sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Pic-nic

Ao encontro da natureza

Tempos houve, em Montijo, em que as famílias ou grupos de amigos partiam para o campo ou para beira-rio para desfrutarem a refeição ao ar livre.
Foi um entretenimento que ganhou fulgor no século XIX e foi esmaecendo, dele havendo ainda notícias no início da segunda metade do século XX.
Foto: Manuel Giraldes da Silva.



Os pic-nics realizavam-se, preferencialmente, em Rio Frio, Atalaia e na Praia de Montijo (Base Aérea 6).
No pic-nic realizado, em Agosto de 1912, os participantes cumpriram o seguinte programa:
1.ª Parte - 1H00 – Retumbante alvorada com girândolas de foguetes e vinte e uma salva de morteiros. Entrega solene na sede do «Grupo Musical» dos apetitosos farnéis que serão condenados à «guilhotina» no pitoresco sítio do Montijo.
5H00 – Partida da «caravana», subindo aos ares inúmeras girândolas de foguetes. O trajecto até ao Montijo (B.A. 6) será feito pela beira-mar.
«Chegados lá e convenientemente acomodados os ginetes, partida para a praia em vistosa marcha e onde terá lugar o tradicionalíssimo banho, ao que se seguirá o atromblement, sob as frondosas sombras do pinheiral».
2.ª Parte – Grandioso cortejo, acompanhado da tuna do Grupo que irá cumprimentar os proprietários da quinta. Audição musical e um acto de «Folies Bergeres»-
Aparatosas cavalhadas, corridas de sacos, carneiros, bicicletas, fitas, motocicletes e por fim será disputada a célebre «Maratona».
Hora de descanso: Sesta (2 horas).
2.º Banho – Jantar às 14H00, ao qual se seguirá a série de brindes, café e licores. – Fotografia.
Regresso pela mesma via. Ao chegar à vila será organizada uma vistosa e fascinadora Marcha «aux-flambeaux», que percorrerá as principais ruas.
Foto: Manuel Giraldes da Silva.



Nem todos os pic-nics seriam tão elegantes e elaborados, mas as famílias não deixavam de «ir para os campos comer as suas merendas», sobretudo por altura do Dia dos Prazeres e do Dia da Espiga.
 Em 1908, noticiava um jornal: «Foi quinta-feira passada o dia da tradicional espiga, saindo muito povo desta vila, em burros, de carro e a pé, sendo este ano o lugar de Sarilhos Grandes o ponto mais concorrido. Por todas as estradas se viam bandos de populares, que, não contentes com a espiga governamental, vão procurar outra nos campos.
Consumiram-se algumas pipas de vinho e devoraram-se avultados farnéis. À sombra dos arvoredos viam-se muitas famílias tomando o fresco.»
Foto: Arredores de Montijo. Colecção particular. 














Na segunda metade do século XX, ainda se procurava a Paria do Montijo para a realização de pic-nics. O grupo de jovens montijenses a caminho da Praia do Montijo onde realizou um pic-nic e pernoitou.
Foto: Colecção particular.



Naquele tempo, os coelhos abundavam naquela área. Esfolam-se os coelhos para o petisco.
Foto: Colecção particular.



Não faltava a animação, que «A Primavera vai e volta sempre, a juventude vai e não volta mais». Carpe diem.
Foto:Colecção particular.



O pic-nic foi fonte de inspiração para o belo e sensual poema de Cesário Verde, intitulado De Tarde.
De Tarde
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde
[1855-1886]

Foto: Manuel Giraldes da Silva.



 Ruky Luky
























2 comentários:

  1. Quando, para preencher os dias presentes, temos recorrer, com mais frequência que a normal, aos testemunhos do passado é porque falta algo no presente. Estas recordações são momentos belos de convivência e de prazer e, confrontados com as vivências de hoje, que nos dão travos amargos de boca, aumentam as saudades de um tempo mais humano e irrepetível. Belo trabalho este, de nos trazer à luz do dia algo que preenche a alma, e nos dá esperança de ainda ser possível acreditar numa vida colectiva mais amiga e respeitada.

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  2. Estas fotos de meados do séc. XX têm alguns rapazes da minha criação e geração. Assim, numa delas, estão o Joaquim Eduardo tocando banjo e o meu parente António Castanheira e o Tibum, sogro do Engenheiro António ... que está no Departamento das Obras e que é casado com a Solicitadora Ortélia, além de outros que também conhecia. Estas viagens ao passado servem para me recordar que já estou bastante velho.

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