Existiu um poço de água, na actual Praça 1.º de Maio, em Montijo, que resistiu até ao início do século XX. Foi a primeira fonte de captação e abastecimento de água à população de Aldegalega do Ribatejo mas que obrigava a um aturado vigilância, limpeza e conservação, porque, amiúde, havia queixas de lançamentos de animais mortos e outros dejectos, sobretudo, à medida que se foram diversificando as fontes de abastecimento de água.
O poço aparece já referido no Título das Propriedades Pertencentes à Câmara de Aldeia-Galega Mandado fazer por D. Manuel, em 1498, nos seguintes termos: «Ho ditto concelho há na ditta villa hu poço de que bebe todo o povo, que esta no cabo do lugar em querendo ir para Alcouchete.»
Os poços, os chafarizes e a distribuição privada constituíam então o sistema de distribuição de água à população. Os proprietários das carroças de distribuição garantiam que a água distribuída era «potável quimicamente considerada, pura e higiénica.»
«Água e luz! Supremas aspirações de uma terra civilizada…» exultava o articulista da Gazeta do Sul, jornal local, na véspera da data inaugural da rede de abastecimento de água – 29 de Junho de 1942.
Grandiosos festejos comemoraram a “Inauguração solene da luz eléctrica e águas.” A inauguração «constou da abertura de um marco fontenário para consumo público, na Praça da República, seguida do abastecimento geral da vila.»
Noticiou a Gazeta do Sul: «Montijo acaba de viver os seus maiores dias, com festas promovidas para a inauguração dos dois grandes melhoramentos: água e luz e ainda duas novas viaturas dos bombeiros voluntários.
Visitaram Montijo diversas entidades oficiais além de S.Eas. os srs. Governador Civil e representante do ilustre Ministro das Obras Públicas. Para trás ficavam os velhos poços, os aguadeiros, as grandes pipas transportadas carroças puxadas por bestas e a rivalidade entre os proprietários das empresas de distribuição de água ao domicílio. Um deles, o então presidente da câmara, António Joaquim Marques, apesar de saber que ia desferir um golpe fatal no seu negócio, foi um dos maiores entusiastas do estabelecimento da rede de água.
Foi em Dezembro de 1937 que, pela primeira vez, «estralejaram foguetes nesta vila e iluminou-se a fachada da Câmara Municipal, em sinal de grande regozijo pelo deferimento ministerial ao empréstimo para a realização do abastecimento de águas em Montijo», cujo projecto tinha sido apresentado, no ano anterior, pelo Eng.º Ricardo E. Teixeira Duarte.
Projecto inicial do depósito de água
O abastecimento de água tornou-se um investimento prioritário porque devido à má qualidade de água que se consumia, Montijo era então «uma terra de maior endemicidade tífica do distrito de Setúbal.»
António Joaquim Marques, que presidiu aos destinos do município entre 1937 e 1945, apesar dos tempos difíceis que o País atravessou, investiu nos últimos cinco anos do seu mandato «cerca de 5 000 contos em melhoramentos: o abastecimento de água à população importou em 2 00 contos; a nova rede eléctrica em mais de 1 000. Só em canos de esgoto enterraram-se para cima de 500 contos. Calçadas novas, reposição de pavimentos e outras obras diversas levaram o restante.»
70 anos depois da inauguração da rede de abastecimento de água à Vila de Montijo o concelho está coberto pela rede pública, salvo caso pontuais, que resultam da especificidade da divisão geográfica do município e da ocupação do solo em algumas zonas rurais.
Ruki Luki
A isto chama-se construir e divulgar história. Parabéns ao autor, que ao trazer à ribalta todos este acontecimentos, devidamente documentados, contribui para o enriquecimento desta cidade que o adoptou em boa hora.
ResponderExcluirTrabalho espetacular, de partilha da historia, muitas vezes desconhecida. Como diz o Prof. Tapadinhas, contribui para o enriquecimento desta cidade. Muitos parabéns.
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