terça-feira, 8 de maio de 2012

Onde está o Cristo crucificado?
Descoberta fascinante no Montijo:
Cristo monobloco em marfim

Ermida  do Senhor Jesus dos Aflitos - Retábulo de madeira polícroma com frontão triangular de características neoclássicas, onde se pode (podia) observar a belíssima imagem de Cristo crucificado em marfim, remontando posívelmente ao século XVII-XVIII.
«É uma notável peça de arte indo-portuguesa do século XVII ou anterior» - eis como o conservador do Museu de Setúbal manifestava o seu espanto perante a descoberta, o encontro, da imagem de Nosso Senhor dos Aflitos, que se encontra numa capela de Montijo, alvo de culto diário.»

 Esta é a cabeça da notícia publicada pelo Diário de Lisboa, em 1986, que tinha uma chamada na primeira página ilustrada com uma fotografia da peça monobloco em marfim e o título: “Descoberta empolga os especialistas – Um Cristo precioso “mora” em Montijo.”

Segundo a notícia, que estamos a citar, «Na pequena capela sem culto oficial, já fora das portas do Montijo, diariamente crentes vêm ofertar velas, pedaços de cera figurando órgãos do corpo, fotografias, o vestido da menina que o Senhor salvou de terrível maleita, dinheiro ou flores.

Mesmo na situação em que se encontrava, envolvida num cenário rococó, acrescida de panos, coroa de espinhos, resplendor, mesmo assim a imagem era impressionante, era excepcional.»

Agora a questão: Onde está o Cristo crucificado?

Cristo crucificado, modelo agonizante, notabilíssimo trabalho indo-português

Em 1983, a Câmara Municipal de Montijo registou a doação feita pela família Caria da Ermida do Senhor dos Aflitos e de todo o seu recheio, onde se incluía a imagem do Senhor dos Aflitos.

Posteriormente, temendo pela segurança da imagem, atendendo à divulgação que tivera com a notícia publicada pelo jornal da capital, a Câmara Municipal de Montijo retirou-a da capela e guardou-a no cofre – forte da autarquia. Uns anos mais tarde, devido às obras que se realizaram nos Paços do Município, o Cristo foi depositado numa instituição privada, aguardando que se fizessem as obras necessárias para dotar a Ermida de todas as condições de segurança e de preservação da imagem. E ali está depositado, sabe-se lá em que condições de conservação…

 No dia 8 de Dezembro de 2002, a Câmara Municipal de Montijo inaugurou as obras de recuperação da Casa Senhorial, anexos e Capela do Senhor dos Aflitos, da Quinta do Saldanha, que, como reconhecia ao Revista Municipal, «Mais do que um importante centro cultural, lúdico, pedagógico e ecológico, a Quinta do Saldanha é um registo vivo da nossa identidade e tradição de culto.» Apesar deste reconhecimento, as imagens sagradas e os objectos de culto da Ermida não voltaram à Ermida.

Montijo corre, assim, o risco de perder uma imagem rara a nível europeu e a peça mais preciosa do seu património histórico- cultural móvel, porque, nos termos da escritura de doação, «As imagens sagradas e os objectos de culto existentes da Ermida, ali deverão permanecer, em bom estado de conservação, não devendo ser retiradas ou transferidas para qualquer outro local, ainda que se trate de templo que sirva o mesmo culto, salvo caso de força maior, devidamente comprovado, ou por efeito de fenómeno de natureza, ainda assim na única intenção de salvaguardar temporariamente a sua integridade, como peças de valor histórico-religioso, devendo as mesmas ser repostas na Ermida, logo que não exista perigo de degradação, destruição ou roubo.
O incumprimento de qualquer dos encargos estipulados (…), conferirá aos doadores ou aos seus herdeiros de direito de pedir a resolução da doação.»

Apesar da gravidade da situação e da questão ter sido abordada por um membro da Assembleia de Freguesia de Montijo, que manifestou a sua preocupação pela conservação e o destino de tão valioso património, o silêncio e a inércia continuam a imperar.

«Mais do que um importante centro cultural, lúdico, pedagógico e ecológico, a Quinta do Saldanha é um registo vivo da nossa identidade e tradição de culto», reconheceu o executivo socialista presidido pela senhora Maria Amélia Antunes, não cuidando, no entanto, de dotar a Ermida das condições necessárias para receber, de novo, a imagem do Senhor Jesus dos Aflitos e demais objectos de culto.

E o Cristo lá se vai mantendo penosamente fora da sua Ermida, numa instituição privada, há cerca de vinte e cinco anos.

Certo montijense alertou: «Para que serve a imagem do Cristo, metida num cofre durante anos, se ela não é para vender e o seu lugar é na Ermida»

 Afinal, Quem resgata o Cristo crucificado de tão penoso e humilhante cativeiro?

 Ruki Luki

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