domingo, 25 de agosto de 2013

Afonsoeiro

O Velho Bairro Operário


O velho bairro operário pobre, de génese clandestina, onde os esgotos corriam a céu aberto por valas que atravessavam as ruas (reganos lhes chamavam outrora), e, no seu limite, se cuidava de pequenas hortas ou de chiqueiros onde se engordavam porcos que engordavam o parco pecúlio familiar, esse bairro só subsiste, hoje, na memória de quem ali viveu a Primavera dos seus primeiros anos e recolhido por estes dias no Outono da vida continua a habitar nas brincadeiras pelas ruas, na rivalidade dos miúdos dos bairros vizinhos, nas corridas para o rio, nas tabernas onde os pais se encontravam, no pó da cortiça que cobria o bairro e numa pobreza recordada como registo de um tempo amargo guardado sem rancor nem azedume.


O topónimo Afonsoeiro será uma corruptela do nome de Afonso Soeiro de Albergaria, proprietário de uma quinta, no século XVI. 
Zona de terrenos férteis, nela se inscreveram diversas propriedades rurais. 


A instalação de diversas fábricas de transformação da cortiça, nomeadamente a Mundet, nos anos 20,  no Afonsoeiro, impulsionou uma construção rápida e intensa de natureza clandestina e humilde, que receberá os operárias e as suas famílias. O bairro surgiu do loteamento das propriedades rurais proporcionado pelo desenvolvimento industrial da vila de Aldegalegga do Ribatejo, que se tornou mais marcante na década de 40, «data da conversão urbana em Montijo, apoiada na afluência de alentejanos, gente de ofício e de fábrica.», que se instalaram em bairros de natureza clandestina e nos pátios.


O desenvolvimento industrial do Afonsoeiro está na origem da construção e um posto de transformação de electricidade, hoje, desactivado.


O bairro estende-se por ruas rectilíneas dispostas em quadrícula, com casas usualmente térreas, remodeladas, que escondem os testemunhos de um passado humílimo. Os nomes das suas ruas remete-nos para o império colonial português.


Casas tradicionais geminadas.

As novas habitações  do velho bairro operário. 

O velho deu lugar ao novo.


As velhas tabernas [que histórias fantásticas guardarão?] encerraram-se.


Mas o bairro guarda ainda alguns estabelecimentos de restauração e bebidas.




Conjunto de moradias


Tipo de fogo, sem janelas, já raríssimo.



Residências geminadas



O velho Bairro do Afonsoeiro é hoje parte integrante da Freguesia do Afonsoeiro, criada em 1989. A freguesia passará a integrar a União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro.
Os vestígios do passado adivinham-se nas suas casas que ainda conservam o antigo traçado, porque,  paulatinamente, sobretudo depois de 25 de Abril de 1974, o bairro ganhou um novo conforto, em primeiro lugar, com a sua legalização, e depois, entre outras dotações, com a construção de escolas, de bairros sociais, do edifício polivalente da Junta de Freguesia, que recebe um pólo da biblioteca municipal, do parque infantil, e do centro de saúde.
Na freguesia foram construídas novas urbanizações após a construção da Ponte Vasco da Gama.
Ao fundo da artéria, o moderno templo católico construído pela acção do Padre Manuel Gonçalves.





Um comentário:

  1. O bairro do Afonsoeiro, ex-freguesia do Afonsoeiro, hoje formando um aglomerado conjunto com a Bela Vista, Alto das Vinhas Grandes (antigo Bairro Sem Justiça) e Estrada Velha da Lançada e outros lugares, merecia um estudo que aprofundasse a sua génese e desenvolvimento. Começou por ser um bairro, dito clandestino, a partir de 3 ou 4 fazendas arruadas e vendidas em talhões,com casas construídas, nas sua maioria, pelos próprios moradores, quase todos operários da indústria corticeira ou de preparação de carnes. Algumas fábricas situavam-se perto destas moradias e daí ser um local privilegiado para ambas as partes.Nasci na Calçada e com 5 anos fui para o Bairro do Mouco. Com 10 anos,fui morar para o Afonsoeiro e ainda hoje, por herança, tenho parte de uma casa e terreno (600 mts), situados na rua de Macau, perto ao quartel da GNR. O meu pai teve ali um pequeno fabrico de cortiça e mercearias, durante alguns anos, em diversos locais, pois conforme o bairro crescia ele mudava o lugar procurando situá-las melhor. Porque ali passei a minha juventude, tendo exercido a minha actividade cívica como dirigente da Sociedade Recreativa e do Estrela Futebol Clube,pois só depois de casar voltei à vila, tenho uma afeição especial pelo bairro e nessa conformidade, de acordo com os meus familiares mais chegados, ofereci a minha biblioteca à Junta de Freguesia, a entregar em tempo oportuno, conforme conversa havida com o Presidente. Acabando a Junta de Freguesia, deixou de haver entidade localizada para efectuar a dádiva. Contudo a proposta mantém-se porque há-de haver instituição substituta.

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