Fontes Pereira de Melo em Montijo
No
século XVI, já Aldeia Galega do Ribatejo [primitivo nome da actual cidade e
concelho de Montijo] tinha juiz ordinário.
No
século XVII, recebeu a Ouvidoria, que tinha sido transferida para Alhos Vedros,
e, apesar das reformas judiciais realizadas a partir de 1832, a vila manteve
sempre a sua comarca, salvo pelo curto espaço de tempo em que, por razões
políticas, foi transferida para a Moita.
A
primeira notícia da existência de uma cadeia em Aldegalega do Ribatejo
encontramo-la numa Visitação dos Freires da Ordem de Santiago que, em 1609,
«visitando nesta villa as cousas pertencentes ha comenda della, achamos a
cadeia della sendo villa onde haa juiz de fora não aver cadeia mais que uma
casa sem repartimento para prizão de molheres e estar sem ferros somente com
umas grades de pau e pouco segura.»
Segundo
o Dr. Avelino Rocha Barbosa, esta cadeia situar-se-ia na Rua Direita [R. de
Almirante Cândido dos Reis], no edifício onde, hoje, se encontra um
estabelecimento de restauração e bebidas. É informação que não conseguimos
confirmar.
Atendendo
ao estado da cadeia e à insegurança que oferecia, foi deslocalizada, em data
que se ignora, para uma propriedade de Miguel Varela de Mascarenhas, que
ocupava uma área compreendida entre a actual R. de Guerra Junqueiro e a Praça
da República, onde Cândido Ventura construiu o seu chalet.
Pelas
razões que fundamentaram a mudança das anteriores instalações, degradação do
edifício e falta de condições de segurança, a partir de 1844, o Governador
Civil de Lisboa passou a exigir também à Câmara Municipal «as obras e reparos
que forem mais necessários para a segurança da cadeia», uma vez que os telhados
ameaçavam ruir e os soalhos e os vigamentos encontravam-se bastante danificados.
Face
às insistências do Governador Civil, a edilidade, em 1851, informou-o de que «o
seu ruinoso estado exige de necessidades um concerto radical (e que) a obra foi
orçada pelos peritos em 1.000$00 (…). A Câmara se não achava habilitada com os
meios precisos para proceder aquela obra, cuja importância é muito superior às
forças dos Rendimento Municipais, dos quaes subtraindo-se o indispensável para
pagar os empregados pouco resta para acudir a outras obras de mais necessidade
no Concelho».
Para
solucionar o problema, em 1857, a câmara municipal acabou por instalar a
cadeia, provisoriamente, no pátio do Quartel Militar [actual posto da Polícia
de Segurança Pública], e mandou avaliar a antiga cadeia «para ser vendida em
praça».
Apesar
da reconhecida falta de segurança e de higiene da cadeia, só em 1872, na
reunião de 2 de Maio, o presidente da edilidade propôs a construção de uma
cadeia e tribunal judicial «e que não podendo a Câmara com os seus meios
ordinários ocorrer a avultada despesa de tão importante melhoramento, propunha
por isso para esse fim que se levantasse por meio de empréstimo a quantia de
9.824$000 réis, que em tanto foi orçada a despesa daquele edifício.»
Cândido Ventura adquiriu a cadeia e os terrenos anexos e ali construiu o seu chalet. Praça da República/ R. Guerra Junqueiro. Foto 1920
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Em
9 de Abril de 1874, realizou-se a cerimónia de lançamento da primeira pedra. A
obra iniciou-se em 1 de Julho de 1878 e ficou concluída em 1879.
No
dia 25 de Maio de 1879, o edifício da cadeia e tribunal foi inaugurado pelo
Presidente do Conselho de Ministros, Fontes Pereira de Melo, na presença do
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrade Corvo, do Ministro da Justiça,
Couto Monteiro, do Procurador Régio, Faria d’Azevedo e demais entidades locais.
No
dia 1 de Julho de 1879, a cadeia recebeu os primeiros presos.
Arco da porta principal do edifício. 1 de Julho de 1878, início da obra. 1 de Julho de 1879, recepção dos primeiros presos. 1 de Julho de 1967, inauguração das instalações dos Paços de Concelho.
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No
rés-do-chão estavam instalados o cartório do escrivão, a casa do carcereiro, a casa
de arrecadação, a repartição de finanças e dez celas para presos (homens). No
1.º andar estavam instalados o tribunal judicial e mais dez celas para presos (mulheres).
Em
1957, foi inaugurada a nova cadeia de Montijo.
O
tribunal ali funcionou durante oitenta anos, até ser inaugurado o Palácio de
Justiça, no dia 20 de Dezembro de 1959, pelo Ministro da Justiça Artur Varela.
Desocupado
o edifício das suas funções originais, foi adaptado para receber a Escola
Comercial e Industrial.
Construída
a escola, o edifício passou então a albergar, a partir de 12 de Fevereiro de
1965 e em condições precárias, a Câmara Municipal, que ali se instalou definitivamente
em 1967.
No
dia 1 de Julho daquele ano, o Ministro do Interior inaugurou os novos Paços do Concelho
e a Praça Gomes Freire de Andrade.
É importante e muito formativo continuar a oferecer à população de Montijo, especialmente aos mais novos,muito da história da sua terra e da importância que tem todo o seu passado. Estas memórias só valem se forem, de quando em vez, ressuscitadas, porque a memória dos homens é curta.
ResponderExcluirIndependentemente da realização que este projecto traz ao autor, ele valerá sempre por si próprio e permanecerá no tempo.
Mais uma vez um grande obrigado ao Rui.