O Grande Cinema
Independente
Frederico Guilherme da Costa |
No
dealbar de 1920, o cinema popularizava-se e o proprietário do elegante Salão
Recreio Popular continuava a deliciar as plateias com a apresentação de belas
fitas cinematográficas. No entanto, lamentava-se que «se não ponha cobro ao
constante estalar das rolhas das gasosas que incomodam os espectadores e não
seja proibido o uso de vinho durante o espectáculo, dando assim aquele conjunto
o aspecto duma taberna ao salão que não se fez decerto para isso.»
Na
sessão ordinária realizada no dia 4 de Fevereiro de 1920, a Câmara Municipal de
Aldegalega deliberou «deferir o requerimento de J.A. Pires para a instalação de
uma barraca desmontável para animatógrafo e teatro, no espaço compreendido
entre o edifício do Tribunal e o Cais das Faluas, ficando entre a barraca e o
referido edifício do Tribunal uma rua de seis metros de largura e pagando o
proprietário da barraca a taxa mensal de cinco escudos pela ocupação do
terreno.»
A
edilidade acedia, assim, à pretensão de João Antunes Pires que requerera
autorização para construir uma nova sala de espectáculos, no Largo Gomes Freire
de Andrade, e um cinema ao ar livre, o Cinema Central, na Rua Bolhão Pato,
(ex-Rua Teófilo Braga).
Um
ano volvido sobre o deferimento camarário, em Março de 1921, João Antunes da
Silva vendeu as duas salas de espectáculo à Empresa Relógio & Ribeiro,
constituída pelos aldeanos Avelino de Jesus Relógio e Frederico Guilherme da
Costa.
A
nova empresa iniciou sua actividade, no dia 2 de Outubro de 1921, tendo obtido
grande assistência em todos os espectáculos, «devido aos escolhidos programas
cinematográficos que capricha apresentar ao público frequentador.»
Ao
terminar a época de Inverno, a empresa exploradora requereu autorização à
Câmara Municipal de Aldegalega para proceder à ampliação da barraca até à
esquina do tribunal, bem como em ocasião oportuna a construção de uma marquise,
porque o espaço ocupado pelo cinema era insuficiente para as exigências e
comodidades do público.
O
pedido foi deferido e depois de concluídas as obras de ampliação à barraca foi
dado o nome de “Grande Cinema Independente”, que se inaugurou no dia 2 de
Outubro de 1922, com a projecção da «película Por Amor, onde a eminente actriz
Pérola Branca tem um trabalho violentíssimo que faz emocionar todas as plateias
onde tem sido exibida.»
O
“Grande Cinema Independente”, cuja autorização de cedência terminaria em 1925,
apresentava «um record de brilhantes espectáculos, tanto cinematográficos, como
de opereta, embora o nosso público não tenha correspondido à boa vontade da
empresa». Porém, «depois de tão belos espectáculos até hoje apresentados, e
ainda no último domingo com o Pobre Miudinho, já para o próximo dia 1º de Maio,
feriado Municipal, a Empresa contratou um dos melhores filmes em séries que
ultimamente no Salão Central se exibiu, O Atleta Invencível, que grandes
enchentes àquele Salão levou, o qual fechará a época de Inverno. O Atleta
Invisível, pelo artista mais popular do mundo, Eddie Pólo, que se divide em 18
séries e 36 partes, exibindo-se naquele dia as três primeiras séries
intituladas: 1ª «Dinheiro Ensanguentado», 2ª «O Desconhecido», 3ª «Arma
Acusadora.» Por noite exibiam-se três séries e durante seis sessões apresentava-se
o filme.
Os
espectáculos cinematográficos tinham recebido, desde Fevereiro de 1925,
regulamentação específica. As empresas ficavam obrigadas a comunicar, com a
antecedência de 24 horas, os títulos e os assuntos das películas novas e o dia
em que seriam apresentadas ao público, a fim de se poder verificar se as
explicações dessas fitas estavam escritas em corrente linguagem portuguesa, ou
se, pelo assunto nelas tratado, constituíam motivo para serem retiradas por
atentarem contra a moral social, incitarem ao crime ou serem perniciosas para a
educação do povo. Nos espectáculos cinematográficos, era proibida a entrada de
menores de 12 anos, quando desacompanhados dos pais, tutores, professores ou
pessoa responsável pela sua guarda, salvo em sessões diurnas exclusivamente
dedicadas a crianças, com a exibição de películas instrutivas.
O
Grande Cinema Independente continuava a receber no seu palco companhias de
teatro e de opereta.
(cont.)
Ruky Luky
Lembro-me perfeitamente das manas Fredericas umas senhoras adoráveis eu passava as tardes em frente à Papelaria Frederico, na loja da minha tia (início dos anos 80). E estou a achar o artigo interessantíssimo, fico a aguardar com expectativa a continuação :).
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