O Livro
Colorido de Amélia Antunes
A senhora Maria Amélia
Antunes, presidente da Câmara Municipal de Montijo, publicou um livro
intitulado «A Mudança Com Futuro», que é, como confessa a autora, «uma breve
síntese, de áreas de intervenção, do trabalho realizado em todas as freguesias
do concelho, que contribuiu para as mudanças verificadas ao longo destes anos».
Profusamente ilustrado a cores e com cerca duzentas páginas, a
obra foi elaborada em «hora de balanço», e «contém, diz Amélia Antunes, uma
parte de algumas das intervenções que proferi em diversos contextos e circunstâncias,
bem como textos publicados, acompanhados de algumas imagens que marcaram todo
este percurso.»
Nada haveria a apontar se a senhora Maria Amélia Antunes, na hora
da sua partida, quisesse distinguir os seus amigos com as «marcas do percurso»,
que transformaram a cidade de Montijo num sofrível dormitório, e lhes tivesse
oferecido o livro.
Porém, a edição foi paga pela Câmara Municipal de Montijo, os
trabalhos de recolha e revisão de textos, de fotografia e de concepção da capa
e de paginação foram realizados por funcionários da câmara, e isto deve merecer
um reparo.
Na hora da partida, a senhora Maria Amélia Antunes, a quem faltou a
sapiente humildade dos simples, quedou-se perante a vaidade dos medíocres e utilizando
os meios do município editou uma obra em proveito próprio, que corresponderá,
talvez, àquilo que a autora denomina de uma «gestão transparente (e) rigor na
utilização dos dinheiros públicos» (in “Introdução” de “A Mudança Com Futuro”).
O livro não passa de um acto de propaganda e de promoção pessoal,
pois da sua penosa leitura não se alcançam especiais razões de interesse
público que pudessem fundamentar a sua edição a expensas do cofre do Município.
Há cerca de 16 anos, a senhora Maria Amélia Antunes foi eleita
presidente da Câmara Municipal de Montijo e trazia consigo – pois assim o
prometera – a esperança de um futuro promissor para o município.
Durante os seus quatro mandatos, beneficiou de condições
económicas, financeiras, sociais e políticas que nenhum outro presidente
obtivera, pelo menos, nos últimos cem anos da História de Montijo. Os
executivos presididos por Maria Amélia Antunes gozaram sempre de maioria
absoluta. O Governo da República foi, na maior parte dos seus mandatos,
socialista, assim como socialista foi o presidente da União Europeia.
Contudo, apesar de ter as arcas do Município bojudas – o município
enriqueceu com o licenciamento de inúmeras urbanizações -, de não lhe faltarem
apoios governamentais e europeus, faltou-lhe o golpe de asa da competência e da
sapiência, que a inspirasse a transformar Montijo numa das cidades mais
ilustres da Área Metropolitana de Lisboa.
Maria Amélia Antunes prometeu transformar a cidade de Montijo em
“Cascais do Séc. XXI”, conceito que só ela e os seus amigos lograram alcançar,
mas legou aos montijenses um dormitório; confrontou a cidade com o grande
embuste da deslocalização do Cais dos Vapores; prometeu um complexo desportivo,
que se enredou, depois, nas teias judiciais e do qual se deixou de falar; combateu
a imprensa livre; ignorou a participação popular; introduziu um léxico
inapropriado no debate com a oposição – bandalho, disse ela; balizou o seu
mandato entre a autocracia do quero, posso e mando e o nepotismo.
Na hora da partida, Maria Amélia Antunes deixa o Município com uma
dívida que rondará os 20 milhões de euros, e em tais condições financeiras que
não consegue, sequer, dotar a biblioteca, pelo menos, com um jornal diário ou
uma fotocopiadora – esta já falta há quase dois anos.
Maria Amélia Antunes nada de novo acrescentou ao concelho que
outros presidentes não o tivessem feito. Não soube inovar e, naquilo que já
existia, onde tocou transformou em pechisbeque. Emudeceu o Montijo e sobre ele cerziu e lançou um manto de apagada e vil tristeza.
Se se traçar um paralelismo entre a obra inovadora realizada por
José da Silva Leite, em dois mandatos, na década de cinquenta, e aquela que a
autora de «A Mudança Com Futuro» agora apresenta em livro colorido, dir-se-á
que a grandeza da obra de José da Silva Leite dispensou a edição de qualquer
livro, porque bastou o Homem e a Obra para que a História os tivesse registado em
páginas douradas, enquanto a Maria Amélia Antunes será reservada uma pequena e
envergonhada nota de rodapé a lembrá-la como o exemplo da oportunidade perdida
– a pior presidente em Democracia e uma das piores da História de Montijo.
De uma coisa estamos certos. Se, porventura, José da Silva Leite,
membro indefectível da União Nacional, tivesse editado um livro a propagandear
a sua obra tê-lo-ia pago com os seus proventos e não teria recorrido aos cofres
da Câmara Municipal de Montijo.
Ruky Luky.
O vencimento do SENHOR JOSÉ DA SILVA LEITE, como Presidente da Câmara Municipal do Montijo, servia, por exemplo, para custear uma "Colónia de Férias" para muitos jovens que, na altura, dela necessitavam.
ResponderExcluirSaúdo a frontalidade do Rui, por assumir publicamente o que pensa, contrariando a regra que vigora, que é nada dizer para não levantar ondas, tendo alguns, por precaução, de evitar processos na justiça, que, infelizmente, estes últimos mandatos autárquicos foram pródigos. Na história de Aldegalega e Montijo, julgo que nunca houve tantos casos em tribunal, envolvendo conflitos entre a Câmara e outras entidades.
ResponderExcluirA sociedade civil e as organizações representativas de alguns interesses colectivos foram-se esboroando. Nos últimos anos, para além de pequenas associações desportivas de bairro, desapareceram ou hibernaram o Círculo Histórico-Cultural, ao qual a Câmara presidida por Acácio Dores forneceu instalações e alguns anos depois lhe foram retiradas, O Palmeiras, O Musical, a Banda Democrática, reduzida apenas ao desporto, a Sociedade Recreativa Afonsoeirense, etc. A mudança de estação fluvial matou toda a frente ribeirinha - desde, os Pescadores, Calçada, Bairro Serrano e Barrosa. As alterações de trânsito, especialmente na Estrada Nova, Praça da República e Rua Direita, mataram toda a vida comercial nesses espaços e tornaram impossível aí residir a quem tivesse crianças ou fosse idoso, pela dificuldade e proibição de levar os carros à porta. Os fomentadores da nova política que veio a ser instalada, eram contra a construção da Ponte Vasco da Gama no Montijo, da mesma forma que já se manifestaram contra a alternativa do aeroporto - Portela + 1 - na BA6.
Aldegalega foi grande, chegando a ser a 2.ª maior comarca do distrito de Lisboa, com círculo eleitoral de 4 deputados. Aa vila de Montijo foi florescente durante algumas décadas. A cidade de Montijo está há décadas em decadência constante. É o destino, e pouco adianta culpar A ou B, porque a culpa é de todos nós, quer por omissão, quer por acção.
Uma vergonha, publicação de propaganda custeada pelo erário público. Mais provas fossem necessárias...
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