Que conceito de cidade?
O semanário “Expresso”, de 11 do corrente mês,
divulgou um suplemento da Câmara Municipal
do Montijo —Urbanismo, sob o título «Um Futuro Planeado».
Trata-se de uma
brochura que assinala a presença da Autarquia no
Salão do Imobiliário realizado na
Feira Internacional de Lisboa e, por
outro lado, dá o beneplácito do
Executivo Socialista a um conjunto de empresas de construção civil, que investirão no Montijo, e, presume-se, são apresentadas como modelo a
seguir.
Com apresentação cuidada, mas de revisão descurada, o suplemento dá conta das novas urbanizações que se construirão —não diz quando — no concelho e dos projectos mais relevantes que serão implementados pela Autarquia.
Embora chegue a roçar a fantasia — ou publicidade enganosa? —, pois está ilustrado com uma falua ou fragata apinhada de veraneantes, coisa que não existe no Montijo,
remete o imaginário para um castelo altaneiro em «St. Isidro Gardem»,
que, como se sabe, não existe também, e publicita urbanizações «frente ao rio Tejo» —onde? —, a publicação tem o condão de nos elucidar sobre o Montijo
do futuro e a aposta feita pelos
socialistas na área do urbanismo.
A
rica — em preço — brochura outra
coisa não faz que anunciar a cidade do futuro,
ou seja, a cidade de betão, a «Nova Almada ou Novo Seixal», modelos tão rejeitados
quando se discutiram os impactos da construção da nova travessia do Tejo — a
Ponte Vasco da Gama — e que agora se apresentam
como metas a atingir.
As urbanizações
publicitadas com o aval do Executivo
Socialista são, na generalidade, de cinco pisos e os projectos
divulgados mostram-nos filas de edifícios enquadrados de modo a tirarem maior
partido da ocupação do solo. Não há uma
palavra para áreas de lazer ou
desporto, para a rede de transportes urbanos, para o reforço das redes de água e esgotos, para as vias
de comunicação, para tudo quanto,
afinal, humaniza uma cidade e
reforça a sua identidade. Pelo contrário, é o império do betão em toda a sua agressividade, é o desenvolvimento sustentado do Montijo
posto em risco.
Não admira que
assim aconteça. A gestão das cidades torna-se, dia a dia, tarefa muito complexa, que não se compadece com o empirismo de alguns políticos nem tão
pouco com a ausência de instrumentos de planificação e direcção, como sejam,
entre outros, os planos de urbanismo, de salvaguarda ou de pormenor, cuja raridade prima no Montijo.
O Partido Socialista bem pode aplicar rios de dinheiro em propaganda
para fazer crer que tem um conceito sui generis de cidade para o Montijo. Será em vão, porque a cruel realidade mostra-nos que a nova
Reboleira está para breve e, neste
caminho, ainda havemos de suspirar por... Almada.
Rui Aleixo
NG 24.11.2000
Em alguns concelhos os executivos puseram-se a jeito para os construtores e toda a plêiade ligada à urbanização retirar partido dos novos espaços. Desde proprietários de terrenos próximos das cidades, então requalificados como urbanos, e antes zonas agrícolas ou de protecção ambiental, até engenheiros, arquitectos, gabinetes de estudo de mercado, mediadores, bancos e bandos de intermediários, toda esta gente descobriu o Eldorado com as novas edificações. A ganância sobrepôs-se ao interesse da vida local ou nacional. Foi um ver se te avias e agora, com o desastre consumado, ninguém é responsável, até porque não há leis que castiguem tais crimes. Não chega denunciar tais erros, porque há sempre alguém com alguma responsabilidade e, por isso, ela dissolve-se na multidão.
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