Os Primeiros Tempos
O Tombo do Hospital, Albergaria e Capela de Aldeia Galega do Ribatejo, datado de 1489, contém referências ao «provedor do hospital, capela e albergaria, provando a existência daquela instituição anteriormente à data do referido documento.
Não é possível precisar a data da fundação da
Santa Casa da Misericórdia de Aldegalega do Ribatejo.
O padre António de Carvalho diz, na sua
“Corografia Portuguesa”, de 1709, que a «Igreja da Misericórdia se fundou no
ano de 1553”, presumindo-se então que a existência da Irmandade é anterior
àquela data.
O Padre Luís Cardoso, no “Dicionário Geográfico”,
de 1745, toma aquela data como a da fundação da instituição, e o mesmo
aconteceu, em 1904, com Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, em “Portugal –
Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico,
Numismático e Artístico”.
A “Relação das Irmandades e Confrarias Existentes
no Concelho de Aldegalega do Ribatejo”, de 1841, regista o ano de 1512 como
tendo sido a data da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do
Ribatejo, mas a Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do
Ribatejo, na resposta ao questionário formulado pela Administração do Concelho,
de 22 de Maio de 1885, indica o ano de 1520 como o da fundação da Confraria.
A evolução da Albergaria para a nova Irmandade,
cujos princípios se confundem, não preocupou os irmãos da Misericórdia que,
mais ocupados em fazerem o bem e a salvarem as almas, se limitaram a «guardar
compromisso tirado pelo da Confraria da Misericórdia de Lisboa, cabeça que
emanam todas as demais casas da Confraria de Misericórdia deste Reino de
Portugal», apenas em 1589, que obteve confirmação real em 1625.
Embora tivesse começado as obras de edificação do
seu templo alguns anos antes, a Irmandade recebeu carta régia de D. Sebastião,
de 17 de Julho de 1571, que a autorizava a construir a igreja. Em 1591, estava
concluída a construção do novo hospital.
A edificação da Igreja, do Hospital e a doação da
Bandeira da Irmandade ficou a dever-se ao empenho, dedicação e benemerência de
D. Nuno Álvares Pereira, António Gama Lobo e D.ª Antónia da Silva, provedores,
e de Isabel de Almeida, esposa de D. Nuno Álvares Pereira.
A confraria era administrada pelo Provedor,
«homem fidalgo, honrado, de autoridade, virtuoso, de boa fama e humilde e
sofrido pelas desvairadas condições dos pobres», que era assistido pela Mesa
constituída por doze irmãos, que entre si repartiam os cargos de escrivão,
arrecadador de esmolas, visitadores e mordomos da capela, do hospital, da bolsa
e dos presos.
A Irmandade reunia-se em assembleia geral quatro
vezes por ano: no dia da Visitação de Nossa Senhora, para eleger o Provedor e a
Mesa; no dia de Todos-os-Santos, para acompanhar a procissão que recolhia as
ossadas dos que «não estavam em (chão) sagrado»; no dia de S. Martinho, pela
missa e pregação e saimento que se fazia por todos os irmãos defuntos; e na
quinta-feira de Endoenças, para a procissão dos penitentes.
O
Provedor e os Irmãos deviam promover a amizade entre as pessoas desavindas,
principalmente nos dias de Quaresma por serem de penitência, além de serem
obrigados a cumprirem as obras de misericórdia [Corporais - Dar de comer a quem tem
fome, Dar de beber a quem tem sede,
Vestir os nus, Acolher os errantes,
Visitar os doentes, Libertar os prisioneiros
e Sepultar os mortos; Espirituais - Dar bom conselho a quem
pede; Ensinar os ignorantes; Corrigir os que erram; Consolar os que estão
tristes; Perdoar as injúrias; Suportar com paciência
as fraquezas do nosso próximo; Rogar a Deus pelos vivos e pelos
defuntos].
Assim era a Santa Casa da Misericórdia de Aldeia
Galega do Ribatejo [Montijo], nos primeiros séculos da sua existência.
É uma maravilha que haja quem se incomode ou tenha o prazer de retirar da poeira dos tempos todas estas memórias que são as raízes dum povo. Infelizmente vivemos um período, fruto do desrespeito pelo passado, em que só interessa o presente colmatado de diversos egoísmos. São fases que sempre foram ultrapassadas e que são naturais e necessárias para um confronto de ideias que acaba sempre por, mais cedo ou mais tarde, dar a vitória ao bom senso e ao progresso.
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