quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Imenso Adeus ao Cais dos Vapores

O Cais dos Vapores, 1961

      Começo, hoje, a publicar uma pequena cronologia sobre a história do Cais dos Vapores, elemento fundamental da história e do desenvolvimento de Montijo, cuja deslocalização para o Seixalinho, acerca de 5 Km do centro da cidade, lançou o Montijo numa apagada e indisfarçável vil tristeza e causa os maiores transtornos aos utentes do barco.

Não se descortinam os fundamentos ou as razões para a deslocalização do cais, a não ser a arrogância do poder, a incompetência e a ignorância.

O Cais dos Vapores era seiva a alimentar a cidade, a animá-la, era promessa de um novo futuro.

Escreveu Álvaro Valente: «Uma certeza nos fica porém: a de que o passado deste povo nos traz ensinamentos que é preciso não esquecer, antes lembrar quotidianamente, como exemplo a seguir, para que esta vila enfileire e marche, como nos outros tempos, na estrada ampla da civilização, a caminho de um porvir cada vez mais radiante e progressivo!”

A vila progrediu, a cidade regrediu.

   1852
 
13.04 – O presidente da Câmara Municipal de Aldeia Galega do Ribatejo, António Silva Sustância, informa a Câmara e a representação dos habitantes do concelho, que participavam naquela reunião, que soubera «por boas vias» que o Governo queria «mandar formar uma Ponte no Montijo (local da Base Aérea nº6) para ali aportar o Vapor e fazer o embarque e desembarque e ser ali o ponto de partida da Estrada Lisboa a Elvas e Évora». A Câmara reconheceu que «uma tal medida além de não oferecer vantagens ao Governo, muito vinha a afectar os interesses dos habitantes desta vila e neste caso muito convinha que a Câmara e os Povos deste Concelho representassem a nenhuma conveniência de no Montijo se fazer o porto de embarque e desembarque do Vapor, e mostrar ao mesmo tempo que com uma despesa muito inferior se pode abrir a cala e fazer com que o Vapor possa em todo o tempo ir à cala grande e aí fazer o embarque e desembarque de passageiros.»
É nomeada uma Comissão para redigir um abaixo-assinado, que logo o fez e o enviou.

9.05 – Na reunião da Comissão de Redacção o presidente da Câmara Municipal convida a câmara e a comissão a “apresentarem algumas medidas para que se pudessem pôr algum obstáculo para que aqueles trabalhos não prossigam”, por lhe parecer que “a representação que se tinha feito não sortia o fim que se desejava e que lhe não oferecia dúvidas que se projectava fazer a estrada e o porto de desembarque no Montijo”. Durante a reunião foram surpreendidos com a notícia que se dirigia um barco a vapor para Aldegalega «e que a bordo vinha Sxª. O Ministro Secretário de Estado dos Negócios do Reino».

19.07 – Governo celebra contrato com a «Empresa de Navegação do Tejo por barcos movidos a vapor» adjudicando-lhe o «exclusivo por espaço de quinze anos, a começar no dia 25 de Novembro do corrente, para só ela fazer por meio de barcos a vapor a comunicação do mesmo rio entre os seguintes pontos: ao norte, até à foz do canal de Azambuja, ao sul até Aldêa-Gallega, e Rozairinho (...)». Nos termos do contrato «a Empresa não será obrigada a levar a efeito a carreira entre Lisboa e Aldêa-Galega, com escala pelo Rozairinho, sem que o Governo faça construir a ponte em Aldêa-Gallega para o embarque e desembarque em todas as marés». A tabela de preços é a seguinte: «De Lisboa para o Rozairinho ou Aldêa-Gallega, ou vice-versa – proa - cento e vinte réis – ré - duzentos e quarenta réis. A bagagem dos passageiros não pagará cousa alguma, quando não exceder o peso de uma arroba portuguesa.» A empresa estava obrigada a estabelecer uma carreira diária para Aldêa-Gallega «com escalas pelo Seixal, Barreiro e Rozairinho.»

24.08 – O Ministro Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Barão da Luz, reúne nos Paços do Concelho de Aldeia Galega com a Câmara Municipal, na presença de muitos cidadãos. Decide-se que “ a linha directriz da rua para o novo cais seria em alinhamento recto começando na Praça, seguindo a Rua da Calçada e continuando até ao ponto da baliza onde se construirá o cais, conforme a planta que «neste momento foi oferecida pelo Exmº. Sr. Barão da Luz».

29.12 – Câmara Municipal de Aldeia Galega do Ribatejo delibera comprar «a Vinha de Francisco Rodrigues Cardeira Papança, no sítio do Moinho das Nascentes, para ali se formar um porto para se descarregarem e depositarem os estrumes necessários para adubo das terras(...) e que «além do porto que se fizer para o descarrego das Lamas na vinha do Papança se faça mais um  junto à Marinha da Calçada».










4 comentários:

  1. Boas tardes,

    O meu nome é Miguel Sousa e sou aluno de Arquitectura na Universidade Lusofona e estou neste momento a realizar a minha tese de mestrado. Tese que tem como tema a Revitalização de Frentes Ribeirinhas, tendo como caso de estudo o Cais dos Vapores. Após ter lido alguns dos seus posts aqui no blog, despertou muito o meu interesse na problemática da transferência do cais para o cais do Seixalinho e todas as consequências/vantagens/desvantagens que este acto provocou.

    Pretendo enquadrar e resumir esta temática de uma forma que nos diga as razões que levaram à mudança de cais, as supostas vantagens dessa mudança e das suas possibilidades e concluir com o que a mudança em si provocou nos Habitantes do Montijo e na cidade em si. Pretendia assim pedir-lhe ajuda com informação recolhida, ou onde posso recolher informação.

    Obrigado,
    Melhores cumprimentos

    Miguel Sousa

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    1. Caro Senhor Miguel Sousa,

      Se pretende informações adicionais sobre a deslocalização do Cais dos Vapores, contacte-me, por favor, para o seguinte e-mail: rialeixo@yahoo.com.br.

      Agradeço-lhe a atenção dispensada ao blogue


      Montijo e Tanto Mar

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    2. Boas tardes,

      Só agora vi a sua resposta, pensei que seria notificado de alguma forma. Peço desculpa, no entanto tentei enviar email para o que disse e não consigo enviar, diz não ser reconhecido.

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    3. Caro senhor Miguel Sousa, experimente, de novo, por favor, enviar a mensagem para: rialeixo@yahoo.com.br
      É o endereço correcto. Não terá colocado um ponto a seguir a br?
      Em alternativa, no facebook, procure a página de Montijo e Tanto Mar e registe o seu e-mail.
      Cumprimentos,
      Montijo e Tanto Mar

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