Olá como vais? Sim, logo mais falamos.... |
Olá, como vais? Eu vou indo, e tu? Eu estou bem, logo mais falamos…
Os encontros eram reais, mas breves, e já marchávamos ao encontro sabe-se lá de quê. Tínhamos pressa, temos pressa, muita pressa, tanta pressa que num instante alcançamos o derradeiro apeadeiro.
Onde nos encontraremos, hoje? No teu Ipod ou no meu Ipad? No Orkut ou, para sermos mais breves, no Twitter? Trocaremos algumas palavras num chat? Melhor, no skipper para ouvir a tua voz, ver o teu rosto, vibrar com as tuas gargalhadas?
Num canto da casa, esquecido, jaz o velho telefone, que já ninguém utiliza – a crise obriga a utilizá-lo novamente. Longe parece o tempo em que se aguardava uma eternidade pela sua instalação. Mais longínquo parece o tempo em que o telefone do vizinho era partilhado, num gesto natural e solidário, porque a notícia era urgente e só vizinho tinha telefone. Obrigado, vizinho, desculpe qualquer coisinha…
Tempo, deixámos de ter tempo para fruirmos o tempo dos nossos amigos, para gozarmos a paisagem, a cidade que se anima, a estação do ano que muda. Deixámos de parar, uns segundos que sejam, para sentirmos o cheiro da terra regada pelas primeiras chuvas e, de tão distraídos, já não nos anima o canto dos pássaros, nem nos colorimos com o arco-íris que, algures, enfeita a cidade.
Dançar? Dançar à chuva na cidade ensandecida pelo fluir do tempo? Só os doidos dançam, só os doidos da cidade desperdiçam o seu tempo a dançar. Dançam porque ainda sonham na cidade que já não navega além das águas do Tejo.
Queremos ganhar o mundo, mas que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Não sufocam a palavra, não a tornam infrutífera os enganos e as ambições das riquezas?
Encontrámo-nos, há dias, numa rua movimentada. Sorrimos na realização da esperança do encontro materializado. Franqueámos as portas da pastelaria e ali ficámos a saborear o café, rodeados de silêncio, desperdiçando tempo, esse novelo cerzido para comunicarmos (agora) virtualmente.
Ruky Luky
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