Manuel Giraldes da Silva, Poeta Popular
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| Manuel Giraldes da Silva |
Manuel Giraldes da Silva, o patrono da Biblioteca Municipal de Montijo, autodidacta e de multifacetados talentos, foi, sobretudo, um poeta popular em toda a sua essência, e é esta vertente da sua personalidade que aqui se divulgará.
Filho de Manuel Francisco da Silva e de Pulquéria da Piedade Antunes da Silva, nasceu, em Pinhal Novo, no dia 27 de Maio de 1898, e veio a falecer em Montijo, terra que desde sempre adotara, em 27 de Novembro de 1974.
Poeta do Mulher – e do Amor -, senhor de gestos simples e de uma sensibilidade apurada, de palavra pronta e sempre disposto à amena cavaqueira, Manuel Giraldes da Silva confessou um dia:
«Eu nunca me julguei poeta pelos versos banalíssimos que tenho feito, mas sim pela minha sensibilidade. Sinto vibrar no mais íntimo do meu ser, a beleza infinita dos horizontes, que o meu olhar contempla extasiado.»
Um poeta não se apresenta, apresenta-se nos versos que escreveu. Aqui se deixa um pequeno “cartão de visitas” de Manuel Giraldes da Silva - Girsil, como também assinou algumas das suas composições.
Ao evocar Manuel Giraldes da Silva não posso deixar de enviar um aceno de simpatia e amizade a Georgina Miranda, companheira na imarcescível viagem que foi a descoberta de Manuel Giraldes da Silva.
A música e a poesia
São irmãs em sentimento,
Uma vibra p’la harmonia
A outra p’lo sentimento.
Deus, que existe em cada verso.
E esta palavra tão breve
Não cabe no Universo.
Deus está em toda a parte,
Dizem, eu creio e confirmo.
No sonho louco e na arte,
E até nos versos que rimo.
“Artífice do amor”…Não!
Poeta, sim, mas do amor sentido.
Eu nunca senti na vida por ficção,
Mas por amor, mulher, tenho vivido.
Dizem que tu não és minha
Mas não sei a razão
Se vives toda inteirinha
Dentro do meu coração.
Duas vidas – tua e minha –
Fazem uma vida só.
Dois bagos feitos farinha
Esmagados na mesma mó.
De alguém que o mundo condena
Tens pena, bem percebi.
Mas só de mim não tens pena
Que ando perdido por ti.
Minha alma já não suporta
A vida cheia de dor,
Se eu ando de porta em porta
Mendigo do teu amor.
À tua porta bati
Perdido no meu caminho,
E bem feliz me senti
Da esmola do teu carinho.
Todas as graças do céu
Deus a sorrir condensou
Nas formas que concebeu
Quando o teu corpo sonhou.
Sexo fraco a mulher?
Mas tem sarcasmo profundo.
Se, sempre, quando ela quer
Domina os homens e o mundo.
Se a vida em mim é imensa,
Quando te vejo passar
Fica-me toda suspensa
No brilho do teu olhar.
Meu nome escrito por ti
Nunca tão lindo o achei.
Se não foi o meu que li
Mas sim o teu que rezei.
Andam murmúrios no ar
De certa alma por ti louca.
Mas só Deus sabe julgar
O que anda de boca em boca.
Teus olhos verdes são lago
D’infinita placidez.
Perdidos neles naufrago
Num batel que tu não vês.
Deitei âncora no teu peito
Com ferros no coração.
Mas o ferro foi desfeito
Na rocha dura do não.
Meu nome não escrevas mais
É melhor tudo esquecer.
Os loucos já são demais
Não queiras mais conhecer.
As cartas de amor mais belas
Marcam as almas melhor,
As minhas nem sabes delas
As tuas sei-as de cor.
De tanto amor que me deste
Nada por fim me restou.
Fogueira que tu fizeste
Que o teu orgulho apagou.
Poetas são sonhadores
Dum sonho eterno e profundo,
Sendo por vezes senhores
Das coisas belas do mundo.
O verso quando se sente
Não custa nada a escrever.
É como água corrente
Que desliza sem saber.
Não prendam, nem um momento,
As aves são para voar.
É ave meu pensamento
Deixem-no livre sonhar.
No sonho do homem cabe
Todo o domínio que quer.
Mas desvendar nunca sabe
A alma duma mulher.
Se das outras tens ciúmes,
Nunca julgues que te esqueço.
As outras são vaga-lumes
Tu o sol a que me aqueço.
Por te amar tanto, perdi-me,
Esquecendo o nome dos meus.
Talvez, quem sabe, p’lo crime,
Por amar-te mais do que a Deus.
Se a morte foi p’ra Jesus
A Cruz, o fim dos seus passos.
P’ra mim a vida é a cruz:
A cruz linda dos teus braços.
Escuta mulher: na Cruz
Foi um Deus crucificado…
Quem me dera ser Jesus,
E tu a Cruz do pecado….
“Até breve meu amor”
Me disseste, na partida,
Mas como o mundo é traidor
O “breve” foi toda a vida…
Mulheres, quando eu morrer,
Lançai-me as cinzas ao mar.
P’ra nas ondas, as poder
Eternamente beijar.
Ruky Luky
Manuel Giraldes da Silva, homem de multicultura e autodidacta, duma simpatia fora do comum, que tive o prazer de conhecer pessoalmente e de visitar a sua casa antes do seu falecimento, tem sido apresentado como nascendo no Pinhal Novo, o que é um erro crasso e partindo dessa vila, no concelho de Palmela. Merece a pena debruçarmo-nos sobre este acontecimento. Palmela só recuperou a categoria de concelho em 1 de Novembro de 1926, ano em que foi criado o distrito de Setúbal (22.12.1926). Em 7 de Fevereiro de 1928 foi criada a freguesia de Pinhal Novo, que agregou os lugares de Rio Frio, Lagoa da Palha, Carregueira, Terrim, Montinhoso e Fonte da Vaca. Na data em que Manuel Giraldes da Silva nasceu (27.05.1898), Rio Frio ou pertencia a Alcochete, que recuperara o concelho em Janeiro desse ano, ou a Aldeia Galega, vindo posteriormente, já no século XX, como atrás se disse, a pertencer a Palmela, dada a demarcação desse concelho ser imposta em territórios de concelho ou concelhos pré-existentes, especialmente Setúbal.
ResponderExcluirTrata-se de uma investigação interessante, que merece ser aprofundada, tratando-se dessa figura ímpar que foi Manuel Giraldes da Silva, até para acabar com um erro que vagueia como se fosse uma verdade.