terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mr. Sousbié Convida

A Exposição Automática e Científica da Sociedade Artística de Paris

 No final do século XIX, Aldegalega era ainda a porta sul de Lisboa, ponto de paragem obrigatório para se alcançar a capital do País, e esta localização privilegiada transformou-a num palco dos mais diversos entretenimentos, fosse um urso amestrado a passear pelas ruas, uma barraca de saltimbancos, ou uma exposição.

Em 1900, a população de Aldegalega foi surpreendida pelo convite de Mr. Sousbié para visitar a «Maravilhosa Oleóptica, da Grande Exposição de Paris», colecção de peças mecânicas, desconhecidas em Portugal.
A exposição compunha-se de «objectos e de uma grande colecção de vistas modernas». Tratava-se de um pavilhão de curiosidades.

O Convite referia-se à «Exposição Automática e Científica da Sociedade Artística de Paris» e enfatizava que «Mr. Sousbié acaba de receber um sortimento de peças mecânicas de um trabalho e imaginação, o mais completo que se pode exigir, das principais cidades da Europa: é uma colecção inteiramente desconhecida neste país, de diferentes artigos da mais alta novidade, sem rival, e que se pode classificar – Non plus ultra da Europa. Mr. Sousbié escolheu uma colecção de gosto(…). Por este motivo convida todos os amadores e artistas portugueses a virem ver a linda produção dos mestres das melhores oficinas da Europa, em que se revelam as mais sumptuosas ideias artísticas.» 
A entrada era franqueada a partir das 18H00, ao preço 60 réis e de 40 réis para crianças e militares sem graduação, na casa da viúva de José Bento, perto da Rua Direita.



Quem visitasse a “Maravilhosa Oleóptica” podia apreciar o Domador de Serpentes, ver a Resignação de Cleópatra, ouvir Música automática (piano), admirar a Grande Valz, executada por marquês e marquesa no tempo de Luís XIV, encantar-se com a Rainha do Congo, observar a Vista à Roda do Mundo representada pela artista Sarah Bernhardt, e divertir-se com as Cenas Cómicas e Transformação de Fisionomias. A par dos objectos, a exposição patenteava também uma Grande Colecção de Vistas Modernas, retratando o Enterro de Victor Hugo, a Batalha de Toukin, Franco-Prussiana, o Princípio do Mundo até à Morte de Cristo e a Vista Geral da Exposição de Paris de 1889.

Um regalo para os olhos, um espanto para a imaginação.

A exposição transitou, depois, pelo País.

Trabalhava-se então de sol a sol, em Aldegalega. A vida corria rude pelos campos, pelo rio e pela vila. Ainda assim, o aldeano não dispensava a diversão, sobretudo aos fins-de-semana, em que os bailes que se realizavam no salão «primorosamente ornamentado de flores» da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro ou do Novo Club, no armazém de José Maria Vasconcelos ou na quinta de Francisco Justiniano Marques, eram «recheados de infinita graça e animação com as melhores famílias da elite d’esta vila».
No Largo da Caldeira [actual Praça Gomes Freire de Andrade], as barracas de espectáculos ali instaladas aguardavam também por uma visita dos aldeanos.

Ruky Luky

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