Não se publica um jornal em Montijo.
Ao longo de mais de cento e vinte anos, Montijo teve o seu semanário, apesar de todas as dificuldades que acompanham a edição dum semanário, por mais simples que seja.
Os jornais, em Montijo, conviveram com monárquicos e republicanos, com fascistas e democratas, mas não sobreviveram ao garrote político do cinismo político.
A história do jornalismo em Montijo revelará como, nos anos de Abril, os comunistas souberam respeitar a liberdade de imprensa, enquanto que os socialistas a torpedearam. É uma página escura que um dia não deixará de ser escrita.
Apresenta-se agora ao leitor uma relação dos jornais publicados em Montijo, embora lacunar.
O primeiro jornal, de que há
notícia, publicado no actual município de Montijo, que já se chamou de Aldeia
Galega do Ribatejo ou Aldegalega, intitulava-se «Jornal de Aldegalega do Ribatejo - Semanário dedicado à defesa dos
interesses dos concelhos que compõem a comarca» e foi publicado em de Junho de 1886. Desconhece-se a existência de
qualquer exemplar e o período de publicação. Em Outubro de 1888, foi publicado o jornal «A Comarca», de que se ignora também a
periodicidade e a existência de qualquer exemplar. O jornal voltará a ser
editado (II série) entre 1900 -1913. Dirigiu o jornal António Saturnino
d’Almeida.
As actas das sessões da Câmara
Municipal de Aldegalega, de 1890,
referenciam a existência do «Clamor da
Pátria», cujo proprietário foi Aniceto José Rodrigues. Nada mais se sabe
deste jornal.
A Biblioteca Nacional conserva
o primeiro exemplar do jornal «O
Aldegalense - Semanário Político, Noticioso, Literário e Recreativo»,
publicado em 8 de Setembro de 1895. A sede do jornal localizava-se
na R. da Cruz, n.º 23, em Montijo. Jacinto Pedro Oliveira foi director,
proprietário e editor e esclareceu, ao lançar o primeiro número do periódico,
que «Aldegalega estava sem um representante na imprensa».Quatro anos resistiu «O
Aldegalense», em Montijo. Em 19 de Março de 1899, transferiu a sede para Lisboa
e o novo editor, José Tomás Lopes, extinguiu o título porque «o nome de O
Aldegalense parece encerrá-lo nos estreitos limites desta povoação.» O novo
jornal passou a denominar-se «O Ribatejo».
Em 1898, foi publicado o jornal «A
Voz do Povo», «Semanário Noticioso e Literário: defensor dos Interesses
Locais de Aldegalega e Sua Comarca», cujo director foi J.L. d’Oliveira. São
escassas a notícias deste semanário.
No princípio do século XX, em 21 de Julho de 1901, passou a ser
editado «O Domingo - Semanário noticioso,
literário e agrícola». No sétimo ano da sua publicação, num momento em que os
republicanos ganhavam forte influência em Aldegalega, o jornal assume a matiz
republicana passando a subintitular-se de «Semanário Republicano Independente».
Após a Revolução de 5 de Outubro de 1910, corria o ano de 1911, o jornal
assumiu-se como «Semanário Republicano Radical».
Até 15 de Agosto de 1920, data
do último jornal, foi proprietário e editor, José Augusto Saloio, figura
proeminente do Partido Republicano Português. A sede do hebdomadário
localizava-se na R. da Cruz.
Jornal de cariz ideológico
republicano a partir de 1908, contou com a colaboração, entre outros, de
Cipriano Salgado Júnior, Manuel Tavares Paulada e Luciano Fortunato da Costa,
figuras gradas do republicanismo em Aldegalega.
A colecção completa do jornal
foi adquirida pela Câmara Municipal de Montijo à neta de José Augusto Saloio.
A Biblioteca Nacional tem em
depósito números avulsos desta publicação, mas desconhece-se outra colecção tão
completa quanto a do Município montijense.
Em 1 de Julho de 1909, na Vila de Canha, foi publicado «A Victória», jornal republicano para
fins beneficentes.
Após a implantação da
República [5 de Outubro de 1910], o jornal «O Domingo» assumiu-se como «Semanário Republicano Radical», como já
se registou, e surge o primeiro jornal de propaganda mutualista, «A Desafronta - Folha semanal, noticiosa
e de propaganda mutualista», que foi publicado por José Teodósio da Silva,
proprietário e redactor, entre 1 de
Outubro de 1912 e 10 de Novembro de 1912.
Em 17 de Novembro de 1912 publica-se o «Povo de Aldegalega», semanário de propaganda mutualista, que substituiu
«A Desafronta», extinguindo-se em 11 de
Maio de 1913. A radicalização da vida
política republicana e a secessão operada no Partido Republicano Português
originou o aparecimento do Partido Democrático [Afonso Costa] e do Partido
Evolucionista [António José de Almeida], para só se citar os dois que tiveram
maior projecção em Montijo. Aldegalega testemunhou, então, o
aparecimento do jornal «Evolução»,
que se apresentou como «Semanário do
Centro Republicano Evolucionista 31 de Janeiro», em 8 de Novembro de 1913, e
na segunda fase, iniciada a 7 de Outubro de 1917, passou a ser o “Órgão do Partido Evolucionista Local”. Foi
seu proprietário e editor Álvaro Tavares Mora e director António Rodrigues
Caleiro, figura grada do republicanismo, em Montijo, e pena sempre pronta para
a polémica com os adversários políticos. O último número conhecido do jornal é
de 1919.
Ignora-se a data da fundação do
jornal «A Razão - Semanário do Partido
Republicano Português». Publicou-se, pelo menos, entre 1916 e 1923. Dirigiram «A Razão», entre outros, Joaquim Maria
Gregório, Dr. Manuel Paulino Gomes, Manuel Tavares Paulada e o Dr. Gabriel da
Fonseca. No sexto ano da sua publicação subintitula-se “Jornal Independente Defensor dos Interesses da Comarca” e, no ano
seguinte, “Órgão das Comissões Políticas
do Partido Republicano Português de Aldegalega Defensor dos Interesses da
Comarca” e em 8 de Abril de 1923, “Jornal
Republicano Radical”.
O jovem Joaquim serra, que se
viria a revelar um dos mais proeminentes intelectuais de Montijo, publicou o
jornal manuscrito «A Mocidade – Semanário
Republicano Democrático», entre 4 de
Abril de 1920 e 9 de Abril de 1922.
«A Liberdade - Semanário» foi o título que o Dr. Paulino Gomes,
dirigente do Partido democrático em Aldegalega deu ao jornal que propugnava
pelas ideias de Afonso Costa. O primeiro número foi editado em 5 de Outubro de 1921 e o último em 28 de Setembro de 1924.
Para celebrar a travessia do
Atlântico Sul, foi publicado, em Montijo, em 18 de Junho de 1922, o jornal «Lusitânia»,
número único comemorativo do feito heroico realizado por Gago Coutinho e
Sacadura Cabral. Foi director, Francisco da Silva Jr., e editor: Álvaro
Zeferino de Campos Valente.
Em 10 de Fevereiro de 1924, foi editado «O Sport – Quinzenário desportivo», dirigido por Alfredo R. Taborda.
Antes da mudança do nome do concelho, foi
apresentado o jornal «Montijo – Semanário Republicano de Propaganda e Defesa
dos Interesses de Aldegalega», em 30 de Março de 1930. O jornal extinguiu-se em 20
de Setembro de 1931. Foi seu proprietário, Renato Augusto
Soares Homem, administrador, Frederico Ribeiro da Costa, e director, João
António Xavier Lopes.
A «Gazeta do Sul – Semanário Regionalista»
começou a ser publicado em 1 de Julho de 1930, em
Vendas Novas, mudando a sede para Montijo em 1935. Foi extinto em Junho de 1990. Foi fundador e primeiro director, Alves
Gago.
No
dia 20 de Dezembro de 1931, Joaquim Serra lançou «A Ideia – Semanário Republicano». Encerrou-se
em 12 de Junho de 1932. Não resistiu à doença prolongada e à morte do seu fundador.
«A Minha Terra – Mensário Defensor do Progresso e
Engrandecimento da Freguesia de Canha», foi editado em Outubro de 1931. Ignora-se a data da extinção. Foi proprietário,
editor e director, Artur Jesus Oliveira.
«Notícias do Montijo – Semanário Regionalista»
foi publicado entre 6 de Março de 1932 e 12 de Junho de 1932. Foi proprietário, Eduardo Lopes; editor, Passos de
Figueiredo; e director, Teodoro da Silva.
«Montijo – Semanário Republicano Regionalista», dirigido pelo Dr.
Manuel Paulino Gomes, foi publicado entre 26
de Junho de 1932 e 23 de
Abril de 1933.
«Jornal de Montijo», foi o título que
Júlio
Ferreira. Administrador; Alfredo Oliveira, director; e João Lopes, redactor,
deram ao jornal publicado entre 16 de Junho de 1933 e Novembro de 1933
(?).
«A Verdade – Jornal dos Novos», 1933.
Director (es): Rui Alberto e Joaquim Capela.
«Notícias de Montijo – Semanário
Regionalista», 1933. Propriedade
da Empresa de Publicidade dos Sul. Director: Eduardo Lopes.
«A Ideia – Semanário Republicano do Montijo
(IISérie)» projecto de António Rosado para dará continuidade à obra de
Joaquim Serra. Publicou-se entre 20 de Maio de 1934 e 25 de Novembro
de 1934.
«Desporto e Recreio – Boletim Comemorativo do 23º
Aniversário do Onze Unidos Futebol Clube». 16 de Julho de
1946.
«O Ateneu». Propriedade do Ateneu
Popular do Montijo. Director: Cosme Benito Resina. Publicou-se, pelo menos,
entre 1947 e 1951.
«Boletim da Comissão Pró-Casa da Criança».
Junho de 1953 – Novembro de 1962.
«Alvorada – Órgão
Trimestral da Cultura Religiosa de Jovens Baptistas Para A Mocidade». – Junho de 1948.
Director: Eduardo L. Martins.
«A Província» – 3 de Março de 1955 – 1956. Director(es): V.S. Mota Pinto e Álvaro Valente.
«Despertar – Boletim
Paroquial de Montijo».
Dezembro de 1955 – 1958. Trimestral. Director: Prior do Montijo.
«Pátria Amada – Jornal dos Centros da Mocidade
Portuguesa da Escola Industrial e Comercial do Montijo». 1960.
«Estrela – Jornal do Estrela Futebol Clube
Afonsoeirense». 1976.
«Vida Social –
Quinzenário ao Serviço da Nação, da Democracia, do Povo e da Liberdade». 1980.
Proprietário e Director: Mariano Pereira.
«Aldeia Galega». 1985. Propriedade:
Ateneu Popular do Montijo. Directora: Rosália Marques.
«O Congresso – Jornal do II Congresso dos
Municípios com Portos e Actividades Piscatórias». Setembro de
1988 – Maio de 1989. Propriedade: Câmara Municipal do Montijo.
«Nova
Gazeta».
Junho de 1990 –[?] . Propriedade: Sociedade Gráfica do Sul, C.R.L.
Directores: Orlando Curto, Avelino Rocha barbosa, Rocha barbosa e Luís Luizi.
«Manta de Retalhos – Órgão da Comissão Executiva
da Semana da 3ª Idade». Maio de 1991.
«O Desportivo do Montijo – Revista do Clube
Desportivo do Montijo» Março de 1993. Director: Artur Lucas.
«Local Montijo». Março de 1992.
Director: Eduardo Bandeira Martins.
«APONTE – Semanário
do Distrito de Setúbal».30 de Outubro
de 1992 – 26 de Fevereiro de 1993. Director: José Henrique
Cardoso.
«Ardina – Jornal da Escola Secundária nº1». Dezembro de 1992. Substituiu o jornal Maré começado a editar em 1988.
«Notícias de Montijo». 12 de Fevereiro de 1999 – [?] Director: Alcídio Torres.
«Jornal do Montijo». 1999 – . Director: Alves
Rito.
«Gazeta do Montijo». Dezembro de 2012. Director: Mário Silva. Mensário.
«Nova Escrita». 2012. Directora: Rosário Pinto.
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O Rui talvez quisesse dizer que não se publica um semanário em Montijo, pois, com muita dificuldade, ainda que com um periodicidade mensal, lá vai singrando a "Gazeta do Montijo", que já teve a honra, apesar de bebé de ter um processo na ERC, movido pela autarquia e por um cidadão amigo do progresso de Montijo. As dificuldades são cada vez maiores, num mar que, em vez de muita água, tem muito lodo e o barcos não conseguem navegar, até porque os ventos não parecem estar a ajudar. São as crises que são cíclicas e agora estamos numa que, como todas as outras, há-se ser ultrapassada, porque a razão triunfará para que a vida continue.
ResponderExcluirO meu obrigado a Joaquim Tapadinhas pelo esclarecimento, as minhas desculpas à Gazeta do Montijo, mensário que vai honrando os pergaminhos de Montijo, pelo lapso.
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