O Senhor do Cinema
Rosildo R. Oleiro, o senhor Rosildo, figura estimadíssima de Montijo. |
Há homens capazes de transformar em sereno amor a
mais ardente paixão, confundindo-se com a coisa amada.
Rosildo Rodrigues Oleiro começou a trabalhar no Cinema-Teatro
Joaquim de Almeida, em Janeiro de 1959, e, no dia 31 de Maio de 1991,
encerrou-lhe as portas. Continuou, no entanto, a ser o leal servidor do cinema,
conservando-o intacto até ao momento em que foi adquirido pela Câmara Municipal
de Montijo.
Tendo começado a trabalhar com a categoria de
fiel, passou a fazer as projecções nas esplanadas, durante o Verão e, quando
vagou o lugar de projeccionista, passou a desempenhá-lo com elevada competência
e brio.
Ao longo dos 40 anos que serviu o Cinema, o sr.
Rosildo, como simpática e carinhosamente é tratado pela população de Montijo e,
muito especialmente, pelos cinéfilos, aprendeu, um a um, os cantos da casa,
descortinou as manhas dos engenhos, identificou-se com a sua “arte”, a de se
manter fiel ao cinema, entusiasmando-se, como se a casa fosse sua, com os
grandes sucessos que o cinema alcançou, mas penando de igual modo com os
fracassos.
Foi mais do que um projeccionista. As companhias
de teatro, que utilizaram o cinema, não deixaram de distinguir o fino trato e a
disponibilidade total deste trabalhador, que nunca olhou para o relógio, mesmo
quando o trabalho de montagem se prolongava pela noite dentro, para logo
recomeçar às primeiras horas da manhã.
É a memória do Cinema-Teatro Joaquim de Almeida.
Acompanhou a evolução da 7ª Arte, entre uma bobine e outra, que substituía de
vinte em vinte minutos. Viveu a crise do cinema e acalentou sempre a esperança
de o ver renascer, mas surpreendeu também os primeiros namoricos; viu gerações
crescerem entre o 3º Balcão e a Plateia, e tornou-se figura incontornável da
História do Cinema-Teatro Joaquim de Almeida.
Pessoa humilde, nunca foi figura de cartaz, mas
será sempre, por excelência, o cartaz maior do Cinema-Teatro Joaquim de
Almeida, de tal sorte que, se se não quiser violar a fronteira da Justiça, não
se poderá evocar a História deste cinema sem uma referência ao papel do senhor
Rosildo.
São homens da dimensão de Rosildo Rodrigues
Oleiro, capazes de levar a Carta a Garcia, que garantirão sempre o brilho
intenso das Luzes da Ribalta. São estes homens, que vivem a poesia da vida no
encantamento da sua profissão, que elevam o espectáculo à dimensão de Arte.
O senhor Rosildo e sua esposa, Senhora Dª
Lourença Maria Anjos Ferreira, que continuaram a cuidar do cinema, após o
encerramento, quando a Câmara Municipal de Montijo adquiriu o edifício, em
1999, entregaram as chaves e retiraram-se com a profunda satisfação do papel
cumprido. Sabiam que, se naquele momento se quisesse retomar as sessões
cinematográficas, bastaria bobinar o filme e ligar o interruptor da máquina.
O
Cinema-Teatro Joaquim de Almeida tinha ficado confiado a boas e honestas mãos.
Obrigado!
Ruky Luky
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