quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Páginas Esquecidas de Montijo

Bailes de Natal

Houve um tempo, na velha Aldegalega do Ribatejo, no raiar do século XX, em que as famílias aldeanas se reuniam, pelo Natal, nos dias 24 e 25 de Dezembro, em animados e elegantes bailes, com regular assistência e franca animação, que se prolongavam até de madrugada.
À luz de archotes, de candeeiros de petróleo ou de acetilene, e ao som do piano ou de uma concertina ou de divertidos conjuntos constituídos por instrumentos de corda e de sopro, os pares rodopiavam elegantemente no salão da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro, do Novo Club, ou em qualquer salão improvisado num armazém de família da «elite da sociedade».
 Os bailes do Natal, do Ano Novo, de Micarene e do Carnaval eram os mais apetecidos, mas qualquer pretexto servia para reunir as famílias num «sarau dramático, literário e musical», que se concluía, usualmente, com um animado baile, «assistido por muitas formosas damas vestidas de ricas toilettes.»
Contudo, eram os bailes de Natal que revestiam de maior solenidade e onde «as senhoras trajavam elegantes toilletes, fazendo sobressair mais ainda a beleza das suas formosuras.»
Naqueles bailes imperava o cottillon que era marcado com a devida antecedência exigindo-se inscrição prévia para a dança, que, usualmente, contava grande número de participantes.
Na noite de Natal de 1906, decorreu concorridíssima e com extraordinária alegria a soirée promovida pela direcção da Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro, auxiliada por uma comissão de cavalheiros da vila, na sua maioria estudantes. O baile começou às 9 horas da noite e terminou às 4H30 da madrugada tendo a comissão organizadora servido chá e bolos às damas e sanduíches e vinho aos cavalheiros.
O cotillon começou à 1,30 e organizou-se com 22 pares, sendo par marcante Álvaro Valente e a Sr.ª D. Cândida Marques.
Segundo um relato da época, «houve marcas engraçadíssimas e de muito efeito. Tocou piano durante o baile, o nosso amigo António Dâmaso Nunes de Carvalho. A sala estava gostosamente ornamentada. (...) Às 10 horas prefixas o mestre-sala, Ex.mo Sr. António Cristiano Saloio Júnior, deu o sinal para começar o baile executando magistralmente ao piano o Ex. Sr. António Nunes de Carvalho. Às 12 horas e meia foi servido pelos cavalheiros que compunham a comissão Ex.mºs Srs. Fernando Ramos, Álvaro Valente, António Cristiano Saloio Júnior, Manuel Paulino Gomes, José Reis, Armando Antunes e mais pelos Ex.mos Srs. Armando Henrique Marques e António Marques Contramestre, que gentilmente coadjuvaram a comissão neste encargo, chá e bolos às damas e mais tarde uma ceia aos cavalheiros.»
Num outro baile, na mesma época, diz a mesma fonte, «às 2 horas começou o cotillon dirigido pela Ex.ma Sr.ª D. Adélia da Veiga Marques e pelo nosso prezado amigo, Ex.mo Sr. Álvaro Campos Valente. As marcas simples, mas de um fino gosto artístico, confeccionadas por gentis damas desta vila e por elas oferecidas à comissão, despertaram o entusiasmo e a admiração da numerosa assistência. O prémio, conferido ao melhor valsista, foi alcançado pelo Ex.mº Sr. Fernando Ramos, que dançou com a Ex.ma Sr.ª D. Beatriz Rodrigues Pereira. Eram 5 horas da manhã quando acabou esta simples mas encantadora festa».
A partir da segunda metade da terceira década do século XX, paulatinamente, os bailes de natal vão esmorecendo. O “baile mandado” de S. Bento substituiria o cotillon, a valsa ou mesmo o corridinho.

P.S.O cotillon era uma dança oriunda de França e inventado por volta de 1700, para ser executada por dois pares, que formavam uma espécie de quadrado, que se trocavam entre si. A partir de 1800, o cotillon evoluiu permitindo a inclusão de mais pares.


Um comentário:

  1. O interessante nestes apontamentos é o recordar como as pessoas, os nossos avós, se divertiam e se relacionavam nas épocas festivas, na sequência de uma vivência que decorria todo o tempo. Recordar é respeitar estes nossos antepassados, aos quais devemos tudo o que hoje somos. Recordar é fazer história e fazer história é uma FORMA INTELIGENTE de continuar vivo. Parabéns aos que continuam vivos, num período em que muitos estão adormecidos, ou, pior ainda. parecem mortos por inacção.

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