«Só uma
perguntinha? Também não existia as festas de São Sebastião? A minha avó tem um
copo referente a esse evento. Ainda pensava que fossem algumas comemorações
anteriores às festas de São Pedro, mas com aquilo que tenho estado a aprender,
não me parece. Qual é a sua opinião?»
Jubylee Lee
Um dos primeiros povoados da antiga
Aldeia Galega do Ribatejo localizou-se na zona agrícola de quintas e fazendas,
ainda hoje denominada de S. Sebastião, onde se construiu, no século XIV, a
primeira igreja, sede de paróquia até à construção da actual Igreja Matriz.
Nesse tempo, a população ainda
corria às festas em honra de Nossa Senhora de Sabonha, que de tal modo eram
importantes que, em 1525, os Frades Visitadores da Ordem de Santiago ordenaram aos
moradores de Alcochete, Aldeia Galega, Póvoa, Samouco e Sarilhos que «todos
hão-de ir a Sabonha às festas principais ouvir missa à dita igreja.»
É curial, respeitando os usos
católicos, que a comunidade aldeana celebrasse, anualmente, o dia dedicado ao
seu patrono, S. Sebastião, então orago da paróquia, repartindo-o entre a
devoção religiosa e o prazer profano.
Talvez por isso, e sobretudo
pela distância que a separava de Sabonha [S. Francisco], Aldeia Galega tenha deixado
de concorrer àquela romaria.
Não se conhecem, contudo,
notícias daquelas festas.
No entanto, a povoação começou
a correr em direcção ao rio e, como se diria hoje, ganhou uma nova
centralidade, localizada no pequeno rossio onde se construiu, no século XV, a
Igreja do Divino Espírito Santo [Praça da República].
A Igreja de S. Sebastião, «que
fez o concelho por sua devoção», viu-se relegada para um segundo plano, e o
esquecimento dos homens a insensibilidade do tempo acabaram por a arruinar.
As festas de S. Sebastião, se
as houve nos séculos anteriores, tinham já caído no esquecimento quando, em 1614,
os mancebos solteiros da vila de Aldegalega do Ribatejo «alumiados pelo pai dos
lumes Deus Nosso Senhor» e «considerando como o bem aventurado Mártir São Sebastião
não tem confraria, nem Irmandade na qual seja servido, e festejado, e como sua
igreja está danificada, e arruinada em partes, e seu altar sem ornamentos, e
tudo posto em esquecimento. Determinaram primeiramente tomar ao Santo Mártir
por seu protector, e advogado e (…) erigiram Confraria do Santo Mártir (…)».
Segundo o Compromisso da Irmandade
do Bem-aventurado Mártir São Sebastião, confirmado por Alvará de Filipe II, em
20 de Fevereiro de 1615, «em cada ano, a 20 de Janeiro, no mesmo dia do Santo
se faça a sua festa (constando esta) de Missa Cantada, Pregação e Procissão
Solene da Igreja matriz até à casa do Santo.»
São raríssimas as notícias
destes festejos. Sabe-se, no entanto que, no princípio do século XX, em 1903,
«uma comissão deliberou fazer os festejos de S. Sebastião, que há muitos anos
não se faziam.»
A forte influência dos
movimentos republicanos – o PRP ganhou as eleições para a Câmara Municipal de
Aldegalega, em 1908 - e a laicização da vila conduziram ao estiolamento das
confrarias, ao encerramento das igrejas e ao fim dos festejos de cariz
religioso.
Em São Sebastião, zona
agrícola por excelência, medraram as tradições tauromáquicas. Entradas, esperas
e largadas sempre tinham acontecido naquela zona da vila, que também recebeu a
praça de toiros. Por isso, foi com naturalidade que as manifestações tauromáquicas
que passaram a integrar o programa das Festas de S. Pedro, no novo figurino por
que se passou a vestir a partir da segunda metade do século XX, ali se tivessem
realizado.
No princípio da década de 70,
do século XX, por razões que não iremos agora explicar, as largadas passaram a
realizar-se no Bairro dos Pescadores com o manifesto desacordo e
descontentamento da população de S. Sebastião. Mas o tempo político não
permitia protestos e contestações…
Em 1975, Abril acontecera, o povo,
que é quem mais ordena, decidiu organizar as Festas de S. Sebastião, não
identificadas com o Santo, mas, sim, com o bairro, como protesto pela
continuação da realização das largadas no Bairro dos Pescadores.
Festas profanas do povo para o
povo, cujo programa se recheava de largadas (muitas), vacadas e touradas, noite
da sardinha assada e espetáculos musicais. Três dias durava festa, concretizada
nas Ruas Joaquim de Almeida e Miguel Bombarda, no mês seguinte ao das Festas de
S. Pedro.
Embora contassem com o apoio
da Câmara Municipal de Montijo, as Festas de S. Sebastião viviam, sobretudo, do
contributo dos vizinhos daquelas artérias e do empenho da Comissão de Festas.
Regressadas as largadas ao seu
local habitual – S. Sebastião – e procedido ao acordo de cavalheiros entre as
comissões de festas, findaram-se as Festas de S. Sebastião, em 1986.
O copo da avó de Jubylee Lee,
assim como lenços e outras recordações, eram objectos vendidos para angariação
de fundos para a festa.
Ruky Luky
Obrigada pela resposta tão completa! Assim fica satisfeita a minha curiosidade. Se calhar até posso tirar uma foto ao copo para ter em arquivo. Que diz?
ResponderExcluirEstes apontamentos do Rui, excelentemente acompanhados de documentos são pérolas para a história de Montijo. É interessante que em Abril de 1975, eu ainda estava em exercício de funções na Câmara e possivelmente dei autorização para esses festejos que tiveram lugar em espaço público. Contudo, passados 37 anos só tenho uma vaga ideia sobre o caso. De qualquer maneira, ainda que de certa forma lateralmente terei alguma ligação com a recuperação das festas feitas ao santo.
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