O que disse Joaquim
Joaquim Xavier Serra. Aldegalega do Ribatejo, 28.12.1907 - Montijo, 28.04.1933 |
«Queremos, sim, nós,
os sinceros, os sequiosos da verdade e da justiça,
os paladinos da felicidade na terra, artistas e
sonhadores, escravos e
plebeus, caminhar delirantemente para a
conquista da Liberdade absoluta».(25
anos).
«0
povo não precisa de ter fé
em Deus. Isso é o
eterno desprezo
da luta pela vida em face dum fantasma que a imaginação dos homens criou e que não sabe definir levemente o que seja.
O
Cristianismo, que é bem uma ideologia
elevada e que conduziria os homens à sua perfeita
perfeição ( ... ) foi absorvido pelo Império e degenerou em fé.O Cristianismo é a Anarquia Pura. O Cristianismo é o fio condutor das justas reivindicações humanas que há-de construir a perfeição da vida e a beleza da sociedade futura. O Cristianismo é a Revolução Francesa que destruiu as tiranias do feudalismo. O Cristianismo é a Revolução Russa que destruiu os convencionalismos do Amor e abalou o Capitalismo universal, sustentáculo da burguesia reles que é quem nos dá ordens na vida, a nós, sonhadores, pensadores e artistas.
É preciso criar ateus para criar homens robustos e sãos, homens mais fortes e mais perfeitos.
Procuremos, pois, no Cristianismo puro a nova morai! que emancipará a Raça. (24 anos).»
«Quando é que o
sangue dos paladinos da Liberdade, dos filósofos do desespero e dos poetas da negação, desses ateus emancipadores, fecundará a terra inteira? Estes é que são os verdadeiros «cristãos, os apóstolos queridos que têm difundido os princípios mais puros do cristianismo» (25 anos).
«Seguiremos
por isso a
evolução da nossa consciência
e da nossa inteligência,
apoiada na livre discussão
da doutrina, para fugir a queda
do dogmatismo Político ou místico que é tudo quanto
há de pior para a total
emancipação do homem, quer
no campo das suas reivindicações, quer
no campo intelectual.» (24 anos).
«Nós seguiremos
avante constituindo uma nova falange, pronta a sacrificar-se por tudo o que represente uma causa justa, uma falange de almas novas, de almas livres, que não se submeterão jamais a peias nem a preconceitos, almas que não se vendem e que hão-de marchar unidas para a conquista
dos seus objecttivos.» (24 anos).
«Não seguimos
nenhuma determinada corrente política, nem aceitamos filiações partidárias
que servem,
quase
sempre, para restringir a liberdade de acção
daqueles que querem produzir algo
de útil para a Colectividade.»
(24 anos).
«Enquanto para ti só existes «tu», para mim
existem milhões de seres humanos. «Cada
um trate de si» é a tua divisa. «Tratemos
de todos» é a minha.
Eu
vivo segundo os ditames
da minha consciência. Tudo
o que ela me diz
é o
que eu faço». (25 anos).
«A
Arte é o sonho do sublime, o Ideal da perfeição humana. E o Ideal é o sonho do infinito, a Arte de amar a vida em tudo quanto ela tem de belo e de natural.
Procuramos
desvendar a Arte da mesma
forma que procuramos
desvendar o Ideal: tentando
extrair da grandiosidade
da natureza a beleza ingénita
que ela encerra, como a
planta extrai do húmus da seiva
bruta o gérmen produtivo
da sua florescência. Se alguma
diferença entre ambos se
pode notar a diferença
consiste no seguinte:
a Arte trabalha para a sua realização, o Ideal caminha para a suprema perfeição. O limite da primeira é o sublime, o limite do segundo é o infinito. A Arte procura a forma, o Ideal busca o Conceito. Por esse motivo nós não podemos admitir que haja Arte sem Idealismo nem que exista um verdadeiro Ideal sem intuição artística.» (20 anos).
«Deixai livre de todos os
preconceitos a consciência. O homem
consciente e de valor não deve
obedecer a escolas que sempre
restringem os seus méritos. Olhos
postos no ideal, acima das mediocridades
da vida e longe da servidão social,
assim deve caminhar o artista para
poder ser útil e para ser sublime». (22 anos).
(1)
A Mocidade – jornal manuscrito editado por Joaquim
Serra, aos 13 anos.
Não fazia ideia que o Joaquim Serra era um ateu tão ferranho e tão contra a religião.
ResponderExcluirÉ preciso conhecer o homem e o mundo que o rodeia. O que está em causa é a sua capacidade de raciocínio, a sua inteligência e profundidade de pensamento. Joaquim Serra cresce e vive em plena república jacobina e anti-idólatra. Bebe toda a sua filosofia de vida sob a inspiração de Guerra Junqueiro. Morre muito novo sem hipótese de aferir as suas ideias e pensamentos filosóficos. Se tem vivido mais que 25 anos poderia ter reformulado algum do seu radicalismo anti-religioso. Ficaremos sempre sem o saber. Temos de admirar, concordemos ou não com a sua linha de pensamento, que um miúdo com 13 anos tivesse uma tal capacidade de expressão idealista. No meu ponto de vista o grande valor intelectual de Joaquim Xavier Serra é no campo das ideias e só secundariamente pode ser observado como poeta. É uma opinião, não é um dogma.
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