terça-feira, 14 de agosto de 2012

27.º Aniversário da Cidade de Montijo

As Lágrimas Amargas da Minha Cidade

 1998 anunciou-se como o ano de todas as esperanças num futuro ridente para Montijo, mas, por falta de engenho e de arte, transformou-se no marco da pior de todas as transformações que uma cidade pode sofrer – a perda da sua alma e identidade e a sua constituição em dormitório.

Após a vitória eleitoral, Maria Amélia Antunes teve quem, que imitando o escravo romano, lhe foi lembrando, na hora do triunfo, após a vitoriosa batalha eleitoral: «Lembra-te que és uma mulher. Cuidado! Não caias (cave ne cadas).»

Era o modo de, perante as aclamações que a população sempre dispensa aos vencedores, abater o orgulho que pudesse inspirar a autarca, apelando-se, assim, à humildade democrática na gestão do município.

O poder é um perfume subtil e sedutor, mas forte e embriagador, que mina os incautos seduzidos e mortificados pela vã e passageira glória.

Cedo foram afastados todos quantos por genuína vontade de mudança e de desenvolvimento de Montijo apoiaram livre e criticamente a batalha eleitoral de Maria Amélia Antunes, e substituídos por uma principesca e submissa corte. Cedo se começaram a imitar os piores vícios da anterior gestão comunista.

Montijo foi beneficiado com condições políticas, financeiras e económicas como nunca tinha usufruído, pelo menos, nos últimos 150 anos da sua história.

Um poder político maioritário e da mesma coloração ideológica do poder central; investimentos avultados na área da construção civil e nas infra-estruturas realizados por investidores privados; arcas municipais repletas pelas taxas pagas pela construção civil e pelo apoio constante do governo central; uma oposição débil; o silenciamento do único jornal plural concelhio a par de uma forte aposta na propaganda política, são alguns dos elementos a considerar.

O momento era ímpar e grandioso e exigia lucidez e inteligência suficientes para se ter avaliado que as tarefas a realizar eram ciclópicas e que só poderiam ser levadas a bom porto com a colaboração/participação de todos.

Porém, contraditoriamente, Montijo viu rasgar-se o seu tecido social, fenecer a sua actividade económica e minimizarem-se os seus agentes culturais e desportivos.

Agrilhoada a sua alma, a Cidade regrediu e transformou-se em mais um dormitório da Área Metropolitana de Lisboa.

Montijo testemunhou a ascensão da prepotência e do nepotismo corolário da ausência de humildade democrática e de sentido de missão e de dever públicos.

Estrangulou-se a Liberdade e sem Liberdade não há progresso, porque, como registou o poeta, «A Liberdade é para o brilho das consciências o que o Sol é para a vida da Natureza.» (1)

As horas de mor tormenta deveriam ter sido preenchidas com plena serenidade, farol da tolerância, essa tolerância que «é, antes de mais, o respeito profundo pelos direitos e liberdades dos outros, mas também o resultado de um sentimento de benevolência pelo próximo». (2)

O monolitismo político instalou-se na Polis e de mãos dadas com a mediocridade anatematizou quem ousou dizer não.
Amordaçou o debate de ideias, burocratizou a cultura, aliou-se ao obscurantismo como forma de sobrevivência política, utilizou o medo como espada, ignorando que «Cultura e liberdade identificam-se – sem cultura não o pode haver liberdade, sem liberdade não pode haver cultura [porque] a cultura deve em primeiro lugar dar a cada homem a consciência integral da sua própria dignidade» (3) e, por outro lado, que «Com o tempo, o espírito acaba sempre por vencer a espada.» (4)

A Terra segue, assim, exangue sob o som das trombetas da injustiça e do medo, num tempo em que «os dias que vão passando dizem à boca pequena que até o silêncio chora.» (5)

O PS/Maria Amélia Antunes foram a negação de rei Midas – tocaram em Montijo e transformaram o seu ouro em pechisbeque, e assim se apresenta, hoje, Montijo, como um dormitório, como uma cidade que, em determinados períodos, se assemelha a uma cidade-fantasma pela ausência de vida que patenteia e, sobretudo, por ter perdido a sua alma.

Passa, hoje, o 27.º aniversário da cidade de Montijo sem qualquer cerimónia, por mais modesta que fosse, a assinalar a data. Não é um sinal dos tempos de crise que vivemos – ali, os nossos vizinhos alcochetanos estão a celebrar com “pompa e circunstância”, as Festas do Barrete Verde -, mas, sim, da incompetência que tem sido apanágio do governo municipal que lançou o Montijo para uma das suas maiores crises históricas, atoleiro donde tão cedo ou nunca se libertará. Morta a alma de uma cidade como ressuscitá-la?

O sonho de 1998 transformou-se num pesadelo a lançar as suas trevas para o futuro.


«Minha terra está sangrando
As aves morrem de pena
Mais penas tem quem cá mora;
E os dias que vão passando
Dizem à boca pequena
Que até o silêncio chora.

Órfãs de lua e de estrelas
As noites vestem de luto
Por madrugadas chorando
O vento recusa as velas
Esperanças não as escuto
Minha terra está sangrando.»
            João Dias


Chora, terra bem-amada, mas ergue-te na força da tua vontade.

 Ruky Luky

1.     Joaquim Serra
2.     Latino Coelho
3.     Bento de Jesus Caraça
4.     Napoleão
5.     João Dias




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