terça-feira, 17 de abril de 2012

Cultura, Liberdade e Abril

O afastamento das populações do debate público contribui para o estiolamento cultural e cívico de Montijo. Quem consultou a população acerca da alteração da Praça da República? Quem ouviu a população sobre a deslocalização do cais? Quem discriminou barbaramente um jornal local? A cultura democrática é uma prática quotidiana não mero jogo verbal por mais encantador que seja o discurso.
Acredito que onde esteja instalada uma tribuna, onde se abra uma janela de Liberdade, onde se trace uma fronteira entre a mordaça e o diálogo é nosso dever de cidadania participar lúcida e serenamente, aproveitando todas as ocasiões para afirmar a convicção dos nossos ideais e buscar na discussão sincera a resposta ao porquê das coisas.
Montijo está culturalmente exangue. O panorama cultural é sombrio, o futuro preocupante. Esta é «uma terra onde se estão a cortar as árvores para que não façam sombra aos arbustos.» (Luís de Sttau Monteiro)
Soam, há muito, as trombetas da injustiça e do medo e «os dias que vão passando dizem à boca pequena que até o silêncio chora.» (João Dias)

Mas a hora, todas as horas serão de serenidade, que nos conduzirá aos novos caminhos iluminados pela luz da tolerância, essa tolerância que, «é antes de mais o respeito profundo pelos direitos e liberdades dos outros, mas também o resultado de um sentimento de benevolência para com o próximo.» (Latino Coelho)

O monolitismo político saiu à rua, instalou-se na praça pública e transformou a cultura em propaganda política. Deitou-se com a mediocridade e persegue já quem ousa dizer não. Amordaça o debate, burocratiza a cultura, atenta contra a identidade concelhia, em suma, a abencerragem política aliou-se ao obscurantismo como forma de sobrevivência.

Ensinou Bento de Jesus Caraça que «Cultura e liberdade identificam-se – sem cultura não pode haver liberdade, sem liberdade não pode haver cultura (…). A cultura deve, em primeiro lugar, dar a cada homem a consciência integral da sua própria dignidade.»» Por isso, Bento de Jesus Caraça proclamava: «Sejamos homens livres dentro do mais belo e nobre conceito de liberdade – o reconhecimento a todos do direito ao completo e amplo desenvolvimento das suas capacidades intelectuais, artísticas e materiais.»

Troou Manuel Alegre:

«Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
Se te apetece dizer não grita comigo: não.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser livre livre livre.»

Livre, porque, «As bocas livres hão-de gritar até ao fim do mundo
QUE SÓ O HOMEM LIVRE É DIGNO DE SER HOMEM!» (Adolfo Casais Monteiro)

Ruky Luky

Um comentário:

  1. Não chega gritar. É preciso fazê-lo com serenidade e objectivo. Estamos no estádio de empobrecimento material e intelectual e é preciso ter consciência disso. O Montijo é uma amostra do que é actualmente o país. Terá ainda de bater mais no fundo para que possa ressuscitar. A democracia não chega, se é feita a "troche-moche". Tem de haver consciência de cidadania e isso pertence à interioridade das pessoas. Esta peça de recorte literário é um exemplo da presença de um cidadão. A razão há-de vencer como é lógico, mas, por vezes, chega demasiado tarde para alguns. Contudo, o essencial é que chegue.

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