfazer mais e melhor os utentes da Transtejo».
Saliente-se que, já em Fevereiro de 2001, a autarca tinha prometido que «em Junho ou Julho já existirão a funcionar mini-bus à experiência no seio da cidade», que, como se sabe, nunca se concretizou.
Noutros documentos, a edil não deixou de reafirmar a promessa da construção de um interface multimodal de transportes no Cais do Seixalinho, vital para o concelho, a criação de um sistema de transportes rápido a ligar ao Seixalinho e que, devido à transferência do cais, toda a zona ribeirinha beneficiaria de uma intervenção geral na mesma linha do Parque das Nações.
Ora, é sabido que a deslocalização do cais se operou sem que fossem respeitadas aquelas condições ou, sequer, salvaguardada a sua execução a curto prazo.
O Cais do Seixalinho é, em si, pelas más condições que oferece e por não ter captado os cinco mil novos utentes diários da carreira para Lisboa, conforme fora previsto pela autarquia, nem aumentado o número de passageiros em mais de 50%, logo no primeiro ano [quedou-se pelos 7%, apesar do boom urbanístico do Montijo e concelhos limítrofes], conforme sustentou a Transtejo, um flop por excelência.
Segundo a comunicação social, o Governo estuda uma proposta que visa reduzir as ligações Montijo/Lisboa/Montijo às carreiras das horas de ponta e suprimir todas as outras assim como as ligações aos fins-de-semana por serem extremamente deficitárias.
A notícia parece não ter preocupado nem a população nem a generalidade dos autarcas. A população, à excepção dos utentes, já não sente o barco como seu, porque a deslocalização do cais para o Seixalinho quebrou um vínculo histórico cerzido ao longo de séculos. Os autarcas enredam-se em batalhas de alecrim e mangerona.
O barco pode estar de saída, depende de cada um de nós a sua amarração ao Montijo, de modo que sirva os reais interesses do concelho.

Ruky Luky

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