Uma Viagem ao Passado (1)
O "pequeno rossio" do século XV apresentava este aspecto no início do século XX. |
No
século XV, o local que hoje se denomina de Praça da República era descrito como
um “rossio pequeno em redor da Igreja do Espírito Santo”, em oposição ao maior,
que se localizava na actual Praça 1º de Maio, outrora o centro da vila e
dominado pela Santa Casa da Misericórdia.
Naquele
século, crescendo a vila em direcção ao rio, o povo aldeano solicitou ao Mestre
da Ordem de Santiago, D. Jorge, filho de D. João II, que fosse construída uma nova
igreja mais no meio da povoação. O pedido foi indeferido, mas o povo aldeano,
numa lição que os montijenses devem reter, não baixou os braços. Permitiu que a
câmara municipal lançasse um imposto destinado à construção da nova igreja e,
como descreve o Pe. António Carvalho da Costa «o braço do povo (a) fez e ornou
de prata e ornamentos». Em 1498, estava pois construída a Igreja do Espírito Santo,
no “rossio pequeno”.
Como
é consabido as igrejas eram também utilizadas como cemitério e, assim, dentro
da Igreja do Espírito Santo e no seu adro foram enterrados milhares de corpos
ao longo de mais de três séculos. A Praça da República foi o principal
cemitério de Aldeia Galega, até ao século XIX. Na década de 50 e 60, do século
XX, quando a Praça foi sujeita a obras de remodelação, foram desenterradas
muitas ossadas do primitivo cemitério. Ainda hoje, quem passear junto à igreja
facilmente verificará a existência de lajes tumulares.
À
medida que a população se foi deslocando para o centro da vila e se construiu o
“porto novo”, o “pequeno rossio” transformou-se, paulatinamente, no centro de
Aldeia Galega do Ribatejo.
Desde
muito cedo, ali se ergueram palanques para as corridas de touro, que era
reprovado pelo visitador da Ordem de Santiago, que considerava muito indecente que
os homens se sentassem perto das mulheres. Contudo, apesar da pesada ameaça de
excomunhão, as touradas continuaram a realizar-se no adro da igreja.
No
século XIX, o pequeno rossio, além da Igreja do Divino Espírito Santo, era
ladeado, a poente, pela cadeia e um conjunto de casas nobres e, a sul, pela
Estalagem das Caleças (antiga Fábrica TÓBOM). O conjunto edificado da cadeia e
das casas nobres, que corresponde hoje ao espaço ocupado pelo Banco Santander
Totta até ao antigo Centro de Convívio de Reformados (Av.ª dos Pescadores), denominava-se
Bairro da Cadeia. Entre o Bairro da Cadeia e o actual Mercado Municipal,
encontrava-se o açougue e a eira pública.
A
Praça era o local privilegiado para a realização de festas, de cunho sagrado ou
profano, como as festas do Divino Espírito Santo e de outras confrarias, e para
a realização de mercados.
Em
1839, estabeleceu-se o mercado das hortaliças e, prosperando também o mercado
suinícola, a Câmara Municipal de Aldegalega deliberou proibir que “os porcos
fossem expostos ou demorados nos sítios da Praça, Cadeia e Caleças”, isto é, os
três sítios que constituem, hoje, um todo denominado Praça da República.
Em
1850, a actual Praça da República estava por empedrar, era percorrida por
carroças, algumas caleças e assaltada pela vozearia dos comerciantes. A dois
passos dali, no então edifício da câmara municipal (actual Galeria Municipal)
funcionava, no rés-do-chão, o mercado de peixe e, no primeiro andar, o Tribunal
e a Câmara Municipal.
O
adro da igreja e o seu interior continuavam a ser o cemitério da vila.
Ruky
Luky
O Rui traz-nos sempre e bem à estampa muitos factos que são a história da nossa terra, antiga Aldeia Galega, hoje cidade de Montijo. Contudo, porque o espaço é pouco e nem sempre é necessário ou possível ir ao pormenor, pela descrição que faz sobre a Igreja do Espírito Santo, escudado no historiador Pe. António Carvalho da Costa, pode parece que a igreja foi construída em 1498, mais no centro da povoação. Na verdade, nessa data, ela apenas beneficiou de obras, pois, já em já em 1409, há referência à Igreja do Espírito Santo no testamento de Afonso Vasco, que deseja nela ser sepultado. (Ver "Visitações e Provimentos da Ordem de Sant'iago em Aldeia Galega do Ribatejo" Vol. I, Mário Balseiro Dias).
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