Sede e farmácia da Associação Mutualista N.ª Sr.ª da Conceição - 1961
A história do concelho de Montijo dá-nos a conhecer a existência de um rico movimento associativo de carácter religioso ou corporativo cujo desenvolvimento se intensifica a partir do século XV.
A importância da função e dos interesses religiosos origina a criação de confrarias, instituições de carácter fraternal, cuja acção assentava no auxílio mútuo, mas também em manifestações lúdicas como as festas em honra do padroeiro. São exemplo disso, as confrarias dos Pescadores e dos Barqueiros da Atalaia, ambas já fundadas no reinado de D. Manuel, e as Irmandades da Santa Casa da Misericórdia, de Nossa Senhora da Conceição (Mareantes) e de Nossa Senhora da Purificação, instituídas no século XVI e a do Santíssimo Sacramento fundada em 1720.
O esforço progressivo de laicização e secularização da cultura provocou o aparecimento, em meados do século XIX, de outro tipo de associações. Confrarias e corporações, instituições associativas tradicionais, precedentes históricos das associações, no dizer de Albert Meister, cedem lugar a mais complexos e especializados processos associativos.
No século XIX, o País foi sacudido pelos novos ideais do liberalismo e pelo despertar de um novo tipo de sociedade, assente na associação voluntária interclassista, que visava concorrer para o esclarecimento dos cidadãos e o incentivo à participação social na definição dos destinos da Nação.
O aparecimento de associações mutualistas, culturais e recreativas e outras de cariz político proporcionará o debate de ideias e a difusão dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, fermentados pela Revolução Francesa, operando uma assinalável mudança de valores e de mentalidades.
Assim se passou também em Aldegalega do Ribatejo, que constituiu a primeira Sociedade Patriótica, em 1837, e a primeira Associação Mutualista, em 1872.
As Sociedades Patrióticas constituíram um espaço privilegiado para a discussão dos cruciais problemas políticos da época e ajudaram a formar uma opinião pública favorável ao regime constitucional. Os estatutos delimitavam a composição e os fins destas associações: cidadãos portugueses constitucionais, defesa do Sistema Constitucional e formação do bem da Pátria.
No dia 29 de Março de 1839, no Palácio das Necessidades, a Rainha autorizou e aprovou os estatutos da Sociedade Patriótica de Aldegalega do Ribatejo, «que alguns cidadãos pretendem estabelecer, com o fim de sustentar por todos os meios legítimos o Sistema Representativo».
A partir de 1834 multiplicaram-se as sociedades de recreio e instrução, que responderão à necessidade de ocupação dos tempos livres da pequena e média burguesia, e assistiu-se à proliferação de saraus e academias e à afirmação do teatro «como meio de civilização e de divulgação de novos valores», como escreveu António Reis. Na esteira deste autor, «o cidadão urbano adquire um perfil e um estilo próprios» e vive «dividido entre a ópera e o teatro declamado, o drama histórico ou a comédia, os vários periódicos, o café e o sarau, a leitura do folhetim».
Em Aldeia Galega do Ribatejo foi instituída, em 1854, a Sociedade Recreativa, pólo pioneiro de animação cultural, cívica e recreativa, que teve vida efémera, e, em 1 de Dezembro de 1868, foi fundada a Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro, que se reclamou herdeira da Sociedade Recreativa. Nos termos dos seus estatutos aprovados em 9 de Julho de 1906, a sociedade tinha por fim abrir aulas gratuitas nocturnas de música, abrir aulas diurnas ou nocturnas de instrução primária, de dança de ginástica ou de esgrima, prestar socorros nos incêndios ou em outros quaisquer sinistros e promover tudo quanto fosse necessário ao bem-estar, moralidade e instrução dos sócios, além de se propor criar uma biblioteca e gabinete de leitura e organizar um grupo dramático.
Ate à constituição da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro, Aldegalega não dispunha nem de um teatro público nem duma sala para fins recreativos, conforme se alcança da informação prestada pelo Administrador do Concelho à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino, em Fevereiro de 1862, e confirmada em 1870.
Em 1873, a Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro edificou um pequeno teatro, que resultou da adaptação do salão da sua sede.
Naquele ano, nos dias 23 e 24 de Fevereiro, foram levadas à cena duas récitas por uma companhia de teatro espanhola.
No final do século XIX, a população de Aldegalega divertia-se nos bailes e nas festas religiosas e populares, assistindo às touradas e às entradas, correndo ao teatro e à opereta e, regularmente, recebia o circo de cavalinhos e barracas de arlequins e de panoramas.
Ruky Luky
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