sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Montijo,

Que conceito de cidade?


A cidade que hoje temos foi anunciada no virar do século. Sabia bem o que pretendia - quem agiu e quem se calou de modo cúmplice. Não há inocentes entre os realizadores, actores e figurantes deste "filme".
O semanário “Expresso”, de 11 do corrente mês, divulgou um su­plemento da Câmara Municipal do Montijo —Urbanismo, sob o título «Um Futuro Planeado».
Trata-se de uma brochura que assinala a presença da Autarquia no Salão do Imobiliário realizado na Feira Internacional de Lisboa e, por outro lado, dá o beneplácito do Executivo Socialista a um con­junto de empresas de construção civil, que investirão no Montijo, e, presume-se, são apresentadas como modelo a seguir.
Com apresentação cuidada, mas de revisão descurada, o suplemento dá conta das novas urbanizações que se construirão —não diz quan­do — no concelho e dos projectos mais relevantes que serão implementados pela Autarquia.
Embora chegue a roçar a fanta­sia — ou publicidade enganosa? —, pois está ilustrado com uma falua ou fragata apinhada de verane­antes, coisa que não existe no Montijo, remete o imaginário para um castelo altaneiro em «St. Isidro Gardem», que, como se sabe, não existe também, e publicita ur­banizações «frente ao rio Tejo» —onde? —, a publicação tem o con­dão de nos elucidar sobre o Mon­tijo do futuro e a aposta feita pe­los socialistas na área do urbanismo.
A rica — em preço — brochura outra coisa não faz que anunciar a cidade do futuro, ou seja, a ci­dade de betão, a «Nova Almada ou Novo Seixal», modelos tão re­jeitados quando se discutiram os impactos da construção da nova travessia do Tejo — a Ponte Vas­co da Gama — e que agora se apresentam como metas a atin­gir.
As urbanizações publicitadas com o aval do Executivo Socialis­ta são, na generalidade, de cinco pisos e os projectos divulgados mostram-nos filas de edifícios enquadrados de modo a tirarem maior partido da ocupação do solo. Não há uma palavra para áre­as de lazer ou desporto, para a rede de transportes urbanos, para o reforço das redes de água e esgotos, para as vias de comunicação, para tudo quanto, afinal, humaniza uma cidade e reforça a sua identidade. Pelo contrário, é o império do betão em toda a sua agressividade, é o desenvolvimento sustentado do Montijo posto em risco.
Não admira que assim acon­teça. A gestão das cidades torna-se, dia a dia, tarefa muito com­plexa, que não se compadece com o empirismo de alguns políticos nem tão pouco com a ausência de instrumentos de planificação e direcção, como sejam, entre outros, os planos de urbanismo, de salvaguarda ou de pormenor, cuja raridade prima no Montijo.
O Partido Socialista bem pode aplicar rios de dinheiro em propa­ganda para fazer crer que tem um conceito sui generis de cidade para o Montijo. Será em vão, porque a cruel realidade mostra-nos que a nova Reboleira está para breve e, neste caminho, ainda havemos de suspirar por... Almada.

Rui Aleixo
NG 24.11.2000


Um comentário:

  1. Em alguns concelhos os executivos puseram-se a jeito para os construtores e toda a plêiade ligada à urbanização retirar partido dos novos espaços. Desde proprietários de terrenos próximos das cidades, então requalificados como urbanos, e antes zonas agrícolas ou de protecção ambiental, até engenheiros, arquitectos, gabinetes de estudo de mercado, mediadores, bancos e bandos de intermediários, toda esta gente descobriu o Eldorado com as novas edificações. A ganância sobrepôs-se ao interesse da vida local ou nacional. Foi um ver se te avias e agora, com o desastre consumado, ninguém é responsável, até porque não há leis que castiguem tais crimes. Não chega denunciar tais erros, porque há sempre alguém com alguma responsabilidade e, por isso, ela dissolve-se na multidão.

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