quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Duas Atitudes

                               Aspecto parcial do Cais dos Vapores, no início da década de 60

Montijo já adquiriu, hoje, que uma das medidas mais nefastas tomadas pela Câmara Municipal foi a abrupta deslocalização do cais para o Seixalinho.

Até então, os barcos entravam até ao “centro” de Montijo, agora atracam nos arrabaldes. Ontem, eram a seiva que transportava o progresso e o desenvolvimento ao Montijo, hoje, um braço incapacitado.

A deslocalização do cais não é assunto hodierno. Desde o século XIX que a História regista várias tentativas e pressões para que Aldeia Galega/Montijo perdesse o seu cais, mas até ao executivo liderado pelo Partido Socialista, a partir de 1998, as câmaras resistiram colocando os interesses da comunidade acima dos interesses partidários ou particulares.

No início de 1852, quando se projectou a primeira ligação por barcos movidos a vapor de Lisboa para Aldeia Galega, o governo pretendeu construir uma ponte no Montijo (actual Base Aérea) para “ali aportar o vapor e fazer o embarque e o desembarque, e ser dali o ponto de partida da Estrada de 1ª Classe Lisboa a Elvas e Évora.»

A Câmara Municipal de Aldegalega, ao ser confrontada com a notícia, reuniu-se, convidando 26 influentes cidadãos aldeanos para participarem na reunião, e defendeu uma posição diferente, advogando que «tal medida muito vinha a afectar os interesses dos habitantes da vila e neste caso não convinha que a ponte fosse construída no Montijo, mas que se abrisse a cala para que o barco pudesse aportar em Aldeia Galega».

Para que melhor pudesse fazer ouvir a sua voz e defender os interesses de Aldeia Galega, a câmara municipal deliberou fazer um abaixo-assinado para ser presente ao Rei e nomear uma comissão constituída por respeitáveis aldeanos: Dr. Adriano Simões, Dr. António Virgolino dos Santos Oliveira, Manuel dos Santos Costa, Marcelo Ferreira Lima e João Joaquim Ribeiro das Neves.

Não tendo obtido resposta do Governo e por lhe parecer que o abaixo-assinado não tinha sortido o fim que se lhe desejava e que a ponte de desembarque seria construída no Montijo, a câmara municipal reuniu com a comissão criada para formular o abaixo-assinado para discutirem algumas medidas que pudessem «pôr algum obstáculo para que os trabalhos não prossigam».

Por coincidência, durante a reunião, chegou ao conhecimento da edilidade que se dirigia para a vila «um barco a vapor e que a bordo vinha Sua Excelência o Ministro Secretário de Estado dos Negócios do Reino», encerrando-se então a reunião para que se pudesse receber e cumprimentar condignamente o Ministro.

O representante do Governo trazia boas novas: a ponte seria construída em Aldeia Galega.

Um ano depois o barco a vapor já tinha granjeado a preferência dos aldeanos e, por esse motivo, José Marques Peixinho, em 6 de Julho de 1853, pedia a reforma da Postura das Carreiras das Faluas, «em virtude de terem diminuído os interesses das carreiras, desde que principiaram as viagens a vapor».

As fragatas e as faluas ainda sulcaram o Tejo por mais de um século, mas sucumbiram à voracidade do progresso.

Em 1852, os cidadãos que representavam os aldeanos na Câmara Municipal ouviram e deram voz aos interesses das populações.

A História não se repetiu. Ontem, Aldeia Galega do Ribatejo ganhou e prosperou. Hoje, Montijo perdeu e definha.

Ruky Luky

2 comentários:

  1. Um dos problemas que nos trouxe o sistema democrático é a igualização legítima entre os cidadãos nos seus direitos, mas esquece, muitas vezes, os deveres. Assim, no exercício do seu legítimo cargo para que foi eleito, um autarca, ignorante das raízes do desenvolvimento local, mal aconselhado, sem se aperceber da situação geográfica do espaço que domina, pode decidir sobre transformaçães que arruinam para sempre os espaços que julgam defender. A mudança do barco foi um erro tremendo que arruinou toda a zona histórica de Montijo e que vai culminar com a redução das carreiras, não por maldade, porque os prejuízos, que todos temos de pagar, são insuportáveis. Os moradores de Montijo que se instalaram em zonas novas, fica-lhes mais barato e mais rápido irem pela ponte, se forem 4 num carro, que pagar barco e autocarro. Foi um desastre, mas os responsáveis, por covardia, não querem dar o braço a torcer, porque isso equivaleria a repor algumas situações antigas, especialmente no trânsito e na reabertura de espaços em que este foi vedado. A Praça da República, transformou-se num aborto e é um crime o que nela foi feito.

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  2. E não há a mínima noção das prioridades que se têm de ter.
    Fazem-se obras faraónicas que nada acrescentam, como a da Praça da República, enquanto o Mercado Municipal, agora o pólo principal na dinamização do centro do Montijo, se apresenta num estado vergonhoso.
    Se é certo que, sinais dos tempos, outros espaços comerciais surgiram que atraem os consumidores, compete ao Município a conservação e a modernização de um espaço com as características do nosso Mercado. Não conheço nenhuma cidade no mundo que não tente que este tipo de mercados, alguns até na rua, não se apresente com bom aspecto, coloridos e limpos. Aquilo como está, mete nojo e é uma vergonha.

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