O Valente Soldado Lúcio Lopes Júnior
Lúcio Lopes Jr. 1.º Cabo Ciclista de Infantaria n.º 2 |
«Ninguém
ignora que a Alemanha declarou guerra a Portugal, e que o Governo da República,
interpretando nobremente o sentir do Povo, aceitou o desafio.
Estamos
pois em guerra. Para
os campos de batalha em defesa da Liberdade e do Direito vão dentro em breve
partir os filhos de Portugal.
Vão
cumprir o mais nobre dos deveres...», escrevia, em Maio de 1916, o jornal
aldeano “A Razão”, ligado ao Partido Republicano Democrático.
Para
a guerra, para terras de França, partiram também os filhos de Aldegalega , e
para o esforço de guerra deu a Banda Democrática o seu contributo participando
activamente na Junta Patriótica de Aldegalega, criada com a missão de recolher
donativos e dar auxílio às famílias dos soldados mobilizados, ou organizando
ela própria bandos precatórios, cujo fim era angariar donativos para que aos
soldados que partiam para os campos de batalha não faltassem os indispensáveis
confortos.
Para
a guerra partiu também a franzina figura de Lúcio Lopes Júnior, 1,58m de
altura, que viria a ser um dos heróis esquecidos da Batalha do Lys.
«Eram
4H15 do dia 9 de Abril (1918) – noite ainda – quando, subitamente, uma
violentíssima chuva de granadas de todos os calibres inundou todo o sector Português
(...).
Por
força dos bombardeamentos e das missões, as unidades foram obrigadas a
fraccionar-se; muitas dessas fracções, na marcha para os seus destinos, alguns
a grande distância, avançando através de um nevoeiro que os cegava,
constantemente fustigados pela metralha e perseguidos pelos gases, com mortos e
feridos, acabaram, exaustos, por instalar-se onde conseguiram chegar, e aí
cumpriram, como lhes foi possível, o seu dever (...).
Apesar
do abatimento físico e moral em que se encontravam, apesar do seu reduzidíssimo
efectivo em praças e oficiais, a Infantaria (...) levou a defesa das
trincheiras até onde era humanamente possível (.)».
Entre
esses homens encontrava-se o ordenança ciclista, o aldeano e sócio da Banda
Democrática 2 de Janeiro, Lúcio Lopes Júnior, que se bateu até ao limite das
suas forças, e acabou feito prisioneiro pelas tropas alemãs.
Quando,
em Aldegalega se soube que, no dia 11 de Novembro de 1918, se tinha assinado o
armistício entre as Forças Aliadas e a Alemanha, logo a Banda Democrática «saiu
à rua com muito povo» para vitoriarem a queda do «Despotismo e da Tirania»,
como titulou o jornal “O Domingo”.
Porém,
com o rolar dos dias, à alegria sobrepôs-se a preocupação porque durante dois
anos, ninguém soube dizer da sorte do soldado Lúcio. As notícias eram
desencontradas. Presumiram-no morto. Mas, no dia 4 de Janeiro de 1919, pelas
22H00, na estação ferroviária do Pinhal Novo, um grito emocionado –“Eh! Lúcio”
– proferido em uníssono pelo grupo de consócios da sua Banda Democrática, que o
aguardavam, anunciava o regresso do soldado à sua terra natal.
A Banda recebeu com júbilo o «primeiro prisioneiro de guerra nosso patrício» e, no dia 23 de Fevereiro, homenageou-o com um jantar servido pelo Hotel República, que foi animado pela actuação da filarmónica, a que se seguiu uma sessão solene e encerrou-se com um baile «que decorreu animadíssimo, dançando-se até de madrugada».
A direcção aproveitou o ensejo para descerrar «o retrato de Lúcio Lopes Júnior, com o seu fardamento de campanha de 1º Cabo Ciclista de Infantaria nº 2», enaltecendo o homenageado «como cidadão (que é) um exemplo de honestidade, de trabalho e de bondade, conjunto de qualidades que o acompanha e faz que a sua pessoa seja querida em todos os meios».
Lúcio
Lopes Júnior nasceu em Aldegalega do Ribatejo, no dia 12 de Novembro de 1893, e
veio a falecer no Montijo em 4 de Março de 1981.
Funileiro
por devoção e funcionário público por profissão, foi uma figura exponencial da
Banda Democrática, pelos vários papéis que desempenhou na vida da instituição,
nomeadamente nos grupos de teatro, na comissão pró-sede e na direcção, que
chegou a presidir entre 1941/3.
Como
reconheceu o jornal “Gazeta do Sul”, Lúcio Lopes Júnior foi «um democrata
convicto, (uma) figura geralmente estimada e considerada, quer pelos seus dotes
de bom trato quer pelo seu valor social».
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