domingo, 27 de maio de 2012

O Discurso do Presidente

 «Modesto trabalhador, em contacto diário com a terra e que por força do destino [sou] também presidente da Câmara Municipal desta terra que me serviu de berço [Montijo].
 
A nossa terra vive um período áureo, e ciosa do seu valor quer cada vez mais e melhor. Não nos contentamos com pequenos melhoramentos de aldeia; as nossas aspirações são grandes, pois entendemos que a nossa terra também é grande sob todos os aspectos.

Quisemos um dia uma cadeia comarcã, amarra forte para a manutenção da nossa comarca e temo-la pronta a inaugurar este ano. Temo-la, sim, mas a melhor de toda a região.

Quisemos um mercado e temo-lo já em acabamento, um edifício invulgar pela sua concepção arquitectónica e pelo seu valor. É o mais belo e mais importante de toda a região.

Quisemos um Palácio da Justiça e já o vemos em adiantada construção – o primeiro pavimento foi há dias coberto. Mas esse Palácio de Justiça não tem par em todo o sul do Tejo; é um edifício situado no melhor local da vila, verdadeiramente monumental, e que importa em mais de cinco mil e quinhentos contos.

A iniciativa particular acompanha também o ritmo do progresso, fazendo surgir notáveis realizações.

Um dia o Montijo quis um cinema, mas não quis um cinema como qualquer outra terra, quis sim um edifício grandioso, monumental, com todos os requintes modernos, e a verdade é que o tem mesmo, quase pronto a inaugurar.

Mas o Montijo que não pára de querer, deseja agora uma Praça de Touros. Vê-la-á, sim, em breve, mas não será uma Praça qualquer, será uma das melhores do País, com lotação para seis mil e quinhentos espectadores e dotada dos mais modernos requisitos.

É assim a nossa terra. Demora a decidir, demora, por vezes, também a construir, mas sabe o que quer, porque só quer bom, grandioso, imponente e belo.»

                         José da Silva Leite


Discurso proferido em 1 de Julho de 1956, no almoço da classe piscatória nas Festas Populares de S. Pedro.
José da Silva Leite (1913 – 1986) foi presidente da Câmara Municipal de Montijo, no período de 1955/1960. Dirigente da União Nacional, marcou o seu mandato com uma acção política que denominou «Montijismo, isto é, a defesa intransigente de tudo o que de qualquer modo interesse à nossa terra.»

2 comentários:

  1. Aldeia Galega teve um grande presidente no século XIX, Domingos Tavares, avô de toda essa prole Mora, lavrador e vinicultor, que entre outros melhoramentos construídos na vila, instituiu a Escola Secundária de Aldeia Galega (1882/1906),que funcionou no edifício onde hoje é o BES, na actual Praça da República, (que na verdade hoje não passa duma ruela de passagem)cujo último director foi Manuel Neves Nunes de Almeida. No século XX, o Presidente de Câmara que mais contribuiu, de longe, para o engrandecimento da vila, foi José da Silva Leite que dirigiu a administração do concelho de forma superior, pelo o que lembrá-lo, independentemente da sua ideologia, é um acto de justiça e de respeito pela memória desse grande montijense. Aliás, já nesta nova fase da República, o dar o seu nome à Avenida da Escola Secundária, foi um acto meritório e de reconhecimento. As obras valem por si e também por quem as executa ou manda erigir.

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  2. A data do exercício de Presidente da Câmara Municipal de Montijo do sr. José da Silva Leite é um pouco mais alargada do que a que consta na nota de rodapé. José da Silva Leite foi vice-presidente desde 28.03.1951, na vereação presidida pelo Dr. Cristiano Vitor Leite da Cruz, até 14 de Agosto do mesmo ano, data em que começou a presidir interinamente às sessões de Câmara até 21 de Março de 1952, data em que foi nomeado presidente. A partir de 6 de Abril de 1960 deixou o cargo e foi substituído interinamente por António João Serra Júnior.
    Logo, foi vice-presidente desde 28 de Março 1951 a 21 de Março de 1952. Exercer o cargo de presidente de 21 de Março de 1952 a 6 de Abril de 196O, ou seja um pouco mais de 8 anos. Estes elementos informativos foram recolhidos no livro da autoria de Rui Aleixo, titulado "Galeria dos Presidentes", edição Nova Gazeta, 1993. O Rui sabe isto tudo, e muito mais, melhor do que eu, e só por lapso a nota de rodapé não está bem datada.

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