Entradas, Largadas, Touradas e Esperas
Distinguem-se, ainda hoje, nas Festas Populares de S. Pedro, aspectos religiosos, outros de puro divertimento e um terceiro, que se perde com a tradição Ribatejana e telúrica, ligado à festa dos touros, na linha do que se reconhecia no Programa das Festas de 1959:
«Três facetas notáveis se distinguem nelas, na actualidade:-A Festa Civil, a Religiosa, a Festa Ribatejana.
A primeira, é constituída pelas ornamentações dos arraiais, iluminações, grupos folclóricos, sessões de fogo, Feira Franca, etc. A segunda, pela missa solene, procissão, bênção dos barcos, ornamentação, iluminação da Igreja Matriz, etc.
A terceira, pelas «largadas» e corridas de toiros, correspondendo igualmente à tradição regional.»
As três facetas formam um todo harmónico e empolgante, que se conjuga no programa das festas.
As touradas e entradas, num primeiro momento, e, posteriormente, as largadas constituíram sempre um dos momentos altos das festas, em Montijo, ao longo dos séculos. Porém, nunca integraram as Festas de S. Pedro organizadas pelos pescadores, embora, ao longo das décadas tenha coincidido a realização de touradas por outras entidades com o dia do Santo Popular dos Pescadores. O mesmo não se poderá dizer das Festas Populares de S. Pedro de cujo programa fazem parte integrante as touradas e as entradas. Entradas, embolação e tourada constituíram a trindade indispensável ao amante da tauromaquia em Aldegalega/Montijo.
As entradas, que outra coisa não são que a condução do gado pelos campinos da lezíria à praça de touros ou ao local das largadas, realizaram-se sempre, salvo raríssimas excepções, pelo lado nascente da vila, onde foram edificadas várias praças de touros.
No final do século XIX, as autorizações para a realização de touradas eram concedidas com a condição expressa de que os touros entrariam na praça de touros entre as duas e as quatro horas da manhã, sendo proibido o acompanha mento do gado por quaisquer indivíduos estranhos à sua condução, para que se evitassem desmandos.
Além das entradas, tornaram-se habituais as esperas, momento do regresso, à noite, dos toiros, depois de terem sido lidados.
As entradas foram proibidas, no início da década de quarenta, do século XX, devido à morte de duas pessoas por um touro tresmalhado, dando lugar às largadas, sendo então os touros conduzidos para um local vedado, onde eram soltos, usualmente na Praça 1º de Maio e nas Ruas Machado dos Santos, Miguel Bombarda e Joaquim de Almeida.
Os touros começaram por ser largados embolados, apresentando-se, depois, em pontas.
Quando passaram a constituir um dos motivos de animação das Festas Populares de S. Pedro, a partir de 1959, no ano anterior tinha havido duas entradas, as largadas ocuparam preferencialmente as Ruas Joaquim de Almeida e Miguel Bombarda.
Em 1971, as largadas passaram a realizar-se no Bairro dos Pescadores e aí se mantiveram até 1981, apesar do desagrado dos moradores de S. Sebastião.
Após o 25 de Abril de 1974, os moradores deste bairro acharam que tinha chegado o momento de exigir o cumprimento da velha tradição e passaram a exigir que as largadas tivessem lugar nas Ruas Joaquim de Almeida e Miguel Bombarda. Não tendo sido deferida a sua pretensão quotizaram-se e passaram a organizar as Festas Populares de S. Sebastião, de carácter restritamente profano, nas quais se destacavam os divertimentos taurinos, além da “Noite do Comes e Bebes”, e da “Saída da Charanga com Danças de Rodas” e outras formas de entretenimento. Contudo, o ponto alto das festas eram as largadas - várias por dia, durante os três dias de festa- e a tourada.
Praça 1.º de Maio |
Na história recente de Montijo, há notícias das Festas de S. Sebastião, realizadas consecutivamente entre 1976 e 1981, como atrás se mencionou, resultantes dum acto de insatisfação dos moradores das Ruas Joaquim de Almeida e Miguel Bombarda e de outras que as circunvizinham por as largadas se efectuarem no Bairro dos Pescadores, quando, tradicionalmente tinham acontecido na antiga freguesia do Montijo. Mas, estes festejos não podem ser considerados reminiscências das Festas de S. Sebastião, cuja Ermida “ fez o concelho por sua devoção” , no século XV.
Em 1614, os mancebos solteiros da vila de Aldegalega considerando que “ o bem--aventurado Mártir S. Sebastião não tinha Confraria nem Irmandade na qual seja servido e festejado e que a sua igreja estava danificada e arruinada em partes e o seu altar sem ornamentos e tudo abandonado, determinaram tomar o santo mártir por seu protector e advogado”. Segundo o “ Compromisso da Irmandade do Bem-Aventurado Mártir S. Sebastião Instituída Pelos Mancebos Solteiros Desta Vila de Aldegalega do Ribatejo na Igreja do Santo Mártir, Que Foi Freguesia”, confirmado por alvará de Filipe II, de 20 de Fevereiro de 1615, “em cada ano, a 20 de Janeiro, no mesmo dia do Santo se faça a sua festa (com) Missa Cantada, Pregação e Procissão Solene”.
As touradas foram instituídas, em Aldegalega, no século XVI, por Provisão Real de D. Manuel, para divertimento do povo. À Câmara Municipal estava cometida, então, a responsabilidade de construir os palanques para ver os touros, que, usualmente, fazia no adro da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo (actual Praça da República).
As primeiras referências à existência de uma praça de touros, em Aldegalega, localizam-na no Largo de Santo António (actual Largo Dr. Manuel da Cruz Jr., ao Bairro dos Pescadores) e, posteriormente, na cerca do Convento dos Frades da Graça (actual Cinema Joaquim de Almeida).
Quando, em 1951, foram relançadas as Festas Populares de S. Pedro, não foi incluída a realização de nenhuma tourada no programa devido ao mau estado da Praça de Touros. No ano seguinte, a Comissão de Festas optou por realizar uma corrida numa praça desmontável e, a partir de
Entradas |
Um forte morteiro anuncia o princípio e o fim das largadas, que ocupam vários dias das Festas Populares de S. Pedro, sempre animadamente participadas. E mesmo quando o touro investe e colhe grave ou mortalmente algum aficionado mais afoito, o divertimento continua, porque é o arrepio da morte que se mostra nos cornos da besta que dá emoção ao espectáculo.
Rui, a 1ª foto desta entrada é da casa de azulejos que foi a casa da minha família desde 1910 (o nº 39 e o 41 da R. Machado Santos). Estão os meus bisavós na 1ª varanda, e os meus pais e a minha avó na 2ª varanda (isto se a vista não me falha)...
ResponderExcluirAbraços,
Gi Leiria