quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Dito e (não) Feito

Parece ser de elementar bom senso exigir-se que a deslocalização de uma infra-estrutura tão importante como um cais de passageiros seja acompanhada de rigorosos estudos que prevejam os impactos positivos e negativos que a medida possa causar e, se for caso disso, apontem também as medidas que os deverão compensar.
Sabe-se, hoje, que a decisão de deslocalização do cais para o Seixalinho foi tomada empiricamente, e, pela qualidade gelatinosa dos argumentos então aduzidos pelos principais “agentes da mudança”, alguns dos quais entraram no anedotário concelhio, alcança-se a presunção de que nem sequer a ideia da mudança estava maturada.

Surpreendidos pela força da erupção do debate popular, os políticos e autarcas socialistas fundamentaram assim, num primeiro momento, as razões da deslocalização:

O presidente da comissão política concelhia do       Partido Socialista, José Bastos, aliou à deslocalização do cais para o Seixalinho as seguintes vantagens:

1.      A transferência do Cais dos Vapores para o extremo poente da cidade, zona do Seixalinho, com um interface de qualidade, resolverá o grave problema do estacionamento com as seguintes vantagens: alarga-se o perímetro da cidade, que continua a ter aspecto de vila.

2.      O parque de estacionamento do Cais dos Vapores ficará livre para quem nos vier visitar. No casco velho não estacionarão mais carros cujos proprietários vão apanhar o barco para Lisboa.

3.      O interface do Seixalinho ligado à circular externa contribuirá para o desenvolvimento de uma zona de qualidade a Poente da cidade.

4.      O facto de se tratar de um interface de interesse regional para servir vários concelhos poderá ser argumento para pedir ao governo que construa a circular externa.

5.      Se os barcos ficarem no Cais do Seixalinho evita-se que os barcos com a forte ondulação que provocam continuem a destruir as salinas e provoquem o desaparecimento das mesmas.

6.      Melhora a vida dos poucos pescadores profissionais que ainda existem, pois a forte ondulação prejudica a faina da pesca.

7.      Um interface de qualidade a 20 minutos da baixa da capital poderá ser aproveitado para desenvolver o turismo do Concelho, porque «as pessoas que utilizam os barcos já têm tempo para tudo, até para fazerem compras, o que vem beneficiar o comércio local. É neste sentido que penso que a transferência dos barcos para o Seixalinho poderá, se bem aproveitada, trazer para o nosso concelho e para a nossa cidade um novo tipo de comércio baseado no turismo.»

8.       A Câmara poderá publicitar os barcos noutras regiões em colaboração com a indústria hoteleira e com o comércio em geral e assim tornar o Concelho um ponto a ser visitado por turistas do País e do estrangeiro.

9.      As despesas com o transporte de ida e volta para o Seixalinho têm de ser negociadas com a Transtejo entrando-se em conta os benefícios que esta empresa tem com a transferência do Cais.

10.  Construção de um pontão para se constituir uma reserva de água na zona da Lançada e pôr caldeiras a funcionar e nunca mais haverá assoreamento do rio.

Por sua vez, o vereador Nuno Canta alegou:

1.      É uma solução para resolver uma série de problemas de acessibilidades à cidade.

2.       Aumenta a comodidade dos passageiros.

3.      Incrementa melhorias nos transportes colectivos e diminui a utilização abusiva do automóvel particular.

4.      O Laboratório Nacional de Engenharia Civil deverá avançar com um estudo para apurar dados sobre o assoreamento da cala junto ao Cais dos Vapores.

5.      Vai permitir fortificar as margens do rio e construir uma grande avenida marginal, com um largo passeio pedestre, ao longo da cidade.

6.      Evita a extinção dos barcos, como já aconteceu com Alcochete.

7.      O movimento das ondas do catamarã é responsável pela derrocada dos muretes de sustentação das salinas.

Quando participou no debate, a presidente da Câmara Municipal de Montijo, Maria Amélia Antunes, propugnou:

1.      A transferência do Cais dos Vapores para o Cais do Seixalinho é uma medida estruturante.

2.      Resolve os problemas do estacionamento, do tratamento da zona ribeirinha e suas edificações, dos acessos mais qualitativos para Lisboa e o problema do trânsito no interior da Cidade.

3.      Possibilita a deslocação da actual estação de camionagem junto do Mercado Central para uma zona terminal que dê melhores vantagens aos passageiros dos transportes colectivos.

4.      O Cais dos Vapores será destinado a zona de lazer, com uma escola de aprendizagem de vela e desportos náuticos.

5.      Trará melhor qualidade de vida para os montijenses.

6.      Há muita gente das freguesias do concelho e de locais como o Pinhal Novo, Moita, Alcochete e até Vendas Novas que se desloca ao Montijo para apanhar o barco para Lisboa. Para essas pessoas é mais fácil seguirem para o Cais do Seixalinho, já que não entram no centro da cidade onde há mais trânsito.

Bem avisado andava o aldeano de boa têmpera, o senhor César Ventura, quando escreveu que:
«(Deslocalizar o cais para o Seixalinho) será destroçar o povo do Montijo, tirando-lhe a comodidade que tem há mais de 100 anos: possuir carreiras, pode dizer-se, dentro de casa. Seria destroçar o resto do pouco comércio que ainda existe na Rua da Ponte, na Praça da República e todas as ruas em volta; seria pôr o rio inavegável junto à Ponte, com os lodos a aumentarem arrasando a cala. Não nos tirem os catamarãs a poucos minutos das nossas casas. Hoje vêm centenas de turistas visitar-nos devido à localização da gare; se fosse no Seixalinho não vinha um. Poucas cidades do mundo têm tal privilégio de ter o cais “dentro de casa”. Ir seria o último golpe para o descalabro e para a ruína da cidade de Montijo.»

 Ruki Luki

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