Servia, assim, a insígnia para identificar o andante na sua missão de
convocar os irmãos.
As bandeiras passaram a ser concebidas em cada Misericórdia consoante
as aptidões dos artistas encarregados da obra, o que deu em resultado não se
saber quem representava cada uma das figuras retratadas.
No inventário de 1587 [?] regista-se a existência de “7 insígnias
pretas”, mas quatro anos mais tarde, em 1591, o escrivão Fernão Rodrigues
Pimental nada assinala.
Figuração do rei e da sua esposa. Atrás vêem-se dois homens, um imberbe e outro barbado. |
Um ano depois, em 28 de Junho de 1592, D. Antónia Silva, mulher do
Provedor António da Gama de Mendonça, pagou aos mesmos pintores a quantia de
100 cruzados, por pintarem «o painel do meio e doirar as colunas e friso de
cima o qual entrou no contrato que temos feito à Misericórdia.»
D. Antónia da Silva, que foi provedora da instituição, presenteou-a com várias dádivas, entre elas, a bandeira, que custou 45$000 réis, bem como as 7 insígnias.
Não é possível precisar a data em que as insígnias foram pintadas, mas
se admitirmos a probabilidade de terem sido executadas pelos mesmos artistas
que decoraram o retábulo, então, poderemos concluir que foi no ano de 1592.
No inventário, de 10 de Julho de 1606, regista-se a existência de «1
insígnia de Nossa senhora da Piedade que serve no altar no tempo da Quaresma, 7
insígnias das Endoenças e 2 bandeiras uma da Irmandade com sua fronha em que
está metida e a cruz em cima com sua fronha de tafetá preto e outra bandeira
ordinária metida em sua fronha.»
No lado esquerdo da bandeira, pontificam um papa, de mãos unidas e com a tiara deposta no solo, um frade trino, e dois outros homens de posição social indiferenciada.
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No inventário de 1653, aparecem referidas «duas bandeiras, uma da
Irmandade com os seus cordões e borlas de oiro e sua capa e outra bandeira dois
acompanhamentos ordinários e as sete insígnias dos passos da Paixão de Cristo
para a procissão das Endoenças.»
O escrivão que, em 1666, fez o inventário, descreveu «duas bandeiras,
uma nova da Irmandade com sua franja de ouro e quatro cordões pendentes do
mesmo e umas borlas e outra bandeira velha dos acompanhamentos ordinários.»
Até ao final do séc. XVIII encontram-se referências às duas bandeiras
da Irmandade, a que foi oferecida por Dona Antónia da Silva, provavelmente
reproduzindo fielmente a Bandeira da Misericórdia de Lisboa, e a outra dos
“acompanhamentos ordinários”, que saía por altura das procissões e dos
funerais. Da primeira nada se sabe. Ao tempo e aos homens só resistiu o pendão
representando, no anverso, Nossa Senhora da Misericórdia, e, no verso, Nossa
Senhora da Piedade, continuando esta a enriquecer o património da Santa Casa da
Misericórdia de Montijo.
O inventário dos bens da Santa Casa, realizado em 1807, regista a
existência de «duas bandeiras a Real e a dos Actos Comuns», além dos sete
painéis da paixão. A bandeira real perdeu-se também.
Em 1768, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa criou o seu primeiro
selo, que passou a ser adoptado por todas as congéneres, que reproduzia dois
escudos encimados pela coroa real. Um dos escudos tem gravadas duas tíbias em
aspa encimadas por uma caveira e esta encimada por uma cruz alta com raios nos
cantos e acompanhada da abreviatura da Misericórdia, tendo o da direita as
letras Mi, e o da esquerda as letras Za, ou as letras M, do lado direito, e ZA
do esquerdo.
A Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo também
adoptou este selo e o terá transporto para a bandeira. A esta refere-se o
inventário de 1807, aquele está a autenticar alguns os ofícios da instituição,
por exemplo, o de 5 de Março de 1891.
O selo identificará a Santa Casa da Misericórdia de Aldeia Galega até
ao início do século XX.
Os nossos agradecimentos à Santa Casa da Misericórdia de Montijo pela cedência das imagens.
Ruky Luky
Este trabalho de divulgação é digno do maior realce, tanto mais que, de um modo geral, o povo atravessa um período de descrença. É preciso agarrar as raízes para nos segurarmos e o esforço de colocar estas mais perto de nós é enriquecedor e benévolo. Parabéns acompanhados pelos meus agradecimentos.
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