Dizem os velhos aldeanos e montijenses que Montijo é uma terra madrasta, querendo dizer que nela singram mais facilmente os forasteiros, que aqui aportam, do que os seus próprios filhos. E eu, que sou forasteiro, reconheço que Montijo tem uma fraca auto-estima que não lhe permite reconhecer quem aqui nasce e singra e, assim, engrandecer-se.
Retirado na “Casa do Artista”, depois de uma carreira brilhante nos palcos portugueses e estrangeiros, colhendo da serenidade e da melancolia dos dias a seiva do tempo, vive um dos grandes vultos da canção nacional, o montijense António Mourão.
Apagaram-se a luzes da ribalta, mas não se esfumou essa voz sempre lembrada num tempo que não volta para trás.
Estes e outros sucessos foram registados em mais de uma vintena de álbuns. Destacam-se os títulos É Sempre Sucesso (1968), Folclore das Províncias (1970), Meu Amor, Meu Amor (1971), Se Quiseres Ouvir Cantar (1973), Oh Razão da Minha Vida (1984), Não Há fado sem Verdade (1989, Movieplay) ou as coletâneas Álbum de Recordações (1984) e Oh Tempo Volta para Trás (1992,Polygram).
Apesar de ter sido muito premiado e acarinhado pelo público, António Mourão acabou praticamente por se retirar do mundo artístico nos anos 90, evocando uma certa desilusão com o meio musical português.»
De António Mourão registou o jornalista Carlos Castro: «Era referenciado como ‘o fadista de charme’. Sabia aliar a forma do seu canto com uma postura elegantíssima. Na sua figura de homem bonito e no modo como se vestia. Ele era um caso. Fala-se de Mourão como um ícone. Muito reservado e tímido era um ser muito especial. Detestava a vulgaridade ou cair no ridículo. Talvez por isso mesmo se tenha retirado no auge da sua carreira.»
Ruky Luky
Ó Tempo Volta para Trás
A Severa foi-se embora
O tempo p'ra mim parou
Passado foi com ela
Para mim não mais voltou
O tempo p'ra mim parou
Passado foi com ela
Para mim não mais voltou
As horas p'ra mim são dias
As horas p'ra mim são dias
Os dias p'ra mim são anos
Recordação é saudade
Recordação é saudade
Saudades são desenganos
As horas p'ra mim são dias
Os dias p'ra mim são anos
Recordação é saudade
Recordação é saudade
Saudades são desenganos
Refrão
Ó tempo volta para trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi
Ó tempo volta p'ra trás
Mata as minhas esperanças vâs
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs
Ó tempo volta para trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi
Ó tempo volta p'ra trás
Mata as minhas esperanças vâs
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs
Porque será que o passado
E o amor são tão iguais
Porque será que o amor
Quando vai não volta mais
Mas para mim a Severa
Mas para mim a Severa
É o eco dos meus passos
Eu tenho a saudade à espera
Eu tenho a saudade à espera
Que ela volte p'rós meus braços
E o amor são tão iguais
Porque será que o amor
Quando vai não volta mais
Mas para mim a Severa
Mas para mim a Severa
É o eco dos meus passos
Eu tenho a saudade à espera
Eu tenho a saudade à espera
Que ela volte p'rós meus braços
Fui colega do António Mourão na Escola Conde Ferreira na 3ª e 4ª classes, sendo nosso professor esse homem do Ateneu, a quem o Montijo muito deve, mas que está esquecido, José Margalho Felix Pinto. O professor Pinto levava-nos para sua casa onde nos dava gratuitamente explicações. A sua esposa era irmã do pianista Humberto de Sousa. O nome do Mourão, salvo erro, é António Manuel Dias Anaia Pequerrucho. Ele, antes e ir para Lisboa, trabalhou na Gazeta do Sul como paquete e foi empregado de café a Pastelaria Ribatejana, na Praça da República. Foi criado sem a companhia do pai e a mãe era empregada doméstica na família Repas. Alguns anos após os êxitos do António Manuel, um seu meio-irmão, que nunca conviveu com ele, de nome artístico José Mourão, ainda chegou a gravar um disco, mas não teve sucesso. O Montijo devia fazer mais pelos seus filhos e o esquecimento do Mourão é apenas uma amostra da falta de rigor no reconhecimento dos valores que vieram ao mundo nesta terra. A maior sementeira que há em certos lugares é a da inveja e, nesta terra, continua a dar muitos frutos e a crescer desmesuradamente.
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